A 3 de Outubro passado foi lançado na Adega Viúva Gomes, em Almoçageme, o livro de António Mateus Cruz #rumo aos250, uma obra que relata a história das festas de Nossa Senhora da Graça, padroeira da terra, celebradas ininterruptamente desde 1768
Depois de 2013, um conjunto de jovens, entre os quais António Mateus Cruz tem-se vindo a envolver no sentido de que as tradicionais festas não morram, criando o hastag #rumoaos250anos”. Ao escrever este livro, o autor pretendeu igualmente que a receita da obra fosse oferecida à Comissão de Festas de Nossa Senhora da Graça.
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O livro pode ser adquirido No comércio local, como o minimercado Dias, em Almoçageme, o restaurante Búzio, na Praia das Maçãs, o Quiosque da Dona Jú, na Praia Grande, na papelaria Lápis de Cor, no Mucifal, na Adega Regional de Colares, no Café da Natália, em São Pedro de Sintra, ou na loja online dos Parques Monte da Lua e nas diversas lojas dos monumentos históricos de Sintra.
A propósito desta obra, António Mateus Cruz deu uma entrevista ao site da Alagamares
Quem é o António Mateus Cruz? Fale-nos um pouco de si, e das suas diversificadas atividades.
Nasci na Praia das Maçãs, e desde cedo que a minha motivação foi fazer mais e melhor pelo sítio onde vivo. Estudei design gráfico e gestão hoteleira. Actualmente, trabalho em família no Restaurante “Búzio”, procuro estórias para fotografar, e no tempo que me resta dedico-me a alguns projectos associativos.
No campo da fotografia, colaborei com revistas de Surf e Bodyboard e fiz a minha primeira exposição sobre Sintra, em 2006. Em 2016, publiquei o meu primeiro livro “Um pouco de Sintra”, e espero assim continuar a contar as estórias que fazem a história deste nosso cantinho mágico à beira-mar plantado.
Qual a sua relação com Almoçageme, e com Sintra em geral?
Diria que tem sido uma relação de amor e ódio! Em miúdo, quando estudava na Sarrazola não me dava nada bem com a “malta” de Almoçageme. À medida que fui amadurecendo, a festa de Outubro, em honra de Nossa Senhora da Graça fez com que fizesse as pazes com a aldeia, e hoje em dia tenho uma grande admiração pelo bairrismo dos “Marroquinos”.
A relação com Sintra é diferente. Cresci envolto nesta melancolia e mistério que é a serra e o nevoeiro, e de num só dia podermos ter as quatro estações do ano. Apaixonei-me pelos encontros e reencontros que este litoral nos proporciona, e capturei do ar, de terra e do mar muitos dos pontos de vista, que me fazem dizer com orgulho que vivemos num dos mais incríveis lugares do mundo.
Como surgiu a vontade de escrever sobre os 250 anos duma festa tão simbólica para um lugar como Almoçageme? Que recursos utilizou na conceção do livro, e qual foi a sua preocupação prioritária?
Nos últimos anos encantei-me pela força da festa de Almoçageme, e quando estava a chegar uma data tão simbólica, como a realização da mesma à duzentos e cinquenta anos ininterruptamente, quis contribuir e fazer parte de alguma forma. A ideia principal deste projecto foi homenagear esta terra tão característica que é Almoçageme, e passar a responsabilidade aos mais novos de não quebrarem a tradição, e manterem a festa sempre viva, sem paragens, porque quando isso acontecer a festa perde parte da sua alma.
Que aspetos identitários existem nas festas de Almoçageme para subsistirem ao longo de 250 anos? Que eventos e figuras de referência sintrenses e almoçagemenses menos conhecidos do grande público gostaria de salientar?
Almoçageme vive muito do bairrismo, da “união faz a força” e da cumplicidade que existe entre as gentes para que seja possível esta festa perdurar ao longo de tantos anos. Nesta festa todos os eventos são importantes, porque é com cada um deles que se constrói o todo. Posso salientar o cortejo de oferendas por dar o pontapé de partida para que a festa se consiga realizar, sendo este evento aquele que angaria uma boa parte da receita para os gastos da festa. Em relação às figuras marcantes da festa é imprescindível falar do Metre Dias, dos irmãos Corvos, dos Chiolas, dos Moscatel, da Manela e do Manecas, do Zé da Pedra Alta, entre muitos outros.
Como vê as transformações que aqui ocorreram nos últimos anos, nomeadamente ao nível da vida social das pequenas localidades, como Almoçageme, Colares ou as praias? O que releva da vida local nos nossos dias?
Sinto que as pessoas estão cada vez mais distantes. Curiosamente, Almoçageme é a única aldeia do litoral de Sintra onde ainda se vê crianças a brincar na rua descontraidamente, sem recurso a telemóveis e afins. A organização destas festas populares é importantíssima para a comunhão de pessoas que partilham a mesma aldeia, mas dada a velocidade a que vivemos, a sua ligação não passa de um “Olá – bom dia!”. Por outro lado, a proximidade com a capital é cada vez mais curta e vejo isso como positivo para quem aqui vive todo o ano.
Se tivesse de sugerir um roteiro cultural e turístico por essa zona, que sugestões deixaria para um dia de visita.
Dependendo da altura do ano, muitas são as hipóteses culturais e turísticas que completam esta zona. Das praias à serra, dos restaurantes junto ao mar às fábricas de queijadas no centro histórico, do vinho de antigamente à cerveja mais recente, dos palácios aos castelos, das paisagens deslumbrantes aos Saloios prontos para um dedo de conversa, Sintra nunca desilude os persistentes, no entanto, não é um daqueles destinos de “chegar, ver e vencer”. Por aqui o melhor dia do ano pode ser em qualquer dia do ano, pelo que a minha sugestão é ficar, sentir, esperar com alguma calma, antes de criticar uma das melhores coisas que temos: o nevoeiro!
Um desejo pessoal que gostasse de ver cumprido nesta sua/nossa terra.
Gostaria muito que a zona litoral de Sintra voltasse a ter vida social! É triste ver a Praia das Maçãs depois do sol se pôr. Parece uma aldeia fantasma, seja Verão ou Inverno. A juventude conhecia-se toda, e este convívio mexia com a economia local ao longo de todo o ano. Esta nova “lei da Cinderela” imposta há poucos anos pela Câmara Municipal de Sintra destruiu o pouco que ainda restava de bares ou discotecas. Aos jovens restam as festas populares.
ABAIXO: Várias épocas da Festa de Nossa Senhora da Graça
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Entrevista de Fernando Morais Gomes