Como muitos dos “ingleses” em Portugal no século XIX eram afinal irlandeses…
Um deles foi o Duque de Wellington.
Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington (1 de maio de 1769-14 de setembro de 1852) foi um soldado e estadista anglo-irlandês, amplamente considerado uma das principais figuras militares e políticas do século XIX. Ele veio de uma família de nobres – seu pai era o 1º conde de Mornington e teve proeminência nas guerras napoleônicas, atingindo o posto de marechal de campo. Wellington chefiou as forças aliadas durante a guerra peninsular, empurrando o exército francês fora da Espanha e chegando ao sul da França. Vitorioso e saudado como um herói na Inglaterra, ele foi obrigado a retornar à Europa para comandar as forças anglo-aliadas em Waterloo, após o que Napoleão foi exilado em St. Helena. Wellington é frequentemente comparado ao primeiro duque de Marlborough, com quem compartilhou muitas características, principalmente uma transição para a política depois de uma carreira militar altamente bem-sucedida. Serviu comO primeiro-ministro do Reino Unido em duas ocasiões separadas, e foi uma das principais figuras da Câmara dos Lordes até 1846.
Nasceu em Dublin, terceiro filho da Garret Wesley, 1º conde de Mornington, foi educado em Eton de 1781 a 1785, e depois mudou-se para Bruxelas.
Foi nos anos seguintes que Wellesley realizou os eventos que fizeram o seu lugar na história. Depois de 1789, a França viu-se envolvida na Revolução Francesa, dom Napoleão a ascender ao poder em 1799. Wellesley participou numa expedição à Dinamarca em 1807, que logo levou à sua promoção a tenente-geral e uma transferência para o teatro da guerra peninsular. Essa guerra foi o cenário onde os britânicos (e os portugueses) conseguiram levar a cabo a luta contra a França e seus aliados. Wellesley derrotou os franceses na Batalha de Roliça e na Batalha de Vimeiro em 1808. A convenção resultante de Cintra, que estipulava que o exército britânico transportaria os franceses fora de Lisboa, era controverso, e custou a Wellesley uma apresentação a um tribunal militar. Posteriormente Wellesley foi nomeado comandante-chefe de todas as forças britânicas em Portugal. Voltando para a Ibéria em abril de 1809, derrotou o exército do rei José da Espanha (irmão mais velho de Napoleão) na Batalha de Talavera em 1809 e começou a conduzir as forças francesas para fora de Portugal em 1810 a 1811, lutando no Buçaco, Lisboa e em Fuente de Oñoro. Em maio de 1811, foi promovido a general pelos seus serviços em Portugal.
A CONVENÇÃO DE SINTRA
Na tarde de 22 de agosto de 1808, depois das sucessivas derrotas do exército francês nas batalhas da Roliça e do Vimeiro, Junot envia o General Kellermann a apresentar-se no quartel-general do exército britânico (então situado na aldeia do Vimeiro), a fim de pedir tréguas. Estas foram concedidas no mesmo dia, sob a forma dum armistício assinado entre o General Wellesley e o General Kellermann, segundo o qual se discutiriam nos dias seguintes as estipulações para um acordo definitivo para a retirada das tropas francesas de Portugal. Entre outras disposições, este armistício estabelecia o rio Sizandro como fronteira entre as tropas britânicas e as francesas, enquanto as tropas portuguesas deveriam ficar atrás da linha entre Leiria e Tomar.
Finalmente, depois de vários dias de discussões, e mantendo-se os exércitos britânico e português atrás das ditas linhas de demarcação, o acordo definitivo foi assinado em Lisboa, a 30 de Agosto de 1808, pelo Quartel-Mestre-General George Murray, da parte do exército britânico, e pelo General Kellermann, da parte do exército francês. No mesmo dia, também em Lisboa, Junot, na qualidade de general-em-chefe do exército francês, ratificou o texto da Convenção, que foi igualmente ratificada, um dia depois, em Torres Vedras, pelo seu homólogo o general-em-chefe Sir Hew Dalrymple, da parte do exército britânico. Em data incerta, mas certamente entre os dias 31 de agosto e 1 de setembro, o texto desta Convenção foi também ratificado pelo Almirante Charles Cotton, da parte da marinha britânica, a bordo do Hibernia, navio de guerra a partir do qual Cotton comandou a esquadra britânica, que bloqueou o porto de Lisboa durante o contexto da chamada Primeira Invasão Francesa. Como se indica, nenhum dos intervenientes assinou ou ratificou a Convenção em Sintra. O facto de ter ficado conhecida como Convenção de Sintra, havendo inclusive várias hipóteses sobre o sítio onde supostamente teria sido assinada (entre os quais o Palácio de Queluz ou o Palácio de Seteais, deriva de um mal entendido, que surgiu não em Portugal (onde o texto da Convenção tardou muito a tornar-se conhecido) mas sim na Inglaterra, depois do texto da mesma ter sido publicado (a 16 de Setembro de 1808) num número extraordinário do periódico The London Gazette, antecedido não só pelo texto do armistício acima referido mas também por uma carta do General Hew Dalrymple ao governo britânico, datada de 3 de setembro de 1808, quando o quartel-general britânico já tinha passado a Sintra (ou seja, depois da ratificação da Convenção, pois o armistício assinado a 22 de agosto impedia tal movimentação). Assim, como a referida carta de Darlymple foi remetida de Sintra, a Convenção, que provocaria imensas críticas (chegando ao ponto do governo britânico ter de mandar chamar de volta os principais intervenientes para serem questionados por uma comissão de inquérito), passaria a ficar conhecida pela própria imprensa britânica, alguns meses mais tarde, como Convention of Cintra. Inevitavelmente, esta expressão acabou por passar para o mundo lusófono, sobretudo através de muitos textos publicados na imprensa britânica, que foram logo naquela época traduzidos e transcritos no Correio Braziliense, jornal mensal publicado em Londres por Hipólito da Costa.
Em termos militares, o acordo traduzia-se em benefícios mútuos: Junot, sem linhas de comunicação confiáveis com a França, retirava suas tropas sem maiores perdas e em segurança. Os ingleses ganhavam o controle da capital, Lisboa, e da temida linha de defesa da barra do rio Tejo, sem necessidade de combate. Contudo, apesar de muitas discussões entre os comissários britânicos (Tenente-Coronel Lord Proby e Major-General William Carr Beresford) e o francês (o próprio General Kellermann) que tinham sido nomeados para supervisionarem a execução da Convenção, a forma final deste acordo permitiu que os franceses levassem consigo não só as suas armas e bagagens mas também uma quantidade indeterminada, mas certamente muito grande, de bens saqueados em Portugal. Com este acordo, os franceses ganharam tempo e voltariam a invadir Portugal um ano mais tarde.
Outros irlandeses ficaram na história de Portugal, e de Sintra, também: William Beresford, as irmãs Lawrence e outros. A eles voltaremos noutra ocasião.
Em Portugal, Wellesley derrotou os franceses na Batalha de Roliça e na Batalha do Vimeiro em 1808. mas foi substituído no comando imediatamente após a última batalha. O general Dalrymple, logo de seguida, assinou a controversa Convenção de Sintra, que estipulava que a Marinha Real Britânica transportaria o exército francês para fora de Lisboa, com todos os seus despojos, e insistiu na associação do único ministro do governo disponível. Perante esta situação equívoca, Wellesley e Dalrymple foram enviados de volta à Grã-Bretanha para enfrentar um tribunal. Wellesley concordara em assinar o armistício preliminar, mas como não tinha assinado a convenção foi libertado.