3 de Dezembro- Gonçalo Moleiro no Teatro da Garagem. Entrevista

Gonçalo Moleiro, jovem artista e arquitecto de Sintra e membro da direcção da Alagamares, vai expor os seus trabalhos no Teatro da Garagem, em Lisboa, a partir de 3 de Dezembro, sob o lema “Não há papéis secundários na vida das cidades”.

O interesse pelo desenho surgiu desde muito pequeno “deve ter a ver com os meus avós, a minha avó materna era pintora e a minha avó paterna estava ligada ao artesanato e fazia trabalhos muito minuciosos” referiu em tempos.

Actualmente a exercer arquitectura, o que lhe toma mais tempo, continua, no entanto, a ter a paixão do desenho sempre presente.Os desenhos do Gonçalo são únicos e retratam o seu modo particular de ver sobretudo as cidades. Expôs já em Sintra no Cantinho da Várzea e na Adega Viúva Gomes.

Não gosto de simplesmente olhar para a paisagem e registá-la, temos sempre pormenores nossos no desenho. Gosto muito mais de quadros que permitam uma maior interpretação, e que permitam uma viagem maior” afirma.

Nos seus desenhos é possível ver muitos registos de edifícios e casas, aos seus desenhos chama de fragmentos, e neles podemos ver retratados pessoas ou edifícios conhecidos, mas há também pormenores de casas que o Gonçalo vai observando na linha de Sintra.

“Na imaginação há um planeamento relativo, sei qual será a configuração geral do desenho, mas depois tudo o resto é na hora”.

Gonçalo Moleiro concilia o gosto pela arquitectura, explorando no desenho e nos fragmentos, pormenores das cidades, mas também das pessoas que fazem parte delas, como alguns dos desenhos que mostrou dos seus blocos de viagem. Falou connosco recentemente, deixando nó agora aqui o seu testemunho:

O Gonçalo é um jovem arquitecto e artista plástico. Como vê a paisagem das nossas cidades e em que sentido a mesma o inspira nos seus trabalhos, artísticos e profissionais?

A paisagem das nossas cidades é, como o próprio termo, muito vasta. Constitui um elemento que, por diversas razões, é parte integrante do trabalho do arquitecto. A paisagem contém inúmeros pontos de partida possíveis para a elaboração de um projecto de arquitectura e, invariavelmente, sofre modificações – espera-se que benéficas – com a sua construção. Acontece sensivelmente o mesmo com o que desenho mas, naturalmente, com muito mais leveza e despreocupação. A paisagem oferece, assim, a matéria que redesenho de modo a expressar, de um modo crítico e simultaneamente bem-humorado, aquilo que me prende e, algumas vezes, que me preocupa.

Tem igualmente uma ligação forte com Sintra. Quer falar-nos um pouco dela e das coisas boas e menos boas que nela desvenda?

A minha vida foi passada entre a Sintra urbana e a rural. Poder trabalhar em arquitectura nesta zona é, por essa razão, um enorme prazer. Aquilo que Sintra tem de bom é notório e muito falado. Preocupam-me o envelhecimento da Vila – tanto a nível humano como edificado -, a ausência de planeamento da zona mais urbana e as suas consequências na vida de quem hoje a habita ou a falta de identificação das pessoas com o sítio onde vivem. Há ainda as eternas questões do trânsito e do estacionamento no Centro Histórico, por exemplo.

Quais foram até agora os momentos mais marcantes do seu percurso artístico e profissional?

O percurso é curto. O trabalho tem sido, no entanto, muito intenso e sempre com o objectivo de poder, cada vez mais, contribuir para que o mundo à nossa volta se torne mais acolhedor. Tudo o que me faça sentir nesse caminho é marcante.

 A arte deve ser interventiva? E estará a sê-lo?

A arte deve ser o que o artista quiser que seja. Posso dizer, no entanto, que sempre me interessou a Arte que sabe fazer referências ao seu tempo, que inequivocamente lhe pertence e que, de um modo directo ou indirecto, nos põe em contacto – por vezes de um modo duro – com a realidade que vivemos, criticando-a. Essa vertente existe, naturalmente. Isso é notório nos mais diversos ramos.

Quer falar-nos um pouco da exposição que abre no dia 3?

“Não há papéis secundários na vida das cidades” estará patente no Teatro da Garagem, na Costa do Castelo, de dia 3 de Dezembro – a inauguração é a partir das 18:30 – até 3 de Janeiro. O título surgiu da peça “Festas de Garagem” do Teatro da Garagem. O nome remeteu-me para importância que todos temos, de algum modo, na vida da cidade. Transportei essa importância para o universo da exposição e convidei alguns amigos para participar, escrevendo a sua interpretação dos desenhos que irei expor. Existe ainda um filme, realizado também por amigos, que desvenda a questão da paisagem como matéria prima, fazendo a ponte entre o que vejo e o que desenho. Estas participações foram extremamente importantes e enriqueceram muito o conteúdo da exposição. Aproveito para agradecer a todos os envolvidos.

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