A Alagamares promoveu na manhã do dia 2 de Agosto uma visita ao Museu São João de Deus – Psiquiatria e História, instalado na Casa de Saúde do Telhal.
Inicialmente concebido para preservar como memória histórica a produção artística dos alienados, sensibilizar o público visitante e estimular a educação estética e cultural, é hoje, 5 anos depois da abertura, um espaço abrangente e pluridisciplinar, incluindo temáticas como a biografia de São João de Deus, a história da Ordem Hospitaleira em Portugal nos últimos 400 anos, a história da psiquiatria, ou da medicina e da enfermagem, entre outras.
Com esta iniciativa, a Alagamares pretendeu incluir nos hábitos culturais sintrenses o conhecimento de espaços que por norma estão fora dos habituais circuitos de divulgação e por isso desconhecidos do grande público.
Mário Eloy, Abel Salazar, Stuart Carvalhais ou Joaquim Guerreiro, foram artistas que estiveram internados nas Casas de Saúde da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, como lá fora o estiveram noutros hospitais artistas famosos com perturbações mentais como Edvard Munch, Vincent Van Gogh ou Henri Toulouse-Lautrec. As principais patologias dos doentes internados no Telhal eram a depressão, a esquizofrenia e o transtorno bipolar, que por vezes tiveram de se submeter a internamentos temporários ou vitalícios.
As perturbações mentais transparecem, com frequência, na obra de muitos artistas, atingindo, por vezes, uma exacerbada emotividade, mas sem interferir com a respectiva qualidade técnica e artística.
Na década de 1920, o Dr. Luís Cebola, director clínico da Casa de Saúde do Telhal, após visitar vários hospitais psiquiátricos na Europa, adoptou a terapêutica da Laborterapia, fosse em actividades artísticas, fosse noutras manuais ou agrícolas. Nas décadas seguintes, esta terapêutica ocupacional revelou-se um meio de evidentes melhorias no estado de saúde dos doentes, tendo sido implementada nas Casas de Saúde da Ordem Hospitaleira.
No caso da pintura, em particular do retrato e da caricatura, esta terapêutica pretendia estimular o doente a projectar os seus conflitos internos na tela, independentemente da beleza da obra e da formação artística do seu autor. Para o efeito, evitava-se a cópia e incentivava-se a expressão espontânea e pessoal. Exemplar é a secção dedicada a Mestre Abreu, um paciente açoriano internado no Telhal durante dezenas de anos e autor de telas apuradas e de grande qualidade artística. Realce também para o poeta António Gancho, que ali passou parte da vida, e é hoje citado em antologias europeias de poesia.
Obras de antigos pacientes, fardamentos e instrumentos usados no tratamento podem ser vistos neste fascinante local, cuja visita se recomenda vivamente.
Algumas imagens da visita, que contou com a participação de 35 participantes.