A Câmara de Sintra e a 1ª República- um trabalho de João Rodil

A implantação da República em Sintra

Na manhã de 5 de Outubro de 1910, Sintra despertou sabendo que a revolução havia vingado. Por estes dias, vindo descansar com a família em sua casa, na Estefânia, depois de uma viagem a Espanha, estava um dos maiores vultos da República, Tomé de TomeBarrosQueirosBarros Queiroz (1872-1926). Aproveitando esta estadia, o Directório Revolucionário e o Partido Republicano solicitaram-lhe que tratasse de implantar o novo regime no concelho.

Segundo o relato de um dos seus filhos, Vasco Barros Queiroz, terá saído cedo de casa, juntamente com os seus filhos mais velhos Amílcar e Daniel. Depressa se juntou um alargado grupo de republicanos sintrenses em torno deste carismático líder, muitos deles fortemente armados. Tomé de Barros Queiroz comunicou-lhes, então, que deveriam aguardar uma viatura vinda de Lisboa, e que traria Malva do Valle, do Directório Republicano Português e António Maria da Silva, do Comité Civil Revolucionário, para participarem no acto formal da implantação.

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Este grupo reuniu-se no Largo Afonso de Albuquerque, certamente algo nervoso, na espectativa dos acontecimentos, na incerteza de alguma reacção por parte dos monárquicos. Olhos postos na estrada que vem de Lisboa, eis que vislumbram um carro, coisa rara na época. Julgando tratar-se dos seus camaradas de revolução, depressa se abeiraram da viatura. Mas quem vinha nela era a Rainha D. Amélia, juntamente com o seu camareiro-mor e o condutor.

Gerou-se um momento de grande tensão. E antes que alguém se pudesse precipitar e desencadear um derramamento de sangue, Tomé de Barros Queiroz avança, tira o chapéu e cumprimenta com uma vénia a Rainha, por certo assustada e que deixava, naquela hora, a sua amada Sintra para se juntar a seu filho, o rei D. Manuel II, em Mafra, a caminho do exílio. Todos os outros revolucionários, vendo o gesto nobre do seu líder, fizeram o mesmo. Este episódio é revelador do carácter e da capacidade de liderança deste homem invulgar.

Chegados os dois membros do Directório e do Partido Republicano, o grupo seguiu para os Paços do Concelho. E ao meio-dia, da varanda do edifício da Câmara Municipal, Tomé de Barros Queirós proclamou a República no concelho de Sintra. Foram, nesse mesmo acto, escolhidos e aclamados os membros da Comissão Administrativa da Câmara, incluindo o seu presidente, Fernando Formigal de Morais, bem como o administrador do concelho, Gregório Casimiro Ribeiro, o «Gregório das queijadas». A acta que se lavrou desse simbólico momento, é do seguinte teor:

«Aos cinco dias do mez de Outubro de mil novecentos e dez, pelo meio dia, compareceram no largo do Municipio, em frente aos Paços do Concelho d’esta vila, os moradores d’esta mesma vila a fim de içarem o pavilhão da Republica no edificio dos Paços do Concelho, e que figuram, depondo a vereação actual e propondo uma commissão para interinamente administrar os negocios municipais e do concelho, o cidadão Fernando Formigal de Moraes, proprietario; Francisco Rodrigues Ferreira, proprietario; Antonio Maria da Silva Malheiro, farmacêutico; Manuel Ferreira Cosme, commerciante; Verissimo da Silva Rosa, proprietario; Manuel Duarte Rezina, commerciante; José Ferreira de Sá Piedade, empregado publico, e Manuel Ramos Ferreira de Carvalho, artista. Os nomes d’estes cidadãos foram proclamados da janela dos paços do Concelho pelo cidadão Thomé José de Barros Queiroz, sendo unanimemente approvados por toda a multidão que enchia o largo fronteiro. E para dar fé se lavrou a presente que vai ser assignada por todos os presentes. E eu Antonio Augusto Rodrigues Cunha, secretario da camara a escrevi»

Seguem-se cento e sete assinaturas, muitas delas reconhecíveis e que identificam algumas das mais gradas figuras do concelho de Sintra. No dia seguinte, ou seja, a seis de Outubro, procede-se ao Auto de Posse da Comissão Republicana Administrativa do Concelho de Sintra. A acta diz o seguinte:

«Aos seis dias do mez de Outubro do anno de mil novecentos e dez, n’esta vila de Cintra, Paços do Concelho, pela uma hora da tarde, compareceram os cidadãos Fernando Formigal de Moraes, Antonio Maria da Silva Malheiro, Manuel Ferreira Cosme, Verissimo da Silva Rosa, Manuel Duarte Resina, José Ferreira de Sá Piedade, e Manuel Ramos Ferreira de Carvalho, o primeiro presidente, e os restantes vogais da comissão republicana hontem aclamada pelo povo para gerir os negocios muninicipais, para tomarem posse da administração os mesmos vogais, cuja posse, na ausencia do presidente da Camara lhes foi dada por mim Antonio Augusto Rodrigues Cunha, secretario da Camara que a presente assignei». Seguem-se as respectivas assinaturas.

Estavam, assim, completadas as formalidades necessárias à continuidade da administração municipal. Contudo, Vasco Barros Queiroz ainda aponta alguns pormenores curiosos desses dias de grande exaltação e entusiasmo. Sabemos que duas bandas percorreram as ruas da vila de Sintra durante todo o dia 5 desse Outubro, acompanhadas de muito público. As manifestações de júbilo repercutiram-se por todo o concelho e, por certo, foram largados muitos foguetes e vivas à República.

Nesse mesmo tempo, João Franco, muitas vezes apelidado pelos republicanos como ditador e o principal rosto do governo monárquico, estava também em Sintra. Para que não houvesse mais sangue, Tomé de Barros Queiroz ordenou que se montasse guarda à casa daquele ex-governante, guarda essa comandada pelo seu filho Daniel Barros Queiroz.

Na sua Vila Velha – Ronda Pelo Passado, José Alfredo da Costa Azevedo diz-nos que foi seu pai, Pedro de Azevedo, o primeiro homem a desfraldar a bandeira verde rubra da janela do Centro Republicano de Sintra, na esquina da Rua das Padarias.

A nova Câmara entrou com vontade de mudar os paradigmas políticos e, rapidamente, meteu mãos à obra. Como acontece após todas as revoluções, aqueles que venceram tendem a afirmar-se, por vezes de modo exagerado, próprio do calor e da exaltação do momento. Assim, logo entre 6 e 12 de Outubro, os republicanos agora à frente dos destinos do concelho tratam de mudar muita da toponímia, praticamente em todas as localidades ou, pelo menos, naquelas mais populacionais e cuja mudança traria um impacto maior.

Por exemplo, em pleno centro da vila de Sintra, o Largo Rainha D. Amélia passa a chamar-se Praça da República, ou a Av. José Luciano de Castro adopta o nome de Miguel Bombarda. Em Queluz, o Largo Infante D. Afonso toma o nome de Praça da República Portuguesa, enquanto o Largo de Belas se vem a chamar Praça Cinco de Outubro. O mesmo sucede em Colares, Montelavar, Agualva, Rio de Mouro, etc. Também nestas primeiras reuniões, a Câmara decide avançar, com urgência, para obras de requalificação do Matadouro Municipal, sito na Ribeira de Sintra e principal fonte de receita da edilidade na época. Mas ainda mal a nova vereação se tinha instalado, já se via a braços com duas calamidades quase simultâneas. A primeira, um surto violento de varíola em Dabeja, freguesia de Belas, e outro de febre tifóide em Queluz.

Contudo, o cunho republicano de grande seriedade democrática é logo imposto no funcionamento do município. Na reunião de 12 de Outubro, o presidente Formigal de nots_97 Morais (foto) propõe que «Todos os fornecimentos para quaesquer obras ou trabalhos municipaes não sejam feitos por membros da Commissão Republicana Administrativa do Municipio, nem por empregados da Camara». A proposta foi aprovada por unanimidade.

Na reunião de Câmara de 22 de Outubro, surge a presidir à sessão o vereador Francisco Rodrigues Ferreira, em substituição do presidente que havia sofrido um acidente. E continua na seguinte, a 2 de Novembro, quando o vogal Sá Piedade apresenta a seguinte proposta: «… que se mande derrubar no cemiterio de São Marçal em Cintra, a parede que ali existe separando um boccado de terreno para sepultura dos cadaveres de individuos não catholicos, o que presentemente não tem razão de ser.». É a convicção republicana num Estado laico e, é sabido, um traço da posição anticlerical muito própria da época. Em Sintra, nem sempre será assim, tanto mais que alguns clérigos do concelho eram republicanos. Houve padres que pagaram pelas suas ideias democráticas e já veremos, mais adiante, um caso específico.

A 9 de Novembro desse ano de 1910, Fernando Formigal de Morais volta a ocupar o cargo. Nessa reunião discute-se a inauguração da «Escola do Morais», que aconteceria a treze, obra do presidente que se propõe construir mais três escolas no concelho. Pede, então, aos seus colegas de vereação que o ajudem a escolher os locais mais necessitados. Decide ali que essas três novas escolas terão os nomes de Afonso Costa, Brito Camacho e João de Menezes, todos eles heróis da República.

No período que medeia entre 1910 e 1926, se acompanharmos de perto o trabalho camarário, as suas propostas, os seus anseios, as suas deliberações, facilmente percebemos que estes homens entendiam as necessidades mais estruturantes para o concelho e definiam prioridades. Por um lado, uma urgência imediata no desenvolvimento cultural do povo, uma aposta clara na construção de escolas, na contratação de professores e na reestruturação do ensino. Depois as questões de saúde pública, com a distribuição correcta dos partidos médicos, o reforço de efectivos; a canalização e tratamento de água potável que servisse a população, o saneamento básico, ainda que rudimentar. Não menos importante era a modernização e o desenvolvimento económico do concelho. Nesse sentido, a rede viária – pobre naquela época – necessitava de um esforço substancial, com a reparação e alargamento das vias existentes, bem como a construção de novas estradas que servissem todas as povoações. A par disso, a implantação faseada da rede eléctrica e de comunicações, melhoramentos fundamentais para o progresso.

Também no plano social se operavam mudanças. Uma das principais inovações foi a instituição de um dia de feriado semanal. Vejamos, nesse âmbito, o que aconteceu na reunião de Câmara de 25 de Janeiro de 1911. O Administrador do Concelho, espécie de gregorio-casimiro-ribeirointendente da polícia local, Gregório Casimiro Ribeiro, esteve presente na sessão por estar convocada uma manifestação, junto aos Paços do Concelho, dos empregados do comércio. É que, para essa mesma reunião, a Comissão Administrativa havia convocado os presidentes das Juntas de Paróquia para, em conjunto, discutirem o decreto sobre o descanso semanal. Os trabalhadores reivindicavam que ele fosse ao domingo, facto que acabou por acontecer.

Ainda o executivo municipal não tinha completado cinco meses de trabalho e já, a 22 de Fevereiro, o presidente Fernando Formigal de Morais pedia a demissão, gesto seguido por toda a vereação, por desentendimentos com o Governo. Mas, a 1 de Março, depois de um pedido de desculpas e o reforço da confiança por parte do Governador Civil do Distrito de Lisboa, todos voltam a exercer os seus cargos, com excepção do vogal Manuel Ramos Ferreira de Carvalho, que insistiu na demissão e a qual foi votada por maioria.

Mas logo a 11 de Abril de 1911, o presidente e o vogal Malheiros apresentam um pedido de licença ilimitada. Através da acta da reunião de Câmara não se consegue perceber quais as razões, se por causa de dos desentendimentos com o Governo, se por pressões locais. O pedido é concedido por unanimidade acompanhado de um voto de solidariedade. Como se vê, Formigal de Morais dirigiu por pouco tempo os destinos do concelho. Mais do que o seu trabalho político, fica para a História de Sintra por ter construído a escola a que atribuiu o nome de seu pai, Domingos José de Morais, e por ter sido o primeiro presidente da Câmara após a Implantação da República.

Ainda nessa mesma reunião, toma-se conhecimento da vinda do Superintendente dos Palácios a Sintra, que cede à Câmara algumas instalações dentro do Paço Real, para ali alojar várias repartições. Em simultâneo, sabe-se que o Ministro das Finanças oferece mobiliário não histórico ou artístico, existente nas salas do mesmo palácio, para equipar essas repartições.

A 13 de Junho de 1911 vai a reunião de Câmara, pela primeira vez, um pedido de instalação da Guarda Nacional Republicana nas dependências do Palácio Nacional de Sintra. Nesse mesmo dia, é votada uma proposta para o Feriado Municipal: «Foi por unanimidade deliberado que, em harmonia com a faculdade que concede às Camaras o decreto de 12 de Outubro de mil novecentos e dez seja considerado como feriado no concelho o dia quinze de Agosto de cada anno». Todavia, esta proposta continha uma ressalva, já que seria enviada às Juntas de Paróquia para que se pronunciassem sobre esta escolha, se encontrariam ou não inconveniência. Ora, tratando-se do dia de Nossa Senhora da Ascensão, a Junta de Colares solicita que seja mudado o dia do feriado municipal por causa da festa que anualmente ali se realizava em honra da padroeira, solicitação essa que é secundada pelos apoios das Juntas de Belas, Rio de Mouro e Almargem do Bispo.

Posto isto, a Câmara resolve, na sua reunião de 18 de Julho do mesmo ano, avançar com uma alternativa mais consistente. Assim: «attendendo a que passa no dia vinte e nove de agosto o anniversario do fallecimento n’esta villa do illustre sabio e democrata Jose Maria Latino Coelho, que foi honra e lustre da Patria Portugueza, e que a população de Cintra pensa em commemorar essa data fazendo collocar uma lapide no predio onde falleceu o egrejio cidadão, e onde por bastantes annos residiu; tendo em consideração o quanto é justa e devida essa commemoração consagrando um portuguez illustre, que se honrou a patria, d’essa honra largamente partilhou Cintra, que elle escolhia para sua residencia de verão, passando aqui grande parte do anno, em epocas consecutivas; foi por unanimidade deliberado que em homenagem à memoria de um dos primeiros chefes do partido republicano portuguez, cerebro previlegiado que se distinguiu em todos os ramos do saber humano, espirito imaculado que logrou exemplos de salutar civismo, o dia destinado a feriado geral n’este concelho de Cintra, seja o de vinte e nove de agosto de cada anno.»

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O feriado municipal sempre foi controverso e o seu dia foi mudando ao sabor das apetências políticas, conforme verificaremos mais adiante. O certo é que o concelho de Sintra nasceu a 9 de Janeiro de 1154, quando D. Afonso Henriques lhe entrega Carta de Foral. Ora, seria justo que o dia do município se celebrasse na data do seu nascimento e não em qualquer outra cozinhada nos bastidores da História.

Voltemos a esta Comissão Administrativa Republicana de Sintra, no seu quotidiano difícil, onde à falta de verbas para acudir a todas as necessidades conseguia, no entanto, motivar os cidadãos a ajudarem no desenvolvimento do concelho. De facto, em muitos lugares de Sintra, foi o povo quem abraçou algumas obras públicas, entregando gratuitamente o seu esforço, em horas de trabalho e materiais, para a construção de ruas, fontes ou escolas. A título de exemplo, na sessão de Câmara de 20 de Outubro de 1911, onde se homenageia Alfredo Keil – falecido em 1907 – atribuindo o seu nome a uma avenida na Praia das Maçãs, e em que o executivo decide adquirir um busto da República; é lida uma carta de Luís Augusto Collares, abastado vitivinicultor que possuía grandes adegas nas Azenhas do Mar, oferecendo o pagamento de cinquenta dias de trabalho para a construção da estrada entre aquela povoação e Fontanelas.

Por esta altura, o centro da vila de Sintra sofre profundas transformações. Espaço apertado na sua malha urbana de cariz medieval, em que o actual Terreiro da Rainha D. Amélia, fronteiro ao palácio, se encontrava entalado por um casario onde se alojavam a casa da guarda, as cavalariças, o almoxarifado e os quartos da criadagem, foram então demolidas essas estruturas, tornando aquele largo num espaço mais amplo, mais turístico. Atente-se na decisão da Câmara Municipal, na sua reunião de 6 de Fevereiro de 1912: «Foi por unanimidade deliberado que se represente ao Ministro do Fomento, pedindo para sem demora mandar proceder à demolição dos anexos do antigo Paço de Cintra, que nenhuma utilidade tem, e estão occultando a bella fachada d’esse grandioso edificio, obra já approvada pelo Conselho de Turismo e pela Comissão dos Monumentos Nacionais e que n’este momento tem a dupla vantagem de ser um importante melhoramento para Cintra, e virá minorar a crise de trabalho com que vem lutando os operários d’esta região, acentuando-se que por informação particular do distinto arquitecto Rozendo Carvalheira, consta que taes trabalhos poderão fazer-se com dispêndio relativamente insignificante, e á Camara se afigura que com o aproveitamento dos materiais dos anexos a demolir muito pode ser atenuada aquela despeza.». A 23 de Abril, depois de fazer uma larga exposição dos acontecimentos, o vereador Sá Piedade diz que o Governo não está a responder ao pedido da Câmara para a demolição dos anexos e, insinuando, acha que existem interesses particulares metidos no assunto. Neste contexto, a Comissão decide deixar, em bloco, os seus cargos se o Governo não atender ao pedido da Câmara.

Mas a 7 de Maio as dificuldades já tinham sido ultrapassadas e a obra ia mesmo avançar. A 14 do mesmo mês, ficamos a saber qual a razão desta agilidade por parte do Governo. É que as obras de demolição dos anexos do Paço só avançaram por intercedência do deputado do círculo, Tomé de Barros Queiroz. De novo esta figura carismática, amiga de Sintra, a trabalhar pelos interesses da terra. É também neste mesmo mês de Maio, mas no dia trinta e um, que nos volta a surgir outra figura, a de José dos Santos Coelho, o tal republicano de Fontanelas que lutara na clandestinidade, agora nomeado vogal efectivo. Vai ter ao seu encargo uma missão muito específica, a de dirigir o serviço de avaliação das propriedades rústicas e urbanas do concelho.

A 20 de Agosto de 1912, finalmente e depois de várias dificuldades, consegue-se uma verba disponível no orçamento do Comando Geral da Guarda Nacional Republicana para se proceder à instalação do posto nos anexos do Paço Real.

No início de 1913, surge como Administrador do Concelho o doutor José da Ponte e Sousa. A Câmara segue a bom ritmo, com várias obras a decorrerem, como a troca de terreno em Fontanelas para a instalação da escola primária, numas casas que haviam sido de um capelão. Na vila, é autorizada a terraplanagem da Praça da República e o transplante das árvores ali existentes.

A 27 de Maio desse ano, vai a reunião de Câmara um ofício da Direcção Geral de Obras Públicas e Minas, comunicando estar aberto um inquérito administrativo de utilidade pública, referente ao pedido de concessão para o estabelecimento de uma linha férrea assente na estrada de Sintra a Cascais e Boca do Inferno. Pede, então, à Câmara para se pronunciar sobre o assunto e esta vota por unanimidade que nada tem a opor, tanto mais que se tratava de um projecto lançado pela Companhia Cintra ao Oceano, afinal a mesma que detinha a linha do Eléctrico de Sintra à Praia das Maçãs.

Também nessa reunião de Câmara, surge, em nome de Carlos Alberto Correia, um pedido de concessão para a montagem de um ascensor, desde a estação de caminho de ferro de Sintra ao Parque da Pena, por tracção eléctrica ou «qualquer outra forma mais aperfeiçoada». A 24 de Junho de 1913, a Câmara recusa uma outra proposta de concessão referente ao Parque da Pena. A de ali se proceder à instalação de hotéis e sanatórios. Ainda bem, dizemos nós, que estes sintrenses tiveram essa consciência.

A 20 de Outubro de 1913 é, por decreto, substituída a Comissão Administrativa da Câmara e o Administrador do Concelho, tendo sido nomeados, para presidente Júlio Pedro Macedo Coelho, vice-presidente Francisco Martins, e os vogais Francisco Antunes Monteiro, Heitor Correia, José dos Santos Coelho, António Duarte da Silva e Sousa e João Francisco Rosa. À frente da administração do concelho, ficou Aníbal Lúcio d’Azevedo. Mas, logo a 6 de Novembro, o vogal João Francisco Rosa pede para ser substituído no cargo, dada a sua idade avançada, tendo entrado em seu lugar o suplente Manuel da Silva Vistas.

Esta nova Comissão Administrativa teve como principal tarefa preparar e coordenar, a nível concelhio, as primeiras eleições livres, realizadas a 30 de Novembro de 1913. De facto, começava aqui uma nova era política, com os partidos já organizados. Dessas eleições, resultaram vinte e quatro vereadores eleitos para a Câmara Municipal. A 2 de Janeiro de 1914, depois da tomada de posse, procedeu-se à eleição do presidente, vice-presidente, secretário e vice-secretário. A primeira Câmara Municipal de Sintra directamente eleita, ficou assim constituída: presidente Virgílio Horta, virgilio-hortavice-presidente José Bento Costa, secretário Francisco Soares Ribeiro, vice-secretário Torcato Pardal Monteiro. Completavam o executivo os vogais: António Duarte da Silva e Sousa, António José da Luz, António do Nascimento Fontoura, Francisco Alves Pereira de Carvalho Júnior, Francisco Antunes Monteiro Júnior, Francisco Rodrigues Ferreira Júnior, João Duarte de Castro, João Lopes Coelho, João Ramos Lourenço, José Alberto Ferraz, José d’Almeida Freire, José Faria da Costa, José Ferreira Sá Piedade, José dos Santos Coelho, José Simões, Júlio Amaro dos Santos, Ludgero Gomes da Silva, Manuel Ferreira Júnior, José Simões Ferreira e Francisco Martins.

Estávamos perante uma Câmara democraticamente eleita, onde pontuavam nomes grados do concelho, com particular destaque para o doutor Virgílio Horta, figura que ficou perpetuada no largo fronteiro ao edifício dos Paços do Concelho, que ostenta o seu nome. Uma das primeiras decisões desta nova Câmara, logo a 9 de Janeiro, é a abertura de um concurso para a instalação de iluminação eléctrica nesse mesmo edifício, sede do município.

Percebe-se, no entanto, que tudo é diferente no seio da vereação. As lutas partidárias acentuam-se por causa de um voto de louvor ao Presidente do Ministério – o que hoje chamados Primeiro-Ministro – Afonso Costa, eleito pelo Partido Democrático. Aprovado pela maioria, que pertencia ao mesmo partido, os vereadores da oposição, adeptos do Partido Evolucionista, exaltaram-se e fizeram declarações de voto contra. O mais acérrimo é o vereador Sá Piedade, logo contestado por Carvalho Júnior que achava descabidas as alegações do dito vereador, já que tinha, há pouco tempo, participado em «manifestações de simpatia ao dr. Afonso Costa». Sá Piedade defende-se, embora sem convencer: «a proposito da afirmação do sr. Carvalho Junior, de ter tomado parte em manifestações de simpatia ao dr. Afonso Costa, diz que, se se refere á estada dêsse estadista na Praia das Maçãs, que efectivamente foi lá como representante da Camara Municipal, e nessa qualidade, não em manifestação de rua, mas dentro da sua sala, levantou um viva ao chefe do governo».

Ora, importa aqui determo-nos um pouco mais nesta estadia de Afonso Costa na afonso-costa-01Praia das Maçãs, em Setembro de 1913, quando ali se instala para descansar, precisamente no Hotel Royal, propriedade de Rafael Sernadas. Naquele tempo, havia sido engendrado um esquema para matar aquele político. A respeito do que se passou, oiçamos José Alfredo da Costa Azevedo: «O assassinato deveria ser perpetrado nesse hotel. 10339324_ripn7

Os grupos civis de republicanos sintrenses, alertados para o facto, organizaram-se para proteger essa grande figura da política portuguesa da época.

E, assim, devidamente armados, passaram a exercer uma vigilância rigorosa em torno do hotel; as estradas ficaram vigiadas entre Lisboa e a Praia das Maçãs. Assim, todas as carruagens eram obrigadas a parar e os seus passageiros a identificarem-se.

Entretanto, o Governo Civil de Lisboa tinha tomado conhecimento do “complot” e alertou as autoridades de Sintra. A vigilância tornou-se mais rigorosa.

No dia 23 de Setembro daquele ano de 1913, soube-se em Sintra que cinco elementos dessa conjura, que já andavam vigiados em Lisboa, tinham embarcado em várias estações intermediárias, todos com destino a Sintra. Foi dado conhecimento do facto aos grupos, que apertaram mais a vigilância.

Ninguém viu o seu desembarque em Sintra, pelo que se admitiu que tivessem deixado o comboio em qualquer estação anterior, mas perto de Sintra, possivelmente Algueirão ou Mercês. Contudo, a sua presença foi notada na Praia das Maçãs e logo passaram a ser vigiados cautelosamente, pois os grupos civis pretendiam apanhá-los com a “boca na botija”.

Esses indivíduos limitaram-se a ficar na praia e, possivelmente, porque suspeitaram que estavam a ser vigiados, resolveram regressar a Sintra evitando a estrada principal.

Os grupos civis, em automóveis, também seguiram para Sintra, onde avisaram as autoridades, relatando o que tinham visto.

Civis e polícia foram, então, para a estação dos caminhos de ferro, onde aguardaram a chagada dos suspeitos. Três dos conluiados apareceram cerca das 11 horas da noite e foram logo presos.

Um deles, Miguel da Costa Goião, ofereceu resistência armado com uma pistola. Mas, detido, proferiu a frase seguinte: “Não foi desta, será doutra. Tenho 100 camaradas para me vingarem. A sentença está escrita…”.

Diz o Diário de Notícias que foi subjugado e amarrado com uma corda de esparto e conduzido, bem como os outros dois companheiros – Jaime Augusto, alfaiate do depósito de fardamentos, e Alberto Correia – para o posto policial de Sintra.

No posto da polícia foram revistados com todo o cuidado, tendo sido apreendidas ao Miguel duas pistolas automáticas novas e, aos outros dois, uma pistola a cada um e um punhal a um deles.

Um atentado que, felizmente, se gorou.»

Mas neste ano de 1914, outros atentados mais graves seriam perpetrados contra a Humanidade. Despontava, lá pelos centros da Europa, a bestialidade do ódio que iria encarnar na I Guerra Mundial, um dos momentos mais trágicos da nossa existência.

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Sintra durante a I Grande Guerra

Travada entre impérios e por interesses imperialistas, a I Grande Guerra (1914-1918) devastou a Europa e propagou-se à escala global, causando milhões de mortos entre soldados e civis. Muitos mais, não morrendo no conflito, ficaram estropeados ou gaseados, já que, nesta terrível tragédia, se fez uso, pela primeira vez em grande escala, da chamada guerra química.

Portugal vivia, então, uma jovem República, com apenas quatro anos de existência e que procurava afirmar-se no plano internacional. Participou neste primeiro conflito mundial ao lado dos Aliados, o que estava de acordo com as orientações da República ainda recentemente instaurada.

África era o território mais cobiçado pelos impérios europeus. Desde a Conferência de Berlim, realizada entre 19 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, que as potências colonizadoras tinham dividido o continente africano a seu belo prazer, sem escrúpulos nem respeito pelos naturais, separando antiquíssimas nações, retalhando tribos e até famílias.

Numa primeira etapa, e logo a partir de 1914, Portugal vê-se obrigado a enviar tropas para a defesa das colónias africanas ameaçadas pela Alemanha. Face a este perigo, e sem declaração de guerra, o governo português enviou contingentes militares para Angola e Moçambique.

Em Sintra, e através da actuação municipal, também isso se reflecte desde logo. A 10 de Novembro de 1914, a Câmara decide atribuir um donativo à Cruz Vermelha, afim «desta se equipar de meios humanos e materiais para acudir ás tropas portuguesas que vão combater ao lado dos aliados».

A 24 do mesmo mês, aprovam o envio de uma mensagem para as tropas destacadas: «A Camara Municipal de Sintra saúda o exercito de terra e mar, e confiando no seu nunca desmentido patriotismo, a ele confia a guarda e segurança da integridade da Patria e da Republica Portuguesa.».

Mais tarde, a partir de 1916, quando Portugal declara, efectivamente, guerra à Alemanha, a participação de Sintra será de outra índole. Muitos serão os sintrenses a partirem para os campos de batalha. Em todas as vilas, aldeias e lugares do concelho, há sempre quem tenha tido um familiar ou amigo envolvido directamente no conflito.

De facto, correu muito sangue português naquele conturbado momento da humanidade. E um dos homens que participou, activamente, nesse drama, foi Joaquim malta-nunesclaroNunes Claro (1878-1948), poeta que viveu dois terços da sua vida em Sintra e que serviu esta vila como médico e homem de letras.

Este poeta-médico, que prestou serviço no Hospital Militar de Hendaia, durante a I Grande Guerra, fez parte de um grupo boémio denominado “Clária”, onde perfilaram nomes como João de Barros, Ramada Curto, Sílvio Rebelo, Henrique de Vilhena, Leal da Câmara, Mayer Garção, Manuel Laranjeira, entre outros. Foi colaborador da Revista D. Quixote, onde publicou uns versos alusivos a Máceo, herói da independência cubana, e ilustrados por Leal da Câmara, motivando a reclamação imediata do ministro de Espanha, o que levou ao consequente fim da revista.

Foi também colaborador da Revista Nova; publicou Oração da Fome, e, em 1928, vem a lume o livro Cinza das Horas, que merece particular atenção. Nesta obra, o soneto encontra um cultor lírico, de vibração patriótica verdadeiramente exemplar, e onde o processo poético atinge uma plasticidade formal encantadora.

Mais adiante veremos como Sintra homenageou os seus tropas, quando se associa ao movimento do Soldado Desconhecido que proliferou por todo o país.

Entretanto, a vida política em Portugal também passa por momentos bastante conturbados. A 5 de Janeiro de 1915, Virgílio Horta, que havia sido reeleito presidente da Câmara de Sintra, entrega um ofício comunicando que «estando em exercicio como substituto do Juíz de Direito desta Comarca, não pode, por virtude de disposição da lei servir na vereação, enquanto durar aquele impedimento».

Mas, na reunião de Câmara de 6 de Abril daquele ano, percebe-se, de uma forma clara, o caos político que se instalara no país. A propósito de um ofício da Câmara de Lisboa contra a ditadura de Pimenta de Castro, a vereação de Sintra toma a seguinte deliberação: «A Camara Municipal de Sintra, em sessão plenaria, apreciando o oficio da Camara Municipal de Lisboa, de protesto contra a ditadura do governo do general senhor Pimenta de Castro, delibera manifestar-lhe a sua completa solidariedade e resolve não acatar nenhum dos decretos dictatoriais dimanados daquelle mesmo governo, nem de qualquer outro que porventura haja de ser constituido fora das normas constitucionaes.». Esta tomada de posição, como muitas outras da Câmara, é reveladora da força que a República trouxe ao municipalismo.

Contudo, este antagonismo à ditadura de Pimenta de Castro poderia acarretar perigos para a vereação sintrense. A 30 de Abril desse ano de 1915, através do vereador Carvalho Júnior, a Câmara demonstra grande preocupação sobre os boatos que apontavam para um atentado contra a vereação, prendendo e demitindo os seus membros e substituindo a Câmara por uma comissão administrativa. Esperava-se, realmente, actos de grande violência. Entretanto, o vereador Ramos Lourenço propôs que se distribuísse um manifesto aos eleitores do concelho de Sintra, para mexer com a opinião pública.

Felizmente, a ditadura de Pimenta de Castro durou pouco e Bernardino Machado é eleito, pela segunda vez, Presidente da República. Na sessão de 17 de Agosto, «o vereador Silva e Sousa, apresenta uma proposta para que se envie urgentemente um telegrama de saudação ao ilustre chefe do Estado ultimamente eleito, doutor Bernardim Machado».

A 20 de Agosto já tudo decorre na normalidade e o elevador para a Pena volta à baila, desta vez através de um ofício da Companhia Sintra – Atlântico, onde pede o alargamento da concessão para a construção do dito ascensor para o alto da serra. A 27 do mesmo mês, o vereador Torcato Pardal Monteiro surge em sessão de Câmara com uma ideia inovadora. Solicita que se façam todos os esforços junto do poder central «para que se crie uma escola de desenho industrial em Peropinheiro, visto ser um centro industrial de grande importancia». A Câmara aprova e forma-se uma comissão, liderada pelo presidente Virgílio Horta, para irem falar pessoalmente com o ministro da tutela.

A 10 de Setembro de 1915, é nomeado, por ofício do Governo Civil, António Almeida Rodrigues dos Santos para Administrador do Concelho. A 21 do mesmo mês, por causa dos múltiplos problemas no abastecimento de água, entregue na mão de concessionários, a Câmara avança com uma proposta para a sua municipalização.

Em tempo de guerra os cereais escasseiam. Mas, sobretudo, a farinha encontra-se monopolizada pelos grandes industriais e o Governo não consegue regrar os preços. Perante o descontentamento crescente, e embora a Câmara estivesse já a comprar farinha directamente, e depois a distribuísse pelas padarias do concelho, a anarquia dos preços continuava e a duvidosa qualidade do pão revoltava a população. Visto que as Juntas de Paróquia não conseguiam acudir ao problema, o vereador Silva e Sousa lança uma proposta, na reunião de 12 de Novembro, logo aprovada por unanimidade, para que seja «estabelecida uma padaria municipal na sede do concelho, onde também se venda farinha, e trigo em grão».

Durante este período, todos os anos a vereação procedia, logo no início, a uma votação para eleger entre os vereadores a constituição da presidência. Poderia dar-se o caso de mudarem os nomes mas, em Sintra, isso não aconteceu. Por isso, a 16 de Janeiro de 1916, Virgílio Horta é reeleito presidente, o vice-presidente continua a ser José Bento Costa, secretário Torcato Pardal Monteiro e o vice-secretário José Alberto Ferraz.

A 29 de Fevereiro desse ano, vemos que o problema do abastecimento de água subsiste, apesar de a Câmara ter tomado «posse violentamente da Administração das Aguas da Serra com o unico fim de garantir aos seus municipes o fornecimento de agua durante todo o ano». Para melhorar o sistema, aprovou-se a ampliação do depósito de Santa Eufémia e substituição da tubagem por uma de maior calibre. Para essas obras, foi contraído um empréstimo bancário de dez mil escudos.

Durante o mês de Novembro, a crise do pão agudiza-se, apesar da vereação ter fixado o preço do pão em treze centavos e meio e solicitar ao Administrador do Concelho que exercesse uma fiscalização rigorosa sobre o peso do pão e a qualidade da farinha. A 24 desse mês há ardidas manifestações junto aos Paços do Concelho, com violência e insultos, ao ponto de a Câmara decidir mudar os horários das reuniões para ludibriar os manifestantes, muitos deles, ao que parece, com proveniência e intenção duvidosa: «A propaganda assim feita, por palavras e pelo facto, conseguiu levantar uma parte da população, que foi instigada por alguns individuos – muito provavelmente a soldo da moagem –, a vir a vir apresentar o seu protesto por uma forma que não revelava ordeiras intenções.».

No entanto, os conflitos agravam-se, a revolta é cada vez maior: «pouco depois do meio dia, alguns pequenos grupos apareciam em frente dos Paços do Concelho, grupos que foram pouco a pouco engrossando, enquanto a torre do relógio municipal, na Praça da República era assaltada, e os sinos tocando desesperadamente a rebate, punham em sobressalto a povoação». Perante o evoluir da situação, o vereador Carvalho Júnior culpava o Administrador do Concelho: «viu-se impotente para manter a ordem e evitar agressões e desacatos, e corre ao telefone na mercearia fronteira, a pedir o auxilio da guarda republicana, de Lisboa, e fê-lo tão levianamente, sem recato algum, que momentos depois corria de bôca em bôca tudo quanto ele tinha transmitido», e acrescentava: «exagerava os factos – tal era o medo – dizendo que estavam reclamando para cima de setecentos individuos, quando a verdade é que, incluindo mulheres e crianças, os manifestantes não atingiam metade d’este numero.». Por tudo isto, Carvalho Júnior comunicava à Câmara que achava que «o administrador do concelho, para apaziguar o povo, procurava principalmente pôr a sua pessoa a salvo de qualquer desacato, declarando ás comissões que admitiu no seu gabinete que o povo tinha razão no seu protesto, pois que não podia pagar o pão mais caro, mas que ele nenhuma culpa tinha, pois que a deliberação era da Câmara, e só esta era a responsavel.». Este vereador continuava ainda o seu relato: «No dia seguinte, hontem, cerca das catorze horas, voltaram de novo os mesmos reclamantes, e muitos outros, e os seus protestos e reclamações tinham já um caracter mais violento e agressivo. Tinha já na vespera chegado uma força de infantaria da guarda republicana, que teve de intervir em pequenos conflitos que então se esboçavam a dentro do edificio municipal, pelos manifestantes, que o administrador permitiu que invadissem o atrio, pondo assim em risco a segurança não só de todos os que aqui se encontravam, mas do proprio edificio.». Por fim, Carvalho Júnior propõe à Câmara a revogação da postura do preço do pão, esperando que o povo «roubado e envenenado pela Moagem |…| venha pedir a intervenção da Câmara». O vereador Silva e Sousa acrescenta que «Estranha o procedimento do administrador do concelho, contra o qual protesta, e lamenta não o ter presente |…| parecendo estar ao lado da Companhia Nacional de Moagem, que é por assim dizer um estado no Estado».

Contudo, os melhoramentos pelo concelho não param. Na reunião de 29 de Novembro é «Apresentado um requerimento de diferentes moradores e proprietarios do logar das Azenhas do Mar, pedindo o alargamento e alinhamento da estrada da Praia das Maças áquele logar. Foi posto em discussão. O vereador Torcato Pardal Monteiro é de parecer que deve ser atendido o pedido para se manter a bela vista do oceano que por motivos das construções na Praia das Maças só naquela estrada existe.

O vereador Carvalho Junior diz que o pedido deve ser atendido, tanto mais que os individuos que o fazem oferecem os terrenos e alguns trabalhos á sua custa.».

Durante o ano de 1917, por ausência de actas, apenas a destacar o dia 10 de Abril daquele ano, quando a Câmara aprova, por aclamação, um voto de satisfação pela entrada dos Estados Unidos na guerra, ao lado dos Aliados.

A 2 de Janeiro de 1918, novas eleições. Virgílio Horta continua a ser o presidente e, nessa sessão, dá posse aos seguintes vereadores: Manuel Joaquim Norte Júnior, Jerónimo Inácio Cintra, Joaquim Marques, Carlos Augusto Fernandes Serra, Veríssimo da Silva Rosa, Gregório Duarte, José Bento Costa, José Filipe dos Santos, Joaquim da Silva, Manuel d’Almeida, José d’Almeida Freire e António Duarte da Costa Reis.

Não conseguimos perceber se esta vereação funcionou, porque é a única acta existente do ano de 1918. Mas este não é um período normal na História da República. Entre Dezembro de 1917 e Dezembro de 1918, decorre o governo ditatorial de Sidónio Pais, o sidonismo.

De facto, na madrugada do dia 8 de Dezembro fora exonerado o Governo da União Sagrada liderado por Afonso Costa, transferindo-se o poder para a Junta Revolucionária presidida por Sidónio Pais sidonio_pais_large1(1872 – 1918).  Quando todos esperavam que se iniciasse a habitual consulta para formação de novo governo, os revoltosos assumem o poder, destituindo Bernardino Machado do cargo de Presidente da República que se vê obrigado a partir para o exílio. Nesse processo, a 11 de Dezembro de 1917, Sidónio Pais tomou posse como presidente do Ministério (cargo correspondente, na actualidade, a primeiro-ministro), acumulando as pastas de Ministro da Guerra e de Ministro dos Negócios Estrangeiros e, já em profunda ruptura com a Constituição de 1911, que ajudara a redigir, a 27 de Dezembro do mesmo ano, assumiu as funções de Presidente da República, até nova eleição. Começa, então e emanar uma série de decretos anticonstitucionais, fazendo da sua governação uma ditadura a que se chamou República Nova. Tudo isto durou até ao dia 14 de Dezembro de 1918, quando Sidónio Pais sofre mais um atentado, desta vez em plena Estação do Rossio, onde é morto a tiro pelo militante republicano José Júlio da Costa.

Pode estar aqui, neste período conturbado da vida pública portuguesa, a razão de não existirem actas de reunião de Câmara durante este ano. Consequência de uma instabilidade política e social que se vivia, a bem dizer, por todo o mundo, onde os cenários de guerra e de revoltas internas são uma constante.

A 11 de Novembro de 1918, a Alemanha, já bastante diminuída nos seus recursos de guerra e a braços com revoltas internas, assina um cessar-fogo. Ficou, assim, conhecido esse momento como o Dia do Armistício. Mas só em 1919, com o Tratado de Versalhes, o conflito termina verdadeiramente. A Europa jamais seria a mesma, tanto na sua moldura geopolítica como nas mudanças profundas de regimes que se operaram nos antigos impérios então desmantelados.

Da instabilidade política à ditadura

Portugal saiu muito debilitado da I Guerra Mundial. Mobilizou cerca de 200 mil homens, despendeu recursos que não tinha agravando a sua já complicada situação financeira, teve que suportar e sobreviver a duas tentativas ditatoriais – a de Pimenta de Castro em 1915 e a de Sidónio Pais em 1917-1918 –, enfim, a jovem República nadava em águas muito turvas e em tremenda convulsão política e social.

Em Sintra, no início de 1919, mais precisamente a 16 de Janeiro, procede-se à tomada de posse de uma nova vereação. Desta vez, José Bento Costa, indiceque se havia mantido na retaguarda de Virgílio Horta, e que será, em nosso entender, um dos homens mais importantes à frente dos destinos do concelho neste período, surge, finalmente, eleito como presidente da Câmara Municipal de Sintra. Teria como vice-presidente José d’Almeida Freire, 1º secretário Torcato Pardal Monteiro, 2º secretário Joaquim Marques, e como vice-secretários os vereadores João Lopes Coelho e José António Simões Raposo. Como vogais, foram eleitos os vereadores Augusto Gregório Tavares, João António Carretas, João Baptista Consiglieri, Pedro Gomes da Silva, José Rodrigues Boléo, José Simões, Manuel d’Almeida, Manuel Ramos Ferreira de Carvalho, Manuel Vilela Fernandes de Barros, António Duarte da Silva e Sousa e Jerónimo Inácio Cintra.

Dentro deste novo corpo de eleitos estão alguns nomes que, por razões diversas, ficaram para a História de Sintra. Por exemplo, Augusto Gregório Tavares é o fundador da célebre Adega Tavares & Rodrigues, nas Azenhas do Mar; ou o caso de Pedro Gomes da Silva, falecido a 2 de Maio de 1933, abastado capitalista que foi grande benfeitor do Hospital da Misericórdia, dono da vivenda «Mont Fleuri», na Vila Velha, e do actual Parque das Merendas.

Mas o caso mais paradigmático talvez seja o do Padre José Rodrigues Boléo, eleito vereador nesta Câmara de 1919. Quem nos conta algo sobre a vida deste eclesiástico de Sintra é José Alfredo da Costa Azevedo, quando nos fala da Igreja de São Pedro de Penaferrim: «após a implantação da República a igreja foi excomungada porque o img_20161107_183146-1padre Rodrigues Boléo, que era republicano, praticou nela qualquer acto que desagradou às entidades eclesiásticas.

O que é certo é que anos depois, porque, certamente, o “delito” não seria grave, a igreja foi reaberta ao culto e continuou a ser pároco da freguesia o padre José Rodrigues Boléo, que muito bem conheci e que foi sócio do Centro Republicano de Sintra». Como se pode ver, nem todos os padres do concelho, ou do país, eram contra a República.

Ao lermos as Actas de Reunião de Câmara nota-se que esta vereação estava bastante empenhada no desenvolvimento económico, turístico e cultural de Sintra. É exemplo disso o que acontece na sessão de 28 de Julho, onde, ao saberem que a Sociedade Propaganda de Portugal tencionava abrir uma delegação em Sintra, a Câmara, que via com muito bons olhos essa iniciativa, nomeia uma comissão para acompanhar os trabalhos e dar todo o apoio à referida Sociedade. Também na mesma sessão, é nomeado outra comissão, desta feita para, em conjunto com a Mesa do Hospital da Misericórdia, analisasse quais as obras necessárias para a recuperação daquela unidade de saúde.

Mas a educação ocupava um lugar proeminente no coração dos republicanos de Sintra. Há anos que se debatiam pela criação de uma Escola Primária Superior b085871e, agora, estava a chegar o momento tão ansiado da sua inauguração. Assim, na reunião de 4 de Dezembro de 1919, encontramos o seguinte registo: «O senhor vereador Joaquim Marques, propõe que se promova a realisação de uma sessão solene comemorativa da inauguração da Escola Primaria Superior, para a qual sejam convidados o Ministro da Instrução, o Diretor Geral de Instrução Primaria, o Diretor Geral das Construções Escolares, e Deputados do Circulo, propondo o senhor vereador Jacinto Gomes que seja também convidado o senador eleito por este distrito, senhor Jacinto Nunes.». Percebe-se que a Câmara desejava uma inauguração oficial, com a presença das mais altas individualidades e com a dignidade que o projecto merecia.

A 2 de Janeiro de 1920, acontece nova tomada de posse, desta vez para o triénio 1920 – 1922. José Bento Costa volta a ser eleito presidente, surgindo agora João Consiglieri Pedroso como vice-presidente. O 1º secretário continua a ser Torcato Pardal Monteiro, o 2º João Lopes Coelho e o vice-secretário Jacinto Bernardino Gomes. A restante vereação era composta por Augusto Gregório Tavares, António Duarte da Silva e Sousa, img_20161107_182852José António Simões Raposo, Jerónimo Inácio Cintra, Joaquim Marques, José Rodrigues Boléo, Manuel d’Almeida, Manuel Ramos Ferreira de Carvalho, João António Carretas, José d’Almeida Freire e Manuel Vilela Fernandes de Barros. É nomeado Administrador do Concelho Eduardo Frutuoso Gaio.

A 8 de Abril de 1920, o concelho de Sintra está de luto. E isso é visível na reunião de Câmara desse dia. É que havia falecido o Dr. Gregório de 27032012847Almeida, o «Pai dos Pobres», como era apelidado pelo povo, e uma das mais emblemáticas figuras do burgo sintrense. Tinha sido Venerável Mestre da Loja Luz do Sol e um verdadeiro benemérito para a população local. Era, portanto, imperioso que se prestasse a homenagem devida a este grande homem: «O senhor vereador Jeronymo Inacio Cintra, propõe que em homenagem ao falecido e benemerito médico doutor Gregorio d’Almeida, seja dado o seu nome á rua que vae da Praça da Republica ao Arraçario, e que teve o nome de rua Sotto Mayor. – Posta em discussão, e ouvida a informação do senhor vereador Ferreira de Carvalho que como delegado da Camara assistiu á cerimonia da colocação de uma lapide comemorativa do falecimento d’aquele distinto clinico, e que a Comissão promotora d’essa homenagem projecta levantar-lhe um monumento, para o qual não está ainda escolhido o local, sendo naturalmente indicado aquele de onde deve ser removido o actual hospital da misericordia, deliberou-se que ao Largo da Misericordia fosse dado o nome de Praça do Doutor Gregorio d’Almeida.».

De facto, lá está o seu nome nessa praça, afinal aquela que ostenta o Pelourinho de Sintra. Também, nesta alocução, é curioso o dito vereador assinalar que o Hospital da Misericórdia iria ser removido daquele local, coisa que não chegou a acontecer. Contudo, na época, tudo estava encaminhado para que ele fosse transferido para junto da Cadeia Comarcã, em frente à estação de Sintra. Ainda por lá se conservam as ruínas das paredes que chegaram a ser levantadas.  

Esta comissão de homenagem levou, de facto, por diante o seu projecto de levantar um monumento ao Dr. Gregório de Almeida, hoje situado na Volta do Duche, quase em frente ao portão principal do Parque da Liberdade, que naquele tempo se chamava Parque Valenças, propriedade do conde Valenças, dono do palacete que lhe está contíguo e do qual falaremos, mais aturadamente, quando acontecer a sua aquisição por parte do município.

Ainda nesta reunião de Câmara, outra deliberação correspondente à morte daquele grande homem de Sintra: «Deliberou-se por unanimidade que fosse mantido em beneficio de dois filhos doentes do doutor Gregorio Rafael da Silva e Almeida, o subsidio vitalicio anual de duzentos e setenta escudos em partes iguais a cada um d’eles, importancia egual á dotação do partido médico servido pelo falecido facultativo, em vista das precarias circunstancias em que ficaram, revertendo integralmente esse subsidio por falecimento de qualquer d’eles, para o que sobreviver.». Por aqui se percebe a vida altruísta e humanitária do Dr. Gregório de Almeida. Nada havia amealhado na sua quotidiana prática de ajudar os mais necessitados. Esteve bem, esta Câmara, ao ajudar os seus filhos doentes.

A 11 de Junho de 1920, a vereação interrompe por cinco minutos a sessão daquele dia em memória de um outro grande benemérito de Sintra, o 2º visconde de Monserrate, Sir Frederick Cook.

Ainda neste ano de 1920, outra morte entristeceu as gentes de Sintra. A de António Augusto Carvalho Monteiro, ocorrida a 24 de Outubro daquele ano. Na sessão de Câmara de 11 de Novembro: «O Senhor Presidente comunica á Camara que tendo falecido o importante proprietario e grande amigo de Sintra, Dr. Antonio Augusto Carvalho Monteiro, entendeu que a Camara se devia representar no seu funeral, motivo porque n’ele se encorporou na qualidade de Presidente da Camara, como o Vice-Presidente senhor Consiglieri Pedrozo. – A Camara tomando conhecimento dessa comunicação deliberou aprovar e louvar o procedimento de suas excelencias.».

A 13 de Janeiro de 1921, a vereação procede à votação para os cargos dirigentes, ficando a sua constituição igual à do ano transacto. Ou seja, José Bento Costa continua como presidente da Câmara. Nessa mesma sessão, trata-se do preenchimento do lugar de facultativo do partido médico de Sintra, deixado vago pela morte do Dr. Gregório de Almeida. O povo e a Junta de Paróquia de São Martinho solicitam à Câmara que seja o Dr. João Baptista Cambournac o substituto: «O senhor Presidente, que entende ser um acto de Justiça o que se pede, e o Excelentissimo Presidente da Comissão Executiva promete, não só porque é amigo do Excelentissimo Doutor João Baptista Cambournac, como porque está certo que Sua Excelencia substituirá condignamente o seu antecessor e tambem seu amigo inolvidavel Doutor Gregorio d’Almeida, a quem o povo bem cognominou Pai dos Pobres.»

É aqui forçoso referirmos que a Câmara Municipal de Sintra, nesta época, era constituída pela vereação, com o presidente da Câmara, vice-presidente, secretários e restantes vereadores, que formavam uma espécie de senado. Depois, entre os vereadores, era eleita uma Comissão Executiva que tinha a responsabilidade de, na prática, gerir os trabalhos quotidianos do município. O presidente desta Comissão Executiva, referida na passagem anterior, era o vereador António Duarte da Silva e Sousa.

Ao longo do século XX, Sintra teve o privilégio de possuir médicos excepcionais, não só no exercício da sua profissão mas, igualmente, como cidadãos intervenientes na sociedade em múltiplas áreas. São casos históricos os de António Brandão de Vasconcelos, de Carlos França, Joaquim Nunes Claro, Gregório de Almeida, João Baptista Cambournac, Simplício dos Santos e tantos, tantos outros que, a sermos justos, aqui deveriam ser mencionados.

É o caso de um outro médico, desta feita de Belas e Queluz, que é tratado na reunião de 21 de Abril de 1921. O vereador Vilela de Barros informa a Câmara de que o antigo médico daquelas localidades, o Dr. José Alberto Ferraz, homem completamente dedicado aos cuidados da população, sem receber dinheiro dos pobres e, por vezes, dos remediados, criador da Associação de Socorros Mútuos de Belas, e que durante vinte e cinco anos trabalhou e viveu naquela região do concelho, estava enfermo: «por ocasião da epidemia pneumonica, que devia ter contraido então uma pleuresia. Agravada e talvez transformada em doença de maior gravidade, encontrava-se este homem n’um modesto catre da Assistencia Nacional aos Tuberculosos, d’onde por certo não sairá mais, a que teve de recorrer por na sua vida não ter talvez |…| juntado uma centena de escudos.». A Câmara decide ajudá-lo e delibera, por unanimidade, homenageá-lo ainda em vida, coisa não muito comum tanto nesse tempo como agora, atribuindo o seu nome a uma rua da freguesia de Belas, junto à estação de comboios.

Uma semana depois, a 28 de Abril, surge em sessão de Câmara uma proposta que não foi avante, aliás como tantos outros projectos para o território de Sintra. Tratava-se de uma propostas, a enviar à Companhia de Caminhos de Ferro, para a construção de um ramal de ligação entre a Linha do Oeste e a Linha de Sintra, a partir da Pedra Furada e pedia-se que ligasse entre o Algueirão e Sintra. É certo que, mais tarde, essa ligação é efectuada. Mas não nestes moldes, já que o encontro existente entre as duas linhas que atravessam o concelho acontece na estação de Agualva – Cacém.

A 19 de Outubro de 1921, a República Portuguesa sofre um dos mais rudes golpes. imagem21Ficou conhecido como a Noite Sangrenta e é um dos episódios mais bárbaros da nossa História. Há até vários autores que afirmam ter acabado aqui a Primeira República, tendo apenas se arrastado, ferida de morte, até 1926. Entre o assassinato de Sidónio Pais e os massacres de 19 de Outubro de 1921, Portugal, teoricamente um regime parlamentar, viveu sob uma ditadura tutelada pelos arruaceiros e rufias dos cafés e tabernas de Lisboa e pela Guarda Nacional Republicana, uma Guarda Pretoriana do regime, bem municiada de artilharia e armamento pesado, concentrada na zona de Lisboa e cujos efectivos passaram de 4575 homens em 1919 para 14 341 em 1921, chefiados por oficiais «de confiança», com vencimentos superiores aos do exército. A queda do governo de Liberato Pinto, o principal cacique e mentor da GNR, em Fevereiro de 1921, colocou as instituições democráticas na mira dos arruaceiros e pretorianos do regime a que se juntaram sindicalistas, anarquistas, efectivos do corpo de marinheiros, etc.. O governo de António Granjo, formado a 30 de Agosto, era o alvo. E nessa fatídica noite foram assassinados alguns dos homens mais importantes do regime, vários deles intimamente envolvidos na Implantação da República. Muitos mais teriam sido mortos, não fora terem conseguido fugir a tempo, como são os casos de Tomé de Barros Queiroz, Cândido Sottomayor, Alfredo da Silva, Fausto Figueiredo, etc..

Mas, nessa noite de horrores, são assassinados António Granjo, Machado Santos (o herói da Rotunda na Revolução de 5 de Outubro de 1910), Carlos da Maia, Freitas da Silva, e outros. Esta revolução não vingou, muito provavelmente, apenas pelo horror e o repúdio que causou esta Noite Sangrenta no seio da população portuguesa. A Câmara Municipal de Sintra associou-se a este sentimento geral, na sessão de 27 de Outubro, repudiando esses crimes e enviando ao Presidente da República um protesto onde pedia a condenação dos criminosos.

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A 15 de Dezembro, discute-se a instalação do subposto da GNR em Montelavar: «O vereador senhor Carretas, pede que se processe com a possivel brevidade para a instalação do sub posto da Guarda Republicana em Montelavar, para evitar os constantes conflitos que se dão naquela região, como os que ainda ontem se deram e que motivaram a morte de um homem e que dois outros ficaram gravemente feridos». Neste sentido, «O senhor Presidente da Comissão Executiva informa dos esforços empregados para conseguir essa instalação, e que apenas se aguarda a vestoria á casa que está indicada e de que é proprietario o senhor Joaquim Vicente Albogas.».

A 9 de Fevereiro de 1922, o vereador Vilela de Barros apresenta uma proposta de cedência de dois «montes» de terreno ao Ministério da Guerra, «contiguos ao Quartel do Grupo de Batarias de Artilharia a Cavalo, em Queluz, para serem convenientemente vedados com cortina de alvenaria e gradeamento de ferro. Estas vedações formam uma linha recta norte sul com a frente do referido quartel e, contribuindo para o aformoseamento do imponente largo, evitarão que os referidos recantos sejam sitios destinados a praticas pouco moralizadoras, que constantemente se dão, e ainda a depositos permanentes de dejectos e ainda auxiliariam a defesa do quartel. Em troca d’esta cedencia o Ministerio da Guerra comprometia-se a dar uma saida condigna á rua Heliodoro Salgado, que se faz por uma escada impropria, acanhada e suja, para um dos montes e que seria transformado noutra com regulares condições, por fora da vedação a fazer e ainda a reparação da muralha fronteira ao quartel com um pequeno dispendio, um ligeiro reboco em algumas falhas e caiação. Esta concessão interessa mais ao Ministerio da Guerra e, consequentemente á Fazenda Publica, de quem é o Palacio Nacional, do que mesmo á Camara Municipal. – Foi aprovada por unanimidade e sem discussão.».

Nesta mesma sessão, discute-se a instalação de uma estação de telégrafo em São João das Lampas, e solicita-se que o mesmo aconteça em Pêro Pinheiro.

Percebe-se que os ideais da República continuavam bem vivos no coração destes homens, apesar das convulsões políticas e da falta de recursos financeiros. Tentar modernizar o concelho era uma ambição, e nas mais variadas áreas de actuação. A esse respeito, e apenas como exemplo porque outras situações semelhantes acontecem, vejamos a intervenção do vereador Augusto Gregório Tavares, na sessão de Câmara de 2 de Março de 1922, onde aponta a necessidade de se fazerem melhoramentos, nomeadamente no abastecimento de água, iluminação eléctrica, e a construção de uma escola, «no logar de Azenhas do Mar, não menos populoso que a Praia das Maçãs e onde muitos banhistas passam a epoca balnear. Que aproveita a ocasião para demonstrar mais uma vez a necessidade de se construir um edificio escolar nas Azenhas do Mar e depois de fazer a demonstração de que por falta d’escola é grande o numero de analfabetos, comunica que tem a promessa de varios proprietarios e amigos daquela povoação de donativos que atingem já cinco mil escudos alem de todo o mobiliario, e que um grupo de senhoras promete organizar uma cantina. Que para a construção da escola já em tempo alvitrou um terreno que pretendiam aforar, e que ele requereu, com a condição de o ceder dentro de cinco anos para aquela construção, não tendo sido aforado, mas, já foi desmembrado um angulo, em contrário do que foi deliberado. Que espera que outros amigos das azenhas do Mar e o povo auxiliem a construção, e com o auxilio da Camara e do Governo, julga que será facil dotar aquela povoação com um edificio para instalação de uma escola mista, cuja criação propõe se faça. Que os mesmos amigos e benemeritos projectam tambem a criação de um pôsto de bombeiros anexo á mesma escola e que o ilustre arquitecto senhor Tertuliano Marques se ofereceu já para fazer o respetivo projecto.».

Na reunião de Câmara de 6 de Abril de 1922, vem à baila o grande tema nacional da partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral rumo ao Brasil, naquela que seria a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, conhecida, na época, como «Raid Lisbôa – Rio de Janeiro».1922-sacadura-cabral-e-gago-coutinho3

O vereador Simões Raposo propõe que a Câmara envie um telegrama ao Ministro da Marinha a desejar que seja «levado a cabo o seu arrojo». Logo o vereador Marques acrescenta que o telegrama também seja enviado ao Presidente da República. No final, ainda se acrescenta mais um aditamento: «sendo aprovado por unanimidade e sem discussão, que no dia da chegada ao Rio de Janeiro, se telegrafe aos heroicos aviadores, saudando-os.». Ora, está aqui patente o entusiasmo que percorria o povo português, na generalidade, em torno desta aventura. Este aditamento atirado para o futuro, colocava toda uma certeza nacional no pleno êxito da missão.

E assim aconteceu. Os «heroicos aviadores» chegaram, de facto, ao Rio de Janeiro. Por isso, a 20 de Abril o assunto regressa à reunião de Câmara: «O senhor Presidente da Comissão Executiva. Que vibrando nêste momento a alma de todos os portugueses pela chegada a terras do Brasil dos heroicos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, propunha se telegrafasse a sua Excelencia o Senhor Presidente da Republica, felicitando-o como chefe supremo da nação, pelo glorioso facto». A 11 de Maio, outra proposta: «O senhor vereador Consiglieri Pedroso, após várias considerações, lê e envia para a mesa a seguinte proposta: “sendo os nomes dos heroicos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral aclamados por todo o Pais, pela sua cientifica e corajosa travessia do Atlantico, justo é que em todas as localidades se exponha publicamente os seus prestigiosos nomes, proponho por isso que á rua que fica perpendicular á rua trinta e um de Janeiro, em Queluz, se lhe dê o nome dêstes aviadôres.”».

A 19 de Outubro desse ano de 1922, a Câmara Municipal trata de preparar os festejos para assinalar o regresso dos aviadores: «O vereador senhor Marques, depois de enaltecer o feito dos heroicos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, propõe que o maior numero possivel senão todos os vereadôres tomem parte a recepção que se prepara para a chegada dêsses dois grandes portugueses, e que a Comissão Executiva se associe a todas as manifestações que possa, dando-se salvas de morteiros e queimando-se foguetes á hora da sua chegada, e iluminando-se os edificios publicos.».

Depois de novas eleições, a tomada de posse da nova Câmara dá-se a 2 de Janeiro de 1923. O doutor Virgílio Horta regressa à presidência, tendo como vice-presidente José Antunes dos Santos, secretário Mário Coelho Teixeira e vice-secretário Joaquim Correia de Freitas. São ainda eleitos os seguintes vereadores: João Pedro da Silveira Gomes, Raúl da Costa Gonçalves, António Homem da Costa Cabral Júnior, Eduardo Vitorino de Morais, Inácio Pereira, João António Carretas, António Duarte da Silva e Sousa, Augusto Alberto Sanches, Manuel Soares Ribeiro, Manuel Vilela Fernandes de barros, Serafim Alves da Silva e Torcato Pardal Monteiro.

Mas, logo a 19 de Fevereiro, a situação complica-se. O Administrador do Concelho, Adelino de Figueiredo Lima, manda chamar a anterior vereação que tinha estado à frente dos destinos da Câmara nos últimos três anos, e declara nula a eleição dos presentes membros, tudo isto por sentença de uma auditoria administrativa cujas conclusões eram as seguintes: «Anulo para todos os efeitos legais estas eleições de vereadores efectivos e substitutos da Camara Municipal do Concelho de Sintra e de provedores pelo mesmo concelho á Junta Geral do Districto, por poder influir no resultado geral das votações a falta de apuramento de votos na assembleia de São Pedro de Penaferrim e mando que as mesmas eleições se repitam n’esta assembleia eleitoral dando como apurados e verificados os votos obtidos por todos os candidatos.».

Por causa desta anulação, nesse mesmo dia, também com acta de 19 de Fevereiro de 1923, procede-se à instalação da antiga vereação e eleição do presidente, de novo José Bento Costa, do vice-presidente João Consiglieri Pedroso, 1º secretário Torcato Pardal Monteiro e 2º secretário João Lopes Coelho. Regressavam ao activo os restantes vereadores: António Duarte da Silva e Sousa, Jerónimo Inácio Cintra, Joaquim Marques, José Rodrigues Boléo, Manuel d’Almeida, Manuel Ramos Ferreira de Carvalho, Manuel Vilela Fernandes de Barros, Augusto Gregório Tavares, João António Carretas, José de Almeida Freire, José António Simões Raposo e José Simões. É certo que muitos dos vereadores são comuns, já que tinham sido reeleitos nas recentes eleições, agora anuladas. Curioso é o facto de a presidência da Câmara vir a ser assumida pelo vice-presidente João Consiglieri Pedroso e não por José Bento Costa, isto sem que tenhamos encontrado qualquer explicação para o facto.

A 19 de Abril já não surge o nome de José Bento Costa e aparecem, integrados na vereação, os vereadores substitutos José Vicente dos Santos Carloto, António Caetano Baptista, Francisco Antunes e José dos Santos Coelho.

Contudo, a 28 de Novembro de 1923, a Câmara eleita e logo destituída em Fevereiro, volta sob a presidência de Virgílio Horta. E aqui podemos perceber um pouco mais sobre o que se passou: «O senhor Presidente, a Camara retoma a administração de que foi esbulhada por um acto de força e criminosamente, em dezanove de Fevereiro do corrente ano, pelo que, devendo considerar como boa e aprovada a acta da sua constituição em dois de Janeiro do corrente ano, prossegue nos seus trabalhos. – Que a Camara ao reunir-se em dois de Janeiro, o que fez por direito proprio, nos termos legais, e em vista da comunicação feita pela assembleia de aporamento geral das eleições, realizadas em novembro de mil novecentos e vinte e dois, em que foram proclamados como vereadores eleitos. – Que pelo senhor Presidente da Comissão Executiva lhe foi solicitado em meados de Fevereiro a convocação extraordinaria da Camara, convocação que fez para o dia dezanove de fevereiro, não tendo porem podido efectuar-se essa reunião nos Paços do Concelho, por estarem as entradas para a sala de sessões, secretaria e mais dependencias  da Camara, guardadas pela força armada, com o fim de impedir a entrada aos membros da Camara, pelo que tiveram de se reunir fora dos Paços do Concelho, afim de conhecerem dos factos para que fora solicitada a convocação: – E tendo-se realizado a referida sessão, dela se lavrou a acta que vai mandar ler e submeter á discussão e votação da Camara.».

De facto, esta vereação eleita, depois de lhe ter sido vedada a entrada no edifício dos Paços do Concelho, acabara por reunir numa casa de José Antunes dos Santos, img_20161107_183014na rua Alfredo da Costa, naquele dia de 19 de Fevereiro. Ou seja, acontecem duas reuniões de Câmara em simultâneo, uma pelos eleitos recentes e sob a presidência de Virgílio Horta, e outra pelos membros da Câmara anterior e sob a presidência de José Bento Costa por convocatória do Administrador do Concelho. Inédito ou, no mínimo, insólito.

Nessa reunião em casa de José Antunes dos Santos, é deliberado que seriam «nulos todos os actos e deliberações tomadas pela pseudocamara nomeada por quem em absoluto carece de competencia para essa nomeação. Nós, vereadores eleitos pelos cidadãos eleitores do concelho, para a gerencia e administração municipal, estamos impossibilitados de nos desempenhar-mos do nosso mandato, exercendo a administração dos bens e serviços municipais, pelo uso da força armada, criminosamente empregada contra o legitimo exercicio do nosso direito.».

A confusão não deve ter ficado sanada por aqui. Ao percorrermos a documentação da Câmara, verifica-se um hiato de tempo em que não existem actas, entre Novembro de 1923 e Abril de 1924. De facto, só a 23 de Abril de 1924 se dá a instalação tardia da Câmara, onde surge Virgílio Horta como presidente, vice-presidente José Antunes dos Santos, secretário José Maximino Caneira de Barros e vice-secretário Joaquim Correia de Freitas. A restante vereação ficava assim composta: Eduardo Vitorino de Morais, Inácio Pereira, João António Carretas, João Pedro da Silveira Gomes, Serafim Alves da Silva, Raúl da Costa Gonçalves, António Duarte da Silva e Sousa, António Homem da Costa Cabral Júnior, Augusto Alberto Sanches, José Vicente de Oliveira, Manuel Soares Ribeiro e Torcato Pardal Monteiro.

Esta vereação continua com objectivos bastante definidos, dando prioridade às questões ligadas com a iluminação pública eléctrica, o abastecimento de água e a educação. A 30 de Abril de 1924, vai a sessão de Câmara a escola de Fontanelas: «O vereador senhor Carretas, que achando-se concluido o edificio mandado construir pela Camara, no logar de Fontanelas, para escola oficial e dotada de mobilia e indispensavel material de ensino, se oficiasse ao respectivo director geral, solicitando a sua creação e provimento urgente.».

Na reunião de 8 de Outubro, mais um projecto que não se concluiu. A Câmara de Sintra pretendia agendar uma reunião com a sua congénere de Mafra para, entre outros assuntos, tratar da construção de uma via férrea de tracção eléctrica entre Sintra e a Ericeira. Por certo, este projecto, a ter ido avante, muito mudaria o aspecto territorial e populacional do concelho.

A 20 de Novembro de 1924, a Câmara aprova por unanimidade «um voto de profundo pezar pelo desastre que enlutou a aviação maritima e a Patria Portugueza, ocasionando a morte do glorioso aviador e ilustre patriota comandante Sacadura Cabral». De facto, este verdadeiro herói nacional faleceu a 15 desse mês, quando pilotava um Fokker 4146 de Amesterdão para Lisboa.

A 2 de Janeiro de 1925, nova tomada de posse com algumas mexidas na vereação. Virgílio Horta permanece na presidência, o vice-presidente continua a ser José Antunes dos Santos e o secretário José Maximino Caneira de Barros, mas o vice-secretário passou a ser José Martins da Silva Roda. Acresciam ainda os seguintes vereadores: Inácio Pereira, João António Carretas, Joaquim Correia de Freitas, Raúl da Costa Gonçalves, António Duarte da Silva e Sousa, António Homem da Costa Cabral Júnior, Augusto Alberto Sanches, Eduardo Vitorino de Morais, João Pedro da Silveira Gomes, José Vicente de Oliveira, Manuel Soares Ribeiro, Torcato Pardal Monteiro, Serafim Alves da Silva, Henrique da Silva Soares, Joaquim Isidro dos Reis, José Maria Chaves e Manuel Jordão.

Curiosamente, durante este ano de 1925, muito pouco acontece nas sessões de Câmara, para além dos trabalhos correntes e que não merecem qualquer relevo. Em Novembro desse ano realizam-se novas eleições e a composição da Câmara de Sintra muda bastante.

Assim, a 2 de Janeiro de 1926, através do Auto de Posse da Vereação, podemos verificar que o Presidente da Câmara era agora Joaquim Ribeiro de Carvalho,ribeiro01 escritor, jornalista e político de renome, um dos implicados na revolução de 5 de Outubro de 1910 e que esteve na varanda da Câmara Municipal de Lisboa proclamando o sucesso da Implantação da República. Era dono da formosa Quinta da Bela Vista, no Cacém, onde passava largas temporadas e ali chegou a refugiar-se e a albergar amigos perseguidos em várias ocasiões. Director e, depois, proprietário do mais emblemático jornal da época, A República, que dirigiu até à data da sua morte, ocorrida em 1942.

Como vice-presidente surgia agora João de Pinto e Cruz, secretário Baptista António Simões e vice-secretário João Lopes Coelho. Mais os seguintes vereadores: Francisco José de Barros Júnior, António Duarte da Silva e Sousa, Manuel Vilela Fernandes de Barros, Augusto Alberto Sanches, António Duarte da Costa Reis, Joaquim Marques, José dos Santos Coelho, Guilherme Joaquim da Mata, Eduardo Nunes Frutuoso Gaio, Luís Augusto de Sousa e Bento, Raúl da Costa Gonçalves, Virgílio Horta e João António Carretas.

Esta mistura de personalidades novas com outras que vinham já de vereações anteriores, tem uma explicação lógica. Maria Cândida Proença, na sua obra sobre as eleições em Sintra neste período histórico, diz-nos o que aconteceu: «Quando da dissenção de José Domingues dos Santos, em Julho de 1925, os principais membros do P.R.P. de Sintra passaram a apoiar esta tendência. O Despertar tornou-se o porta voz das suas posições embora continuasse a ostentar o subtítulo de Órgão das Comissões Políticas do Partido Republicano Português no Concelho de Sintra. Quando da análise do acto eleitoral lê-se no mesmo semanário: “Assim ficaram sabendo os adversários da Esquerda Democrática, que outra coisa não é que o antigo P.R.P. que nós somos uma grande força no País e especialmente em Sintra”. Esta posição parece estar de acordo com os que consideravam a Esquerda Democrática mais como tendência partidária do que novo partido.».

Estas eleições foram disputadas entre os apoiantes desta Esquerda Democrática e os chamados Regionalistas. Vejamos o que diz Cândida Proença sobre a composição das listas concorrentes: «A lista Esquerdista englobava, no dizer dos próprios promotores, democráticos e independentes enquanto que a lista Regionalista integrava Nacionalistas, Independentes e Monárquicos, além de 2 nomes que também faziam parte da lista da esquerda Democrática. Esta inclusão era vista pelos Esquerdistas como uma manobra para captar votos por ser conhecido o republicanismo desses candidatos.». Bom, o certo é que ganhou a Esquerda Democrática que tinha como cabeça de lista Joaquim Ribeiro de Carvalho.

Nessa sessão de tomada de posse, de 2 de Janeiro, regista-se a presença da imprensa que é saudada pelo vereador António Duarte da Silva e Sousa: «Sauda tambem a imprensa local, representada pelo semanario “O Despertar”, do seu partido e “A Semana de Sintra”, semanario independente». Neste acto, é também feita uma saudação ao Presidente da República, Dr. Bernardino Machado.

A 1 de Abril de 1926, vai a reunião de Câmara uma proposta de arrendamento dos terrenos do vale do Rio do Porto, pertencentes à Casa de Palmela, pela quantia de 400 escudos anuais, para que se construísse o Viveiro Municipal: «considerando que se impõe a necessidade de se proceder a uma metódica e continua arborização».

A 14 de Junho, são lançadas as bases do concurso para a construção da «linha electrica de Sintra á Ericeira e Mafra». Nesta perspectiva, «O vereador Carretas, faz largas considerações, congratulando o melhoramento e termina declarando que deve ficar expresso nas bases do concurso que o trajecto se deve fazer passando pela séde da freguesia de Montelavar.».

Esta é a última acta da Câmara Municipal de Sintra durante a 1ª República. No mês seguinte, tudo seria diferente, para o concelho e para o país. Vinha aí outro regime, outros tempos mais complicados para aqueles que acreditavam na democracia parlamentar, na opção partidária, na liberdade.

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Escritor, poeta e ensaísta, João Rodil nasceu nas Azenhas do Mar, a 22 de Fevereiro de 1961. Com mais de vinte obras publicadas, muitas das quais sobre a História, a Literatura e a Etnografia sintrense, objecto preferencial de uma vida de estudo e investigação.

É autor e apresentador de vários documentários para televisão, colaborador em jornais e revistas nacionais e internacionais, conferencista e coordenador de múltiplos congressos, colóquios e encontros culturais.

 

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