A Sessão de Lançamento do novo livro de Luís Filipe Sarmento, “Gabinete de Curiosidades”, com chancela Poética Editora, está agendada para o dia 8 de abril, às 17 horas, na Pastelaria Mexicana, Praça de Londres, Lisboa.
A obra está dividida em três partes com “Generalidades”, 24 poemas; “Hipermodernidades”, 24 artigos ensaísticos e “Raridades”, ficção com 24 micro capítulos.
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«Apesar das tempestades, não chove cá dentro nem dentro de nós; são regalias desta interioridade livre de saber quem somos e onde estamos, o que queremos, mas sem saber para onde vamos. Como tu gostas de estar: à revelia dos formatos, dos padrões, dos modelos, das normalizações, como se com isso quisesses constantemente afirmar com veemência que não pertences a nenhuma categoria. É verdade, sou uma mulher que vive fora dos seriados comerciais; basta olharmos em volta para constatarmos o fracasso dos paradigmas concebidos para a globalização; já reparaste que o capitalismo criou bitolas em tudo idênticas à despersonalização do indivíduo que criticaram anos a fio às sociedades ditas comunistas? É verdade! Sob a aparente capa da liberdade de escolha, num tremendo exercício falacioso, a máquina produtiva impôs aos consumidores, através de apelos sugestivos e sedutores, criando a falsa realidade da diferença quando na verdade estava a produzir sequelas, modelos de comportamentos através de consumos regularizados de produtos fabricados em massa para que não houvesse lugar à discrepância, à divergência, à discordância; e, ainda assim, souberam manipular singularidades e integrá-las nas sociedades cosmopolitas como um aspecto folclórico; o exemplo flagrante disso mesmo é Nova Iorque; na «Big Apple», as discrepâncias, as divergências, as discordâncias e as diferenças fazem parte do espectáculo cuja encenação é controlada à distância por quem sabe que o lucro da normalização do aparentemente inesperado é gigantesco; repara, meu querido, em todos os elementos que, associados entre si, remetem para a exuberância, são adquiridos nos armazéns que padronizam gostos; falamos do princípio da noção de moda para que os produtos escoem dos depósitos ainda que criem aberrações estéticas; são tempestades violentíssimas sobre as pessoas que deixam de ser indivíduos criativos para integrarem uma colectividade anónima e amorfa com a ilusão que decidem sobre aquilo que já está previamente decidido para o seu consumo; e quando pensam que são livres e têm liberdade de escolha são conduzidos como uma manada pelos sacerdotes dos templos de consumo aos altares dos absurdos; ao conduzirem os povos para a ignorância, os evangélicos da insciência protegem o património adquirido; a sua luta é contra o conhecimento e nunca contra a tecnologia e ao querem confundir conhecimento com tecnologia criam a monumental falácia que produz ignorantes tecnologicamente bem preparados; bem preparados para continuar a confiscar sem pudor o direito dos povos à preservação do conhecimento e do saber; nesse sentido, toda a efabulação de novos paradigmas nesta lógica de destruição está condenada ao fracasso. Deixemos todas essas tempestades fora de nós.
Segreda-me o narrador oculto que a seguir se despiram»
Luís Filipe Sarmento, «Gabinete de Curiosidades», 2017
Luís Filipe Sarmento nasceu a 12 de Outubro de 1956. Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Escritor, Tradutor e Realizador de Televisão. Jornalista, editor, realizador de cinema e vídeo. Professor de Escrita Criativa. Alguns dos seus textos encontram-se traduzidos em inglês, espanhol, francês, italiano, mandarim, japonês, romeno, macedónio, croata e russo. Produziu e realizou a primeira experiência de Videolivro feita em Portugal no programa Acontece para a RTP (Radiotelevisão Portuguesa), durante sete anos. Membro do International P.E.N. Club.Membro da Associação Portuguesa de Escritores. Coordenador Internacional da Organization Mondial de Poétes (1994-1995). Membro do International Comite of World Congress of Poets. Presidente da Associação Ibero-Americana de Escritores (1999-2000). A Idade do Fogo, 1975Trilogia da Noite, 1978Nuvens, 1979Orquestras & Coreografias, 1987Galeria de um Sonho Intranquilo, 1988Fim de Paisagem, 1988Fragmentos de Uma Conversa de Quarto, 1989Ex posições, 1989Boca barroca, 1990Matinas Laudas Vésperas Completas, 1994Tinturas Alquímicas, 1995A Ocultação de Fernando Pessoa, a Desocultação de Pepe Dámaso, 1997A Intimidade do Sono, 1998Crónica da Vida Social dos Ocultistas, 2000, 2007.Gramática das Constelações, 2012.Ser tudo de todas as Maneiras, ensaio e antologia da obra de Fernando Pessoa noLivro/Cd «Mensageiros», Lisboa, 2012.Como Um Mau Filme Americano, 2013.
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