A República de Ribeiro de Carvalho, por Jorge Trigo

O 5 de Outubro continua a ser uma data relevante. Anualmente assinala-se a implantação da República com a realização das mais variadas iniciativas por todo o país. Sintra não é exceção.

Ribeiro de Carvalho, escritor, poeta, tradutor, político, jornalista e acima de tudo republicano, está há muito ligado ao concelho de Sintra, através da casa onde viveu durante várias décadas, situada na Quinta da Bela Vista, no Cacém.

Os mais antigos contam que todos os anos, no dia 5 de Outubro, não deixava de assinalar a vitória dos republicanos. Fazia questão de, em plena quinta, lançar uma girândola de foguetes e hastear uma bandeira alusiva ao movimento de derrube da Monarquia. O destino levou Ribeiro de Carvalho a entrar no Hospital de S. José, em 5 de Outubro de 1942, vítima de uma queda. Passados cinco dias Ribeiro de Carvalho viria a falecer.

Era um intransigente republicano, “para a vida e para a morte”, como fazia questão em frisar, que “preferia morrer mil vezes a renegar os seus princípios” e que tinha um orgulho supremo em gritar diante de toda a gente e em toda a parte: – Eu sou republicano!

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Participação ativa na revolução do 5 de Outubro

Era membro da Carbonária Portuguesa e participou ativamente na revolução de 5 de Outubro de 1910. Teve aliás como carbonário um papel relevante na preparação da Revolução.   

Foi um dos revolucionários que às 9 horas da manhã desse dia, quarta-feira, proclamou a República Portuguesa na varanda do edifício dos Paços do Concelho de Lisboa.

Em artigo publicado no jornal “ República “ de 5 de Outubro de 1922 Ribeiro de Carvalho escrevia:

“Em cinco de Outubro de 1910, quando da larga varanda do Município de Lisboa foi proclamada a republica, estávamos nós ali, exaustos d´esses dias de luta e de ansiedade, mas vibrantes de entusiasmo – o sagrado entusiasmo de toda a nossa mocidade combativa e generosa.

Diante dos nossos olhos, deslumbrados de fé, desdobrava-se o futuro, coroado de glória, fecundo de abundância, todo impregnado de paz, de liberdade e de justiça.

   O nosso sonho estava realizado.

   As nossas aspirações estavam satisfeitas.

   Estava proclamada emfim a Republica.”

As funções na Câmara de Sintra

Ribeiro de Carvalho veio a desempenhar, após as eleições de 1925, as funções de Presidente do Senado da Câmara Municipal de Sintra, aceitando integrar uma lista da “Esquerda Democrática”, que venceu as eleições municipais.

Foram várias as deliberações do Senado Municipal presidido por Ribeiro de Carvalho. A sua atividade no Senado terminou em consequência do movimento do 28 de Maio.

O estado de abandono da sua Casa no Cacém

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A moradia situada no lugar do Zambujal, no Cacém, integrada na Quinta da Bela Vista, hoje Parque Urbano, construído pela Empresa Cacém Polis, era o seu espaço de lazer dos tempos livres, sobretudo na época de Verão. Está abandonada e em acelerada degradação. Era uma casa de campo bastante interessante pelos elementos decorativos aplicados. A revista espanhola “Cortijos y Rascacielos”, publicou em 1935 um artigo sobre esta Casa e nele era estabelecido o paralelismo entre algumas das construções portuguesas, as hispano-americanas e as espanholas do Sul, particularmente as “gaditanas”. Envolvida por um ambiente campestre, situava-se num dos locais mais aprazíveis do Cacém, autêntico convite a retemperar forças e a encontrar paz de espírito. Frequentemente almoçava no Varandim da Casa. Foi nela que Ribeiro de Carvalho encontrou muitas vezes a fonte de inspiração para a redação dos seus brilhantes artigos, elegendo o silêncio da noite como momento indicado para a exploração da magia das palavras.

Alguns dos seus livros terão também sido escritos na sua casa do Cacém.

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Licenciado em História pela Universidade Autónoma de Lisboa “Luís de Camões”. É mestre em História Regional e Local pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Autor em co- autoria do livro Ribeiro de Carvalho – Um Republicano com alma de sonhador”, Editora Sete Caminhos, Lisboa, 2005

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