Foi abatida uma tília de grande porte junto à esplanada do antigo Hóquei Clube, em pleno centro histórico da vila de Sintra (tília nº 5, segundo o inventário da CM Sintra) a qual se encontrava descompensada e inclinada. Uma vez mais prevaleceu o critério tecnocrático da suposta fragilidade da árvore, a carecer de monitorização e intervenção, é certo, mas levado à solução extrema e por certo não necessariamente inevitável do seu abate sem que outra árvore de porte e dignidade semelhante lá tivesse sido colocada, em respeito pelo espírito do lugar e pelo direito/dever de preservar a Imagem cénica que conduziu à classificação de Sintra como Património da Humanidade em dezembro de 1995, tendo a caldeira sido de imediato calcetada e suprimidos os vestígios de ali ter estado durante anos uma tília cordata.
Paulatinamente, a cada árvore “doente” não sucede um novo exemplar, ante a indiferença das forças políticas, apenas um punhado de munícipes se empenhando numa luta quase quixotesca contra o Golias da motosserra, sempre com a estafada desculpa das moléstias, perigo para a segurança pública ou morte por decreto fitossanitário. Como seres vivos, as árvores morrem, é sabido, muitas vezes, porém, são deixadas morrer, para depois farisaicamente se lamentar ter-se chegado a tal situação.
Segundo se apurou, um parecer emitido pelo Instituto Superior de Agronomia nunca apontou claramente para o abate da tília nº 5, pelo que se desconhecem os motivos que levaram à decisão do seu abate e, objetivamente, por que não foi considerada a possibilidade do seu escoramento, previsto no Regulamento de Gestão do Arvoredo, tendo durante a operação de abate da tília ocorrido também o desbaste da tília vizinha e agravando ainda mais a sua descompensação.
A Alagamares acompanha positivamente todas as iniciativas que conduzam à manutenção do arvoredo histórico de Sintra, bem como entende que as iniciativas mais radicais de abates em zonas classificadas devem ser sempre precedidas de um amplo debate entre os munícipes, as associações cívicas e os stakeholders que permita a adoção de decisões equilibradas e adequadas, bem como que a cada árvore morta suceda sempre árvore posta. Estivemos contra o arboricídio na Lagoa Azul proposto pelo ICNF em 2016, plantamos árvores na serra de Sintra, e concorremos decisivamente para a classificação do conjunto arbóreo dos plátanos de Colares em janeiro de 2020. Sobretudo, revemo-nos nas palavras do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles num colóquio promovido pela Alagamares em 2012:”Garantir um contínuo verde através das cidades deverá ser um mandamento do planeamento na luta contra o Caos e distribuição especulativa do território”