Dois poemas de Maria José Bento

Maria José Bento nasceu a 13 de Março de 1960, e desde muito nova tem o gosto pela escrita. Costumo dizer que é “poeta” de gaveta, mas é das muitas gavetas dos nossos inúmeros poetas que temos de libertar a poesia e espalhar a magia da palavra.


“…FALO E DIGO…”

Assim falo e digo

Do poder da multiplicidade,

Não sentir vaidade

Da camada de nervos.

Da perfeita química do físico

Da energia fundamental,

Numa marcha triunfal

Da aparência, do sujeito.

Até do objectivo, da forma

Do além da vida,

Com a alma anda metida

Até do jogo das escondidas

Das intenções, da arte

Do que queremos e fazemos,

Do que pensamos e dizemos

Do que já está feito…

Do final, do perto, do longe

Dos poemas que quero e faço,

Nos gestos de repulsa ou de abraço

Porque tudo se vive e é vida!

Paro, escuto, e reconheço o querer

O som da minha voz no ar,

Anima-me a capacidade de julgar

E ser alguém que vive de energia!


“FALTA…QUALQUER COISA!”


Falta sempre qualquer coisa

Até a mim falta também,

Falta em cada cubo seis lados

E o saber exprimir bem!


Quatro lados em cada quadrado

A solidez na dimensão do papel,

Perpetuar o movimento da corda

Não sentir estático o cordel!


Criar mais movimento nos versos

Que as células não sejam…verme,

Na música criar todo o ritmo

Não temer na vida o treme-treme

Nunca copiar o eco das coisas

Ver no espelho o reflexo real,

Vibrar com a sensibilidade

Ter lucidez, não ser ilegal!


Falta cantar, sem poder cantar

Não dar o canto por conveniência,

Fazer dos gestos uma roda alta

Para não ver insípida a existência!

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