Dia 19 de Abril a Alagamares promoveu no Café Saudade, em Sintra, a apresentação do livro de Manuel Gandra “A.A.Carvalho Monteiro, Imaginário e Legado”, com intervenções do próprio, do escritor Miguel Real, e do editor e professor Loryel Rocha, numa viagem por uma geografia onírica na qual se procurou desvender alguma gramática simbólica
Manuel Gandra nasceu em Lisboa, em 1953. Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, tem-se consagrado à pesquisa da História Mítica de Portugal (nomeadamente no que respeita às Ordens do Templo e de Cristo, ao Culto do Império do Divino Espírito Santo, ao Sebastianismo e ao Hermetismo), da Iconologia da Arte Portuguesa e da Circunstância Mafrense, temas sobre os quais se tem debruçado amiúde. Foi professor dos ensinos preparatório e secundário, tendo leccionado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e no IADE. Actualmente é docente da cadeira Cultura Material e Símbolo, na Escola Superior de Design do IADE, bem como director do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica.
Durante a sessão, bastante concorrida, Miguel Real destacou o sebastianismo e o templarismo como presenças fortes em Carvalho Monteiro, ao invés da propalada vertente maçónica por alguns descortinada nos locais que criou ou mandou edificar, bem como na iconografia da Quinta da Regaleira, partilhando a ideia de que, a haver um caminho no chamado poço iniciático este será descendente, e não ascendente.
Loryel Rocha questionou aquilo que designou como os ontoarquétipos de um país, enquadrando a obra de Manuel Gandra no esoterismo segundo a moda grega, na quarta categoria de Aristóteles. Para ele, Gandra mergulha num plano profundo sobre temas em que muitos estão à superficie, recuperando e interpretando muita da documentação originária que explica e ajuda a perceber a História, não emitindo juízos de valor mas, pondo em evidência os factos, sobretudo.
Essa mesma postura propugnou o autor na sua intervenção. Essencial é ir às fontes e não aos comentadores, que trazem consigo já uma leitura sectária dos factos, detendo-se igualmente sobre a natureza alegórica do Palácio Quintela, onde Carvalho Monteiro também viveu, descrevendo-o como exemplo da iconologia aplicada a um único edifício. Sobre a Regaleira, descartou a leitura de um percurso feito para outros, mas concebido pelo milionário nascido no Brasil para si mesmo, atento o facto de durante muitos anos a Quinta ter sido de sua exclusiva e privada fruição. A Regaleira, para um colecionador como ele, terá sido mais um objecto pessoal, a somar às suas profusas colecções de insectos, obras de Camões ou até relógios. Camões está omnipresente na Regaleira, bem como a simbólica templária e sebastiânica, chegando Gandra a defender que D.Sebastião não morreu em Álcacer Quibir, antes terá falecido em França em 1646, e da sua sobrevivência na batalha fatal saberia o próprio Filipe II. Outra revelação que para si terá originado o mito do regresso do jovem rei numa manhã de nevoeiro atribui-a Manuel Gandra a uma errada transcrição das profecias de Bandarra, pois onde se passou a ler “névoa”, sempre terá estado escrita a palavra “neve”.
Pistas e leituras para um tema que nunca estará encerrado.