Integrado nas Jornadas Europeias do Património no MU.SA – Museu das Artes de Sintra, teve lugar o evento Cambansa Sintra e Bissau, organizado em parceria entre ÉTER-Produção Cultural, a Alagamares, a Câmara Municipal de Sintra e a Única-Mixing Cultures (& Mixing Colors). Com esta parceria, a Alagamares deu início a um ciclo que se prolongará pelos próximos meses em que todos os países da lusofonia foram revisitados, 40 anos depois das independências, sendo a Guiné-Bissau o primeiro, e levando figuras da área social, cultural e económica para uma re(descoberta) das realidades desse país irmão e de como Portugal com ele convive passados estes anos.
No Colóquio “Encontro com a Guiné-Bissau” promovido pela Alagamares, em torno da Lusofonia, assinalando a literatura, música, gastronomia e cultura em geral da Guiné Bissau, intervieram Mamady Sissé (Presidente. da Associação. Islâmica da Tapada das Mercês); Braima Gomes Cassamá, Presidente. da Ass. Posso); Renato Epifânio (Presidente. do Movimento Internacional Lusófono) David Martins (ÚNICA – Mixing Cultures e ÉTER -Produção cultural) e Fernando Morais Gomes, Presidente da Alagamares. Foi focada a situação de precaridade política e económica em que vive aquele país, as ajudas no campo das ONG’s para o combate ao analfabetismo e saúde pública, e a relação com Portugal, tendo-se abordado experiências de guineenses que cá vivem.
Recorde-se que Sintra e Bissau são cidades geminadas desde 1997 e em Sintra reside uma relevante comunidade daquele país cuja independência ocorreu há 42 anos, a 24 de Setembro de 1973, após 13 anos de guerra com Portugal.
Algumas fotos:
O Painel: Mamady Sissé, David Martins, Fernando Morais Gomes, Braima Cassamá e Renato Epifânio
Não obstante a Guiné-Bissau estar ainda entre os dez países mais pobres do mundo, com a economia assente sobretudo na agricultura e na pesca, a castanha de caju é seu o principal produto de exportação, e embora o solo seja rico em bauxite e fósforo, a prospecção e exploração destes recursos é recente, e necessita de investimentos estrangeiros.
Os principais importadores são Índia e Singapura, ocupando Portugal um 3º lugar, com uma quota de apenas 0,5%. Já na lista dos principais fornecedores, Portugal ocupa o 2º lugar, com uma quota de 37,2%, logo a seguir ao Senegal. Há uma real necessidade de bens de equipamento, alimentos de primeira necessidade e produtos petrolíferos (óleos, combustível). Recorde-se que 765 empresas portuguesas exportavam para a Guiné-Bissau em 2013, e que esse número pode e deve ser ampliado, seja em parcerias, cooperação ou investimento reprodutivo que leve e traga benefícios a todas as partes.
O sector das pescas, por exemplo, é um mercado promissor, considerando a localização do país, o turismo é igualmente um segmento de negócio a explorar. A Guiné-Bissau possui atractivos naturais de eleição, e localiza-se próximo de países que também atraem investimentos em turismo, como o Senegal, Cabo Verde e a Gâmbia.
No sector agro-industrial, os segmentos mais promissores são a indústria madeireira, a produção de maquinaria para a agricultura, a indústria extractiva, o mercado da castanha de caju, das frutas e legumes, a produção de sumos, mel e castanha processada, a produção de milho e cereais, a farinha de mandioca, rações para animais, produção de óleo de palma, conservas de pescado, etc.
De lembrar que a Guiné Bissau faz parte da CEDEAO, da CPLP, e da União Económica e Monetária do Oeste Africano – UEMOA, que engloba o Senegal, Mali, Togo, Benin, Burkina-Faso, Níger e Costa do Marfim, podendo ser uma porta de entrada para um mercado maior e promissor.
A agricultura representa 50% do PNB e 80% da população está ocupada nesse sector. Há 1.424.000 de hectares de terra arável, dos quais apenas 400.000 hectares são utilizados.
O sector do arroz domina o segmento alimentar, com uma produção anual de 125.000 toneladas. A castanha de caju representa igualmente um segmento importante, sendo a Guiné-Bissau o segundo produtor mundial deste produto, a seguir à Tanzânia. Relevo também para os amendoins, algodão, cana-de-açúcar e produtos florestais. Podem encontrar-se oportunidades de negócio no sector das madeiras, maquinaria agrícola, indústria extractiva, cereais e no agro-alimentar, etc.
O sector das pescas oferece a possibilidade de capturas de 250.000 a 300.000 toneladas de peixe por ano, o equivalente a 130 milhões de dólares, representando 46% do rendimento do Estado e 5% do PNB. Neste sector, podem surgir oportunidades na área do peixe e marisco, aquacultura, portos, e nos serviços do sector das pescas.
Há um aspecto que é fundamental, e aí a intervenção de Portugal pode ser determinante: sem água potável ou electricidade, aspectos básicos da saúde e habitação não é possível um quadro viável para o desenvolvimento. Há pois a reconstrução das infraestruturas, e toda a rede de equipamentos primários ainda por concretizar e modernizar.
Mais que dar o peixe, temos de aprender a pescar, e apostar nesse manancial que é o mercado da lusofonia e a miríade de oportunidades por explorar.
No passado, foram Gonçalo e Pedro de Sintra quem o infante D. Henrique enviou para as costas da Guiné, tendo sido pioneiros para lá do Bojador, e os primeiros europeus na Serra Leoa e na Libéria. Com a arma da palavra e o desafio da oportunidade, voltemos pois de braços abertos a estreitar laços que a História teceu e o futuro deverá vincar.
País lusófono, apenas 14% contudo falam português, cercado que está pelo peso da francofonia e sua relevância cultural e económica. Pode e deve o português, contudo, enquanto língua da solidariedade, ao invés do francês, que é a língua da diplomacia , ou do inglês, língua dos negócios, contribuir para o sonho de Agostinho da Silva, o de um dia se criar uma comunidade não de países, mas de povos lusófonos.
Como escreveu o poeta guineense Pascoal d’Artagnan Aurigemma:
“Como o chapinhar do tempo
nós seremos e sempre
a filosofia garante do tempo presente.”
Programa Geral do Evento:
Outras fotos do evento, da autoria de Rui Grazina: