Sobre o Centro Histórico muito já foi dito, subsistindo velhas questões como a da sobreposição de planos e entidades, que criam uma cacofonia de gestão e não permitem aos decisores uma assunção plena do seu papel, sendo certo que a autarquia é a única com génese democrática e escrutinável.
Persiste igualmente um segmento do turismo baseado no excursionismo, com uma média de dormidas no concelho de 2,3 noites (Cascais tem 3,4) e apenas cerca de 1500 camas entre hotéis, pensões e demais alojamentos, não obstante se registe o aparecimento de novos espaços de alojamento.
Apostar no transporte público no acesso à serra e seus polos turísticos, com preços moderados para quem aceda aos palácios de transporte público, sendo o bilhete de entrada e transporte vendidos em conjunto, e com um diferencial de preço significativo poderá ser uma medida entre outras, bem como o reforço da sinalética e o incremento de placas explicativas dos monumentos a visitar.
Adoptar benefícios em sede de taxas ou impostos a quem voluntariamente recupere edifícios e património, bem como destinar parte do montante cobrado em sede de contra-ordenações a um fundo de reabilitação urbana, criar no PDM a Área de Paisagem Cultural de Sintra, englobando a área do concelho, do Parque Natural, POOC, Rede Natura 2000 e Centro Histórico, com homogeneidade de gestão, são iniciativas que à Alagamares se afiguram plausíveis, no quadro de uma Agência Municipal de Investimentos que promova o emprego e o crescimento, as actividades económicas essenciais (na óptica do turismo, empregabilidade, fixação no terciário, lazer e habitação qualificada ) e proponha uma política de apoios tributários apelativa, passando pela celebração de protocolos ou contratos programa que desenvolvam um partenariado positivo e gerador de sinergias que se manifestem de modo permanente e não só no momento do licenciamento ou instalação.
Deve pois ser elaborado um projecto de urbanismo comercial do Centro Histórico que envolva de forma clara comerciantes e autoridades. A animação das ruas, com pequenos espectáculos musicais ou outros, concursos de montras, a iluminação e decoração festiva, as semanas temáticas, são alguns dos eventos que poderão servir como antídoto ao marasmo reinante, onde espaços velhos aguardam que a especulação imobiliária os transforme em bancos ou lojas de compra de ouro ou de telemóveis, como agora é o caso.
Essenciais se tornam igualmente benefícios camarários na transmissão de imóveis para comércio tradicional e criação de emprego local, apoios à reabilitação contratualizados não só para as obras mas também para os usos subsequentes; política de eventos e de promoção agressiva, segurança, branding comercial, que não se esgote em eventos avulsos e de cosmética, criação de um Gabinete Municipal que centralize a recuperação comercial, a política de horários, a segurança e mobilidade, e uma política de toldos, esplanadas e ocupação do espaço público pró-activa e dinamizadora.
Francisco Hermínio Santos questionou a aquisição pela autarquia do Hotel Netto, recentemente decidida para aí instalar um hostel destinado a jovens quando já haviam projectos e financiamento para tal fim por parte da Parques de Sintra, que em seu entender estará mais habilitada para gerir o local, manifestando a opinião de que seria mais adequada a aposta numa gestão integrada do Centro Histórico, recuperando-se um Gabinete com essa finalidade bem como certos programas que no passado terão já mostrado potencialidades, como o RECRIA ou o CORESINTRA, posição que foi questionada por Vítor Marques, morador e comerciante da Vila.
O historiador João Rodil lançou uma sugestão: porque não trazer para Sintra e para o Centro Histórico o polo de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa? Igualmente por si foi salientada a necessidade de perservar o património móvel e imaterial, dando como exemplo o dos arquivos históricos da Câmara Municipal e a premência da definição dum espaço com dignidade para acolher os mesmos, realçando o tesouro que constituem a par dos arquivos da Santa Casa da Misericórdia.
O facto de muitos dos imóveis ao abandono no Centro Histórico serem propriedade municipal foi também referido, destacando-se o papel propulsor que à autarquia está cometido no processo de recuperação a promover.
Usaram ainda da palavra os munícipes Paulo Escoto, Rui Oliveira (que denunciou a situação de quase “clandestinidade” em que se encontra a placa evocativa de Margarida Fernandes na igreja de S.Martinho, ofuscada pelos ecopontos sempre rodeados de lixo) e o encenador José Sabugo, tendo no final ficado decidido enviar à União das Freguesias de Sintra e à Câmara nota desta iniciativa e das preocupações aqui elencadas pelos presentes, enquanto cidadãos e stakeholders, numa óptica de colaboração e preocupação com um território e um acervo patrimonial que a todos pertence.