Decorreu o Caminho das Cruzes

Decorreu no dia 16 de julho o Caminho das Cruzes, roteiro pedonal evocativo de antigos percursos que pela serra de Sintra levavam em peregrinação ao Convento dos Capuchos. A visita decorreu sobre orientação de Nuno Miguel Gaspar e Daniel André, tendo durante quase 5 horas sido percorridos trechos cénicos da serra e feito o enquadramento histórico e espiritual do lugar.

Nuno Miguel Gaspar

Abaixo, em anexo, deixamos o texto-guião da visita, desde já agradecendo a presença de todos e deixando o convite para participação em futuras iniciativas da Alagamares.

O CAMINHO DAS CRUZES – UM ANTIGO CAMINHO DE ACESSO AO CONVENTO DOS CAPUCHOS

GUIÃO

Por Nuno Miguel Gaspar

2023

INTRODUÇÃO

A regular movimentação de pessoas por motivos espirituais e religiosos é um fenómeno que ocorre desde tempos muito recuados, mas que, no contexto da cristandade ocidental, assume particular relevância na Idade Média.

O termo “peregrinação” provém do termo latino peregrinatio, cuja raiz reside, por seu turno, na expressão per agros, isto é, pelos campos. Trata-se, essencialmente, da jornada realizada por um devoto de uma dada religião a um lugar considerado sagrado por essa mesma religião.

A peregrinação é um fenómeno universal da antropologia religiosa. O peregrino encontra o sobrenatural num lugar preciso, em que se participa de uma realidade diferente da realidade profana.

Os traços fundamentais da peregrinação são, pois, as motivações do peregrino, o percurso e o lugar sagrado de destino. Cada peregrinação comporta uma estrutura essencial: um peregrino que caminha por uma determinada rota; um lugar de chegada, escolhido em razão da sua situação em relação ao sagrado; a motivação do peregrino que procura – e espera – um encontro com uma realidade misteriosa e invisível.

No que concerne aos motivos que levam alguém à peregrinação podem ser os mais variados, como, por exemplo: a penitência, a acção de graças, a veneração e culto de uma potência sobrenatural, de uma pessoa santa, de relíquias sagradas ou mesmo o regresso às origens da religião que se professa.

Ora, no Convento da Santa Cruz da Serra de Sintra, não só se guardava “(…) huma grande relíquia do Santo Lenho, que trouxe de Roma o Padroeiro D. Álvaro de Castro, quando nella esteve por Embaixador ao Summo Pontifice Pio IV “, como, também, pela autoridade de uma bula papal, se concediam indulgências plenárias àqueles que, no dia da “Invenção da Santa Cruz”1, se deslocassem até ao convento e cumprissem determinadas premissas; tais como confessarem-se e rezarem pela alma do fundador.

Imagine-se, pois, a romagem que nesse dia se fazia até esse lugar. E não só nesse dia, a avaliar pelo que diz o Visconde de Jorumenha, na forma que aqui se reproduz: “Mas que tropel de gente aflue a esses sítios de todos os povos vizinhos? Não he só o povo, porem escolhida nobreza que acode da capital, a assistir aos officios e festas do Culto Divino”.

Nos dias que correm, as motivações para peregrinar podem ser, simplesmente, de cariz turístico; uma experiência de lazer, baseada na descoberta de património natural e cultural.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Basta introduzir-se, num qualquer motor de busca, a expressão “Caminho das Cruzes”, para sermos confrontados com a existência de diversas realidades que se lhe adequam perfeitamente, ou, pelo menos, se lhe aproximam: nomes de ruas (em várias localidades), trilhos e rotas (para actividades desportivas ou lazer).

E, se bem que actualmente tais caminhos possam já não evidenciar os vestígios materiais da existência dessas cruzes, o certo é que a sua prevalência na toponímia indica que ali estiveram em tempos; normalmente associados a percursos devocionais que assinalavam o acesso a locais de carácter religioso – santuários, igrejas, capelas, ermidas, etc. –, podendo, igualmente, estar relacionadas com a celebração do circuito ritual, designado como Via Crucis (Via Sacra ou Via Dolorosa); mediante a qual se reproduz, simbolicamente, os passos da paixão de Cristo.

Ora, reza a tradição que:

Na estrada velha de Sintra a Colares, um pouco abaixo do portão de Monserrate, existe o primitivo caminho que lhe dava acesso [ao Convento, vindo-se da Vila de Sintra]. Está assinalado, do nosso lado esquerdo, por um marco viário do século XVII que diz: «Caminho para o Convento de Santa Cruz da Serra, vulgo Capuchos».

Só a pé se pode percorrer e a subida pela serra torna-se algo penosa.

Noutra face desse marco viário vê-se a data de 1650 e umas letras que o grande arqueólogo Dr. Félix Alves Pereira, no seu livro póstumo “Sintra do Pretérito”, confessa não ter conseguido interpretar.

Parente amigo, estudioso e pessoa que se interessa por estas coisas, dá-lhe a seguinte interpretação: «Por mandado do Dr. Juiz de Fora».

Repare o leitor na gravura que acompanha este artigo (desenho por mim feito em 1957) e, julgo, também chegará a essa conclusão.”

Este texto, corresponde a um pequeno excerto do capítulo dedicado ao Convento dos Capuchos, constante do livro “Recantos e Espaços”, do ilustre autor José Alfredo da Costa Azevedo (1907-1991), um dos nomes maiores do século XX no Concelho de Sintra.

A propósito da referência feita pelo autor, reproduzimos, de seguida, aquilo que Félix Alves Pereira deixou escrito sobre este assunto, na obra supracitada:

Ficamos assim a saber que, segundo o testemunho de Félix Alves Pereira, eram três as cruzes que marcavam o caminho até ao Convento da Santa Cruz, colocadas, respectivamente, aos 256, 287 e 350 metros de altitude.

Das cruzes que bordejavam esse caminho não se encontram, hoje-em-dia, quaisquer vestígios; ainda que possamos aceitar o facto de poder vir a ser descoberta alguma (ou algumas), caída no meio dos matos e coberta pela densa vegetação.

Do marco viário sabemos que, em 1996, foi registado fotograficamente, ainda na localização que outrora ocupava e, por esse motivo, podemos identificá-la. No entanto, em algum momento posterior, pelo receio de que se perdesse – por roubo ou vandalismo –, foi recolhido do seu local original e transportado para as instalações do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas (MASMO), onde actualmente se encontra.

Ainda acerca do dito caminho, veja-se também a informação que a seguir se reproduz:

And here and there, as up the crags you spring,

Mark many rude-carved crosses near the path:

Yet deem not these devotion’s offering –

These are memorials frail of murderous wrath:

For wheresoe’er the shrieking victim hath

Pour’d forth his blood beneath the assassin’s knife,

Some hand erects a cross of mouldering lath;

And grove and glen with thousand such are rife

Throughout this purple land, where law secures not life.”

Lord Byron, Childe Harold’s Pilgrimage, 1812 (Canto I, Stanza XXI)

Ao passo que subis, vede quantas cruzes toscas, aqui e ali, á beira

do caminho! Não as tomeis por devotos testemunhos de piedade; — são

fracas memorias de ferozes matadores. Sim, por toda a parte que a vi-

ctima, soltando um grito, derramou o sangue sob o ferro do assassino,

alguém ha que levanta uma cruz de frágil ripa. E cheios dellas se en-

contram a cada passo bosques e valles nesta terra sanguinária, em que

as leis não bastam para proteger a vida.”

A imagem da nota de rodapé, tal como a tradução dos versos de Byron – a que a mesma se refere e que aqui transcrevemos –, constam da edição de 1905 da Cintra Pinturesca ou Memória Descriptiva das Villas de Cintra e Collares e seus Arredores, de original autoria de João António de Lemos Pereira de Lacerda, Visconde de Juromenha, comentada e anotada por António A. R. da Cunha que acrescenta, na supracitada edição, o seguinte comentário às estrofes de Byron:

É evidente que as frágeis cruzes de ripa que orlam a beira do caminho, das quaes fala o poeta, em nenhuma maneira se podem referir, como, aliás, pretende a tradição, ás grandes cruzes de pedra, que indicam ao viajeiro o trilho do convento dos Capuchos.

Por outro lado, que fundamento ha para se poder suppôr que esses indícios christãos de mortes naturaes ou violentas estivessem aíli, por esse tempo, espalhados em tamanha quantidade que merecessem, realmente, menção especial? A não se querer insinuar, á força, que lord Byron teve o propósito deliberado de mentir e difamar, quando é certo que os tristes successos da epocna lançam em grande parte um vivo clarão nas suas tremendas imprecações, é licito pensar que n’aquella estancia os oito primeiros versos vêem apenas para exprimir o fim do ultimo, que é um facto histórico.

Esses versos são, digamos assim, a severa forma poética, (e bem livremente poética!) em que se envolve, meia disfarçada, meia viva, a verdade.”

Também o artigo de autor anónimo da Revista Popular, de 1849 – que Félix Alves Pereira cita na sua obra –, narra, nas páginas 213 e 214, aquilo que se pode ler de seguida:

E, isto, é tudo quanto se pode dizer acerca deste assunto, no momento presente.

O CONVENTO DA SANTA CRUZ DA SERRA DE SINTRA

A origem do Convento da Santa Cruz da Serra de Sintra, comummente conhecido como Convento dos Capuchos – e, na literatura de viagens, largas vezes designado por “Cork Convent” (Convento da Cortiça) –, é tradicionalmente associada a um alegado voto, ou às disposições testamentárias de D. João de Castro (Governador e 4º Vice-Rei de Portugal na Índia); algo que, em rigor, não é comprovável, já que o testamento do ilustre fidalgo nada refere acerca do assunto. Diga-se, até, que nem mesmo o cronista da Província de Santa Maria da Arrábida – em cuja observância se inscrevia este convento – lhe consegue definir uma motivação fundacional concreta, ou, mesmo, um momento específico para tal e, por isso, nos diz que: “Na causa, que omoveo a edifical-lo neste lugar, fallão as nossas memorias com variedade, como tambem no tempo da sua fundação; com tudo concordando humas com outras, seguiremos o que nos parecer mais conforme com a verdade.”

O pequeno convento mereceu, desde sempre, uma particular atenção por parte dos seus visitantes, pelo extremo da sua pobreza. Poucos foram aqueles que, em tempos mais recuados, ao visitarem a casa, não deixaram escritas as suas impressões; as quais foram, na sua maioria, depreciativas. Nos dias que correm, porém, é precisamente o extremo despojo de bens e a prova de uma vivência muito próxima dos primitivos ideais franciscanos, num modo penitencial, que impressiona os que o vêem. É um exemplo inigualável de uma regra de vida muito específica.

São Francisco não havia querido propriamente fundar uma ordem, mas uma confraria de homens que só estavam unidos pelo mesmo sentimento, cuja principal manifestação exterior era o amor da “santa pobreza”. O franciscano tinha de viver do dia-a-dia, fosse do trabalho, ou da esmola. Essa pobreza era tanto individual como colectiva e, assim sendo, estava fora de questão a possibilidade de reunir fundos para a construção de igrejas e conventos. Por isso os franciscanos da primeira hora abrigavam-se em cabanas ou em paredes arruinadas, constituindo grupos quase eremíticos capazes de sobreviver sem dinheiro, numa relação íntima com a natureza; que consideravam perfeita, enquanto obra de criação divina.

Em poucos sítios do mundo se terá vivido tão “franciscanamente” como aqui, pois muitos dos professos, por via de interpretações liberais, aplicavam generosas excepções à Regra. Em sentido contrário, o conventinho sintriano não podia ter sido mais fiel, talvez o mais fiel. A sua construção totalmente integrada no meio envolvente, onde as paredes e o chão do edifício são as determinadas pela serra, vai aos limites da pobreza. Aqui se viveu em sacrifício face às exigências da natureza. Sem conforto para o corpo, os frades encontraram o conforto para a alma; porque na Serra de Sintra (como na generalidade das montanhas) parece que se está mais perto do céu.

A Ordem dos Frades Menores – designação canónica (oficial) da Ordem Franciscana – estabelece-se em Portugal cerca de 1217, sob a protecção da rainha D. Urraca, mulher de D. Afonso II. Não obstante, uma antiga tradição afirma que o próprio S. Francisco, em 1214, por ocasião de uma peregrinação a Compostela, teria fundado, em Bragança, o primeiro convento da Ordem. Esta tese é inconfirmável, dada a falta de documentação coeva que ateste tal facto.

No caso específico dos Capuchos, a escolha do local de implantação dos conventos assenta em pressupostos subjacentes a factores religiosos – salientando-se, entre esses, a necessidade de satisfação espiritual – mas, também, a factores biofísicos; ligados á natureza e à função dos espaços acercados. Os Capuchos, movidos “só do espírito, que trazido de mais recolhimento, e retiro, querendo fugir à comunicação da gente2, procuravam lugares ermos. Os sítios de pré-eleição eram os vales, “pois só neles os monges encontrariam o ambiente que melhor correspondia aos seus rigores místicos e religiosos3. Além disso, em termos ecológicos, estes são os solos que normalmente melhor respondem às necessidades de sustento das hortas e pomares4. O Convento da Santa Cruz, edificado num dos topos da Serra de Sintra, conjuga as características encontradas nos vales – dada a excepcionalidade biofísica da serra – com a próxima relação com o céu e com a noção de limites da Terra face ao Mar. Aqui se aliou um solo sacralizado a uma filosofia baseada em valores espirituais.

Assim, entre o ofício litúrgico, orações e penitências, o tempo foi correndo neste lugar até que, em Maio de 1834, é decretada a extinção das “Casas de Religiosos detodas as Ordens Regulares”. Em consequência dessa extinção, virá a ser abandonado pelos seus últimos habitantes e, posteriormente, adquirido pelo segundo conde de Penamacor, António de Saldanha Albuquerque e Castro Ribafria e Pereira (1815 – 1864), a quem foi dada a preferência no processo de aquisição; em virtude da sua ascendência e mediante interposição de requerimento apresentado nesse mesmo sentido.
Em 1846, o Abade de Castro e Sousa escreve um pequeno artigo sobre o convento, para a Revista Universal Lisbonense, no fim do qual exorta os padroeiros, para que o não deixassem continuar no “estado de desamparo em que se acha.Tal apelo terá, porventura, contribuído para que que o sobredito aristocrata “tendo beneficiado aigreja daquele convento para melhor Culto e serviço de Deos” haja endereçado, no ano de 1851, um pedido ao Cardeal Patriarca de Lisboa, no sentido de lhe ser dada permissão para mandar benzer, de novo, “a mesma igreja e capellas juntas para ali ser celebradoo St.º Sacrificio do Altar” o que, em consequência, lhe será concedido, tendo esse desígnio sido concretizado em 10 de Setembro de 1853. Por aqui, se fica a saber que, assim, foi recuperada a possibilidade de realização do culto religioso entre as vetustas pedras do cenóbio arrábido e que a tradição de ali se celebrar missa, ao menos em certas datas, haveria de continuar.

Em 1873, o terceiro conde de Penamacor vende o edifício conventual a Sir Francis Cook e, a tal propósito, diz-nos Alfredo Leal, na sua História de Sintra que “A intervenção do Visconde de Monserrate, não salvou pois um monumento digno de apreço, mas foi útil, porque seria estupido perder um documento de alguma maneira ligado á historia portugueza, e muito principalmente á vida das congregações religiosas do paiz.”

Por falta de fontes documentais – iconográficas ou outras – não é possível saber ao certo, até à data presente, em que circunstâncias concretas se encontrava o convento quando, como acima se referiu, Sir Francis Cook o adquire ao terceiro Conde de Penamacor, qual a extensão e natureza das intervenções realizadas no edifício.

Os efeitos da Primeira Guerra Mundial fizeram-se sentir, profundamente, nos negócios da família Cook que, em 1928, colocou à venda a propriedade de Monserrate e, com ela, o Convento dos Capuchos. A crise económica de 1929 e o início da Segunda Guerra Mundial dificultaram o aparecimento de potenciais compradores. Terminada a guerra, Monserrate voltou a ser posta à venda, pelo 4º baronete Francis Ferdinand Cook, tendo sido comprada, em 1947, pelo comerciante de antiguidades lisboeta, Saúl Fradesso da Silveira de Salazar Moscoso Saragga, o qual, dois anos depois, (1949) a irá vender ao Estado português.

O projecto global de conservação, restauro e requalificação do Convento dos Capuchos, recentemente levado a cabo, inclui a recuperação do conjunto edificado e de todos os elementos construídos e decorativos deste monumento, a melhoria dos equipamentos de apoio à visita (bilheteira, loja e instalações sanitárias), bem como a valorização do enquadramento paisagístico. O projecto contempla, ainda, a recuperação de espaços que visam o enriquecimento da visita, nomeadamente, a Casa da Horta – que terá, entre outras funções, a de apoio a actividades lúdico-pedagógicas – e o Celeiro; onde ficará instalado o núcleo museológico em que permanecerão em exposição as peças encontradas nas campanhas arqueológicas levadas a cabo neste local. No âmbito deste projecto, procedeu-se, igualmente, à beneficiação das infra-estruturas, que incluiram a instalação de iluminação de orientação nos caminhos, de redes de águas, de esgotos, de energia e de comunicações.

Em jeito de remate deste nosso percurso, apraz-nos deixar aqui um breve parágrafo, da autoria do Visconde de Juromenha, o qual, em nosso entendimento, expressa de forma axiomática o devir existencial do Convento da Santa Cruz de Sintra:


Pedras magestosas, que não despertais a cubiça, e por isso ainda resistis á mãodevastadora do homem, que altas lições estais apregoando no vosso silêncio; comoestais falando á imaginação!”

1 A invenção (ou “achado”) da Santa Cruz, por Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, aconteceu em Jerusalém, em 327. Não obstante, a reforma litúrgica, em 1969, tenha suprimido algumas festas da Igreja católica, escolhendo eliminar esta em favor daquela Exaltação da Santa Cruz – que se celebra no dia 14 de Setembro –, a Igreja de Jerusalém desejou conservar a lembrança da festa que, precedentemente, se celebrava no dia 3 de Maio, tendo sido, posteriormente transferida para o dia 7 do mesmo mês; para possibilitar o facto de a solenidade religiosa permanecer dentro do tempo pascal, unindo o mistério da Cruz ao da Ressurreição.

2 MONFORTE, Frei Manuel de – op. cit.; in. XAVIER, António Manuel – Das Cercas dos Conventos Capuchos. Évora: Casa Do Sul Editora, s.d. ISBN 972-8661-19-3. p.39.

3 Ibidem p.39.

4 Ibidem pp.39 – 41.

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