A opinião de Paulo Loução

Paulo Alexandre Loução nasceu em Lisboa em 1964. Historiador e filósofo, estudioso das culturas antigas e da arte manuelina, é autor das obras Templários na Formação de Portugal (10 ed.) e Portugal – Terra de Mistérios (7 edições). Coordenou com Miguel Sanches de Baêna a obra colectiva Grandes Enigmas da História de Portugal. É coordenador editorial da revista Acrópole, director de conteúdos do projecto Ésquilo e coordenador do Círculo de Estudos de Matemática e Geometria Sagradas Lima de Freitas. Considera-se um investigador transdisciplinar e filósofo no seu sentido prístino de philo-sophos, aquele que demanda a sophia, a sabedoria viva e transformadora que harmoniza o Ser com o Cosmos.

O Paulo Loução afirma-se como um investigador transdisciplinar no sentido de visar alcançar a sophia. Quer concretizar o seu pensamento?

Na ideia de transdisciplinaridade, existe a noção de que o todo é superior à soma das partes, se quisermos à soma das especialidades. Estas são necessárias, em prol do rigor científico e de investigação, porém acima dever-se-á procurar uma visão unitária do objecto de conhecimento. Os egípcios simbolizavam esta visão com o Oudjat, a visão intuitiva que permitia Horus vencer as forças do caos, Seth. Sophia é precisamente essa sabedoria viva, que está para além do conhecimento intelectual e que permite a transformação superior da consciência.

Também afirma que a transmutação interior virada a um sentido de fraternidade pode contribuir para a criação de um mundo melhor. Como?

«Sê a mudança que desejas para o mundo», dizia-nos Mahatma Gandhi, ou seja, sem o melhoramento do indivíduo não pode haver melhoramento da sociedade. Assim, é importante não só procurarmos a felicidade ou realização pessoal, mas visarmos um melhoramento e enriquecimento interior que possa contribuir para um mundo melhor, para relações humanas de mais qualidade, para um estilo de vida que ultrapasse o mainstream da sociedade de consumo e incentive ao pensamento consciente de cada um, só assim, creio, poderemos sair da «caverna» platónica do mundo actual subordinado ao mito do progresso interminável.

Tem-se dedicado a temas do sagrado e do segredo. Que grandes enigmas estão associados à nossa História colectiva que se possam enquadrar como predestinação ou projecto?

Essa é uma velha questão, a história humana é obra do acaso e das circunstâncias, ou é regida por leis da natureza com vista a uma finalidade, um arquétipo, um «telos» à maneira grega? Pessoalmente não creio num Deusa Acaso, parece-me evidente que existe uma dimensão inteligente da natureza, assim como uma finalidade para onde se dirige a flecha do tempo. A história de Portugal, intimamente ligada à história universal, como afirmava Jaime Cortesão, terá com certeza uma missão nessa grande sinfonia constituída pelas diferentes culturas da Humanidade. Depois da tempestade, com certeza que virá a bonança…

Que lugares mágicos e sagrados existem em Sintra nesse contexto?

A região de Sintra, o «monte da Lua» dos antigos é evidentemente uma paisagem muito especial e inspiradora. Chamaria a atenção ao templo mais ocidental do Império Romano em termos de continente europeu, o santuário ao sol, à lua e ao oceano, no Alto da Vigia, junto à praia das Maçãs. Lugar mágico já mencionado por Francisco da Holanda, que depois seria islamizado. Mais um exemplo do velho culto da finisterra em território luso. A meu ver, o grande mistério desta «nesga de terra debruada de mar», como a crismou Torga, é o facto da sua fronteira com o Atlântico, esse mítico Atlântico que segundo as tradições antigas esconde um grande segredo.

Como vê a figura do rei D. Fernando II, cujos 200 anos do nascimento se vão assinalar em breve?

Tenho uma grande admiração por D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry. Uma figura notável da história de Portugal e da Europa. Uma alma sensível, verdadeiramente culta, apreciador do belo, que sentiu como poucos a riqueza viva da nossa tradição lusíada e o nosso património imaginal. E foi o melhor «ministro da cultura» de Portugal, graças à sua acção muito do nosso património edificado foi protegido. Felicito vivamente a vossa iniciativa em comemorar esta importante efeméride.

E as ligações da Ordem do Templo a Sintra? É Portugal um projecto templário?

Em termos de documentação não encontrei muitas referências da Ordem do Templo em Sintra. Tinham propriedades, há uma carta de doação de D. Afonso Henriques ao Mestre Gualdim, mas no geral, não há evidências de que tenha sido uma importante região para os Templários. Em termos estritos, não podemos afirmar categoricamente que Portugal tenha sido um projecto templário, porém é evidente que os Templários tiveram um papel determinante na formação do reino português, tal como a acção de Bernardo de Claraval e também a Ordem de Cister. Impressiona tomarmos consciência da significativa sincronicidade entre o nascimento do reino portugalense e a fundação da Ordem em Jerusalém, e verificar que logo em 1129, poucos meses depois da Batalha de S. Mamede, D. Afonso Henriques declara-se irmão templário!

Que anda a fazer, e que trabalhos prevê publicar brevemente?

Estou neste momento a realizar um estudo antropológico e identitário sobre a ilha do Príncipe, no Golfo da Guiné, e a finalizar um romance intitulado, «A Profecia de João XXIII». Estou também empenhado em dinamizar o novo centro da Nova Acrópole em Oeiras.

 

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