É frequente ver-se as paredes, fachadas e muros por todo o país conspurcados com rabiscos ininteligíveis que mais não são que demarcação de territórios para franjas de supostos jovens irreverentes, e longe daquilo que se pode designar como street art ou grafito, forma de expressão que tem inclusive executantes de mérito e grande talento. A cada vez maior fealdade das cidades é sinal de marginalidade, falta de respeito pela propriedade alheia e sinal de desprezo pelos outros e pelo local onde muitos dos “artistas” habitam. Mas mais confrangedor é quando tal ato de malvadez invade os paraísos naturais do nosso país, feitos pela calada da noite e sem qualquer mensagem ou intenção que não seja a afirmação de um individualismo antissocial, que nada acrescenta senão poluição visual.
Sintra, Património da Humanidade tem um dos mais ricos patrimónios que misturam uma paisagem exuberante, construída pelo Homem, com palácios e quintas que dela fizeram como todo o mérito Paisagem Cultural da Humanidade em 1995, e desde então para cá tem visto esse território valorizado, por um lado, mas igualmente vítima de uma certa turisficação que a pandemia do coronavírus temporariamente travou, com as dores de crescimento que a dualidade Turismo versus Sustentabilidade suscita. A isso não pode nem deve acrescer a degradação da paisagem natural, seja por cortes abusivos e com fins meramente económicos de arvoredo que constitui a Imagem de Sintra, quer por essa praga daninha que são os tags e as pichagens em muros, pedras vetustas e espaços românticos que com tal conduta ofendem os verdadeiros sintrenses e quem se debate para manter e promover o nosso Património.
Neste tempo de desvario em que se destroem estátuas sem lógica, em que as alterações climáticas criam erosão, incêndios e degelos, transformando este planeta azul num lugar cada vez mais cinzento, não se contribua para destruir e desvalorizar o que é nosso e não de alguns energúmenos. A título de exemplo, deixo aqui algumas imagens, da autoria do Daniel André, que demonstram o quanto devemos estar preocupados e questionar-mo-nos sobre se merecemos o estatuto que nos conferiram, mas que só alguns quixotes vão persistindo em manter. Porque no Éden não há tags. Civismo, por favor, para ver não é preciso mexer. E já agora, mais vigilância.
Fernando Morais Gomes