Carlos Otero guiou-nos por 200 anos de música portuguesa dia 8 de Junho no Garagem Café, perto da Alameda do Soldado Desconhecido, em Sintra
“A criação musical parece ter atingido uma espécie de perfeição com estes músicos clássicos portugueses que personalizam o ideal de “musica total”. Todos eles se destacaram muitas vezes inspirando-se do folclore nacional. Todos foram compositores, pianistas, conferencistas e maestros. Outros até –como tinha acontecido com Fernando Pessoa- empregados de escritório!!!
Uma coisa é certa eles tinham em comum o amor da musica e estavam convencidos que ela podia “transformar” os seres.
Por que não debruçar-mo-nos sobre as suas histórias, as suas origens, para que possamos talvez descobrir outra maneira de escutar, de digerir e, sobretudo, de nos deixarmos impregnar espiritualmente pela música? Grandes divulgadores da cultura musical portuguesa no estrangeiro e no pais quando aqui se encontravam.
Nessas épocas passadas –e talvez ainda hoje- para se ser reconhecido no seu pais –Portugal- tinham de dar provas no estrangeiro. Assim aconteceu com alguns dos compositores de que falarei nesta palestra. Alguns foram vitimas da incompreensão, da maldade e da pequenez de um meio com o qual a invulgar estatura não podia ter uma craveira habitual. Uns morreram num isolamento total, outros num grande esquecimento.
Com alguns deles tive relações e desabafos humanos. Para os que conheci pessoalmente terei uma lembrança de reconhecimento e de admiração. Aquelas pequenas coisas que não constam nos livros mas que fazem a riqueza dos Seres Humanos.
Falarei de música clássica portuguesa: Carlos Seixas, Marcos de Portugal (Gostaria de lembrar que este compositor português escreveu uma ópera sobre o tema de… As Bodas de Figaro, em 1799, quase contemporânea da do Mozart (que data de 1786) e cujo original se encontra na Biblioteca Nacional de Paris. Domingos Bomtempo; Alfredo Keil pintor e o autor do Hino Nacional; Viana da Mota; Luís de Freitas Branco; Francisco Lacerda; Frederico de Freitas; Joly Braga Santos; Ruy Coelho, Lopes Graça.
Eis alguns portugueses que merecem ser conhecidos ou relembrados.”
Carlos Otero
Carlos Otero nasceu em Lisboa e vive em Paris há 53 anos, onde desenvolveu a sua actividade como actor, cantor lírico e encenador de teatro e de ópera. Com mais de 3.200 representações públicas em palcos tão distintos como o Teatro Nacional Popular, o Théâtre de la Ville, o Théâtre Marigny, o Festival Lírico de Aix-en- Provence e o Festival de Avignon, Carlos Otero trabalhou ao longo da sua carreira com nomes tão distintos como a actriz Edwige Feuillère, o actor e encenador Georges Wilson, ou ainda Jerome Robbins, produtor, realizador e coreógrafo da Broadway, com quem apresentou, em 1969, no Théâtre Marigny, a comédia musical Violino sobre o Telhado. Realizou e encenou no Théatre des Champs Elysées, de Paris, o drama “Themos” de Mozart, assim como a ópera “A Flauta Mágica”, representações que foram saudadas pela crítica como “tendo conseguido transmitir o essencial do aspecto sobrenatural e maravilhoso das obras primas de Mozart”.
Licenciado em Musicologia pela Sorbonne, dedica-se actualmente à investigação musical e à encenação, e desenvolve o seu trabalho no sentido de transmitir a “boa mensagem” através da música.