Entrevista a Cláudio Pires: “Esta terra pertence, realmente a quem? A resposta só pode ser: Todos”

Cláudio Pires é um jovem ativista cultural envolvido em projetos cidadãos, presentemente a desenvolver um projeto em Queluz designado Expo Queluz 2022, com o qual pretende envolver comunidade, Memória e intervenção socio-cultural. Para saber o que o move e qual a sua visão de cidadão no Mundo e do Mundo, falámos com ele, tendo resultado esta interessante entrevista.

Cláudio, fala-nos um pouco de ti, e do que te traz ao intervencionismo cultural

O meu nome é Cláudio Pires. Sou filho e neto de Queluz e passados quase 8 anos fora do país, decidi voltar a esta terra que me viu, praticamente, nascer e crescer durante a maior parte da minha vida.

Este meu regresso fez recentemente 2 anos e, apesar de ter sido em circunstâncias inesperadas, num ano que muitas pessoas preferem não recordar, acabou por ser a melhor coisa que me poderia ter acontecido. “A maior das oportunidades”, como eu costumo apelidar.

Admito que tenho alguma dificuldade em descrever-me, mas sinto que sou apenas mais uma pessoa a tentar ajudar. Posso, muitas das vezes, não saber bem como, onde ou quando o fazer, mas acredito que o faça sempre numa tentativa de trazer um certo equilíbrio às coisas.

“Intervenção cultural é vida e responsabilidade”

Falando em “intervencionismo cultural” vejo duas coisas:

Primeiro, vejo a vida. Acho impensável separar a vida da cultura, e aqui pouco importa a definição que se dá a cada uma destas palavras. Sinto que elas são membros do mesmo corpo. Portanto, há que respeitar, desfrutar e partilhar.

Do outro lado, vejo a responsabilidade. O intervencionismo é, para mim, uma forma ativa de assumir esse sentido de responsabilidade, quanto mais não seja uma forte necessidade de o fazer, quer de um modo individual ou coletivo.

Acredito que estes dois mundos estão, intimamente, ligados por várias coisas. Desde logo pelo respeito. Pessoalmente, lembro-me de ter vivido sempre em ambos.

O que resta hoje em Sintra rural e dos saloios que demonstre autenticidade e perenidade? E no que refere às ditas zonas suburbanas, hoje eufemisticamente chamadas de metropolitanas?

Não posso falar muito sobre esta questão. Não acho que tenha conhecimento histórico ou social suficiente para dar uma opinião pensada como, normalmente, gosto de fazer. Mas numa perspetiva meio-relaxada diria que tudo depende da ideia que temos desta palavra “autenticidade”.

As coisas estão em constante transformação. E digo transformação, porque não sou grande fã da palavra “evolução” para definir este tipo de fenómenos. Esta é, aliás, uma das poucas leis universais em que acredito: “Nada se ganha. Nada se perde. Tudo se transforma”. Deste ponto de vista, acho que é uma questão de tempo até as coisas que víamos como tradicionais darem lugar a outras, e as mais recentes darem lugar a outras futuras. São ciclos de vida.

Para não ser tão lírico, digo isto: Vejo vários doutores na aldeia e muitos mais saloios na cidade. Não que queria desrespeitar alguém com esta frase, até porque não vejo como – somos todos ignorantes à nossa própria maneira.

Digo-o porque, têm sido varias as ocasiões em que me é transmitida uma sensação genuína de “conhecimento empírico” quando falo com alguém que vive, ou tem uma forte ligação a uma zona mais rural. Aquela sensação de “fala a voz da experiência”. Já nas zonas dos prédios e do stress barulhento, o sentimento mais vulgar, é de que ninguém sabe o que não sabe… Apesar dos certificados exibidos.

Fora isso, aprecio as queijadas de Sintra e os pastéis de nata e croissants da Marianita… São autênticas delícias que alegram o dia deste saloio que ainda se julga doutor.

Como vês a relação das pessoas com o Património? Estamos no caminho certo, no que respeita à interiorização da sua defesa? O que se deve fazer, em tua opinião?

Ui, esta pergunta pode inspirar um livro… Ou uma coleção deles.

Eu vejo Património em praticamente tudo, e se pensarmos nas suas vertentes humana, natural e histórica fica mais fácil entender esta visão.

Na minha opinião, a minha opinião e tão irrelevante que prefiro não opinar sequer se estamos no caminho certo ou não. Acredito que as coisas acontecem da forma que têm de acontecer – natural – e as consequências dos nossos atos são, também, elas inevitavelmente naturais, logo o caminho é o que é possível haver.

Não respeitar uma pessoa idosa, uma árvore, um rio ou as paredes de um palácio, a seu tempo traz as suas consequências. Volto a dizer que, acredito na responsabilidade de preservar o Património. E aqui nem dou tanto ênfase à parte física/material, porque essa acaba sempre por desgastar-se até esgotar-se. Foco-me muito mais na outra parte. Aquela que não é palpável, mas que é comum a todos os seres, incluindo de outras espécies. Essa deve ser, a meu ver, vista como prioridade quando se fala em preservação, pois é ela que deverá criar as bases que sustentam todo o património físico.

Se assim não for, e no melhor dos cenários, prevejo que continuaremos a ter de lidar com problemas que perpetuam há já algum tempo (milhares de anos) e alguns deles com tendência a agravar-se, como as questões ambientais ou a famosa busca constante dos povos por uma identidade.

Não digo o que deve ser feito. Digo o que tento fazer. Partilhar o pouco conhecimento que julgo ter, em prol de um benefício comum…. Incluindo todas espécies, tá claro.

“É o que é”

Que patrimónios, materiais e imateriais estão hoje mais em risco de desaparecimento ou desfiguração?

Não sei, mas acredito que estão todos, mais ou menos, em pé de igualdade. Não é preciso recuar muito na História para ver o que tem sido escrito ao longo de milénios. Sem ter contabilizados os acontecimentos, mais marcantes, ocorridos durante estes últimos anos, parece-me óbvio que o que eles mostram é que de um momento para o outro as coisas podem mudar drasticamente e sem aviso prévio. Os perigos de tomar algo como garantido é uma lição que, aparentemente, desaprendemos em menos de 2 anos.

Repito-me:Acredito que aos olhos do universo, todas as coisas acabam por ser naturalmente repostas por outras, mesmo tendo em conta que as forças que levam a essas mudanças possam ser das mais variadas (acordos ortográficos, desenvolvimento tecnológico, pandemias, crises económicas, falência de antigos negócios, vandalismo/destruição de monumentos, cheias, secas, fogos, poluição de ambientes naturais, etc)

Por isso, é como diz o ditado: É o que é.

“Os seres humanos, seja em que parte do mundo for, não estão acima do resto”

Que medidas e políticas públicas de defesa do Património e da Cultura deverão ser prosseguidas ou abandonadas?

Não sou pessoa que faça julgamentos de política. E, honestamente, não creio que seja exatamente por essa via que se encontra solução mais eficaz à questão.

Eu não preciso que exista uma política que me “obrigue” a limpar regularmente o chão de casa, ou a lavar a loiça depois de uma refeição. Ou a fazer reciclagem. Ou mesmo lavar as mãos cada vez que utilizo a casa de banho ou quando chego a casa da rua.

Vejo isto, principalmente, como uma questão de educação. E não me refiro apenas à académica. Nem apenas à educação de casa. Falo no global. Acho que as pessoas têm a responsabilidade de se educarem e não arranjarem desculpas, para tentarem justificar ações pouco, ou nada, construtivas. Se deixarmos de fora as forças políticas e os investimentos que poderiam ser feitos, mas que não são, vemos que há muita coisa disponível para combater a ignorância para que muitos destes problemas o deixem de ser.

O Japão, para mim, é um exemplo fantástico neste aspeto. Ao que sei, existem oficiais da polícia em qualquer canto, nas grandes cidades do país – falo apenas pelo que tenho visto, ouvido e lido – mas as pessoas têm, intrinsecamente, uma consciência muito presente e generalizada de que devem preservar as coisas. Parece ser algo profundamente enraizado. Respeito pelos antepassados, pelo lugar da mulher grávida e da pessoa em cadeira-de-rodas, pelo jardim que é público e por quem precisa de dormir. Posso estar completamente enganado nesta minha observação, mas de uma coisa eu não duvido: Os seres humanos, seja em que parte do mundo for, não estão acima do resto… Se me faço entender.

A natureza encarrega-se de nos relembrar que não controlamos nada e muito menos dominamos seja o que for, por isso iremos sempre ter de viver com as consequências das nossas ações. Repito. Acredito que cabe a cada pessoa assumir a sua responsabilidade, como parte de um todo, e não deixar cair essa responsabilidade nas mãos de uma minoria que, a meu ver, deveria ser tida como mais uma ferramenta de apoio à sociedade e não o princípio e fim de todas as questões sociais.

Contudo, sinto que quando existir uma sintonia de espírito neste sentido, as coisas tornam-se mais harmoniosas a todos os níveis. Dar atenção às crianças e proporcionar-lhes condições para que elas se desenvolvam da forma mais saudável possível, talvez não seja mau investimento para começar…

A realidade das zonas urbanas periféricas tem promovido comportamentos identitários que se possam considerar como expressão cultural?

Eu acho que a cultura manifesta-se de várias formas e não vejo que elas precisem de pedir permissão para se fazerem ver, independentemente, do lugar, da época ou do contexto social. Deste ponto de vista, a minha resposta é: sim, tem.

Vejo as periferias cada vez mais cosmopolitas. Cada vez mais, oiço idiomas distintos, em Queluz, Massamá, Amadora… E estes falantes já são moradores/trabalhadores/estudantes locais.

Poderiam haver mais incentivos para a promoção de muita coisa, claro. Mas existem várias associações a trabalhar, e bem, na integração de pessoas oriundas de outros países. Pessoalmente, gosto de ver restaurantes com gastronomia exótica, estilos de músicas variados, diferentes modos de vestir e outas coisas que são representativas de vários povos.

Tudo isto, para mim, é parte da expressão cultural.

“Esta terra pertence, realmente a quem? A resposta só pode ser: Todos”

Como vez a dita multiculturalidade existente em cidades como Lisboa e sua área metropolitana? Qual o caldo de cultura que daí resulta? É o mesmo inclusivo ou disruptivo? E isso tem virtudes ou é problemático?

Vejo com naturalidade.

Inevitavelmente, são inúmeras as coisas que daí resultam. Tendo vivido na cidade etnicamente mais diversificada do mundo – Londres – tenho uma grande dose de certeza que são muito mais a virtudes do que os problemas inerentes a este fenómeno. E mesmo os problemas que possam daí surgir, podem (e devem) ser solucionados, precisamente, pelas tais virtudes.

Primeiro, não me parece que a multiculturalidade seja algo novo. Acredito que ela sempre tenha existido e refiro-me tanto a Lisboa, como as zonas periféricas, ou a qualquer outro ponto do planeta.

Na escola primária ensinaram-me que, há muitos anos atrás, Portugal era habitado por Árabes e olhando para algumas fotografias mais antigas/centenárias de Queluz, essa imagem torna-se ainda mais nítida. Ao saber isto, uma pergunta óbvia que se pode fazer é: então esta terra pertence, realmente a quem?

A resposta só pode ser: Todos. Não vejo outra e basta ver o que nos rodeia para o comprovar.

Acredito, também, que se as pessoas refletirem um pouco sobre este assunto, muitos dos dogmas ainda existentes na sociedade atual, passam a estar instantaneamente dissipados. Ao que se sabe, este é um exercício que ciclicamente, e muito periodicamente, tem sido feito ao longo da nossa curta História de vida, enquanto espécie. Várias figuras tidas como inspiradoras, dedicaram as suas vidas a refletir e a partilhar a sua visão que, coincidência ou não, sempre foi bastante uniforme entre elas, independentemente da distância temporal que as separa.

No fundo, vejo que as coisas acontecem hoje como têm vindo a acontecer desde há muitos anos atrás, ainda que os cenários sejam relativamente diferentes e os intérpretes tenham nomes e aspetos também diferentes. Talvez, o maior desafio em diante, seja lidar com a emoção das máquinas. Este parece, sim, ser um assunto bizarro… Mas “bizarro” é apenas um ponto de vista e em questões de cultura não vejo que isso seja necessariamente mau… Desde que haja o tal respeito que faço sempre questão de realçar. E isto, claro, sem esquecer que não somos a única espécie existente no planeta.

“A cultura não morre. Como tudo, ela transforma-se, e nós nos transformamos com ela”.

Que trabalhos e iniciativas válidas têm ou deveriam ser produzidos no sentido de afirmar a defesa dos patrimónios, materiais e imateriais? Em tua opinião, a juventude é recetiva ou permeável a que tipo de manifestações culturais?

Se a última resposta foi longa, nesta vou ter de fazer um compasso de espera para que os estimados leitores preparem um chá e se sentem confortavelmente, caso ainda não o tenham feito…

Já agora, falo no plural porque acredito que esta entrevista será lida por mais de dez mil pessoas. Mais à frente irei agradecer o convite da Alagamares e apresentar formalmente as minhas desculpas pelos possíveis inconvenientes… Mas agora fora de brincadeiras, aqui vamos…

Acho que qualquer tipo de iniciativa, com vista ao beneficio comum, é muito bem-vinda. Especificar o tipo de iniciativas, não me parece ser a parte mais relevante, para o momento em que vivemos. Acho que a parte mais relevante nesta questão é as iniciativas chegarem às pessoas e provocarem algum tipo de impacto, suficientemente forte para que justifique o investimento nelas feito. A tal questão da responsabilidade que não sei se vos falei anteriormente.

Dando como exemplo recente: O incêndio na catedral de Notre Dame.

Na altura, e durante toda aquela semana, este foi o tema preferido dos meios de comunicação, motivo de debates parlamentares, manifestações públicas e mobilizações em prol da cultura. Hoje, passados 3 anos, até temos um documentário a ser lançado para o caso de alguém se ter esquecido do trágico evento, que felizmente teve 0 mortos registados.

Para quem estiver a ler esta entrevista, e antes que se pense que estou a ser irónico nas minhas palavras, permitam-me que diga desde já que, sim. Admito estar a ser irónico, porque já passei a fase da revolta e agora navego na ironia para evitar o desgaste emocional ou pior: o desinteresse total neste tipo de questões.

A catedral de Notre Dame é uma obra de excelência, património mundial da UNESCO e acho bem que seja preservada. Pela beleza, que lhe reconheço, pelo simbolismo, e por tantos outros fatores que alguém mais instruído que eu poderia enumerar. Mas serem investidos largos milhões de euros, e da forma SOS que foi, para a reconstrução de um edifício, não é algo que considero ser razoável. Acho que é absurdo.

Num mundo onde diariamente morrem centenas de pessoas por não terem acesso a água potável, onde anualmente são cancelados projetos humanitários por falta de fundos e onde milhões de crianças, sem condições básicas de vida, não vão a escola por falta de transporte, para não mencionar aquelas que são forçadas a trabalhar 30 horas por dia e sem folgas – estes e tantos outros cenários, uns mais e outros menos impressionantes, mas que são todos eles gritantes. Absurdo é o adjetivo mais simpático que encontro para descrever o que sinto ao ver o que não quero ver.

Deixo, já agora, duas notas de ressalva:

Primeiro – considero-me um amante da arte e tudo que envolva criatividade. Na música, dança, pintura, literatura, arquitetura, escultura, desporto e por aí fora até às coisas mais banais cujos nomes ainda não foram inventados.

Segundo – Gosto de visitar igrejas e a minha preferida teve, também, ela um enorme incêndio que quase a destrui na totalidade. Falo da igreja de S. Domingos, em Lisboa.

Se é verdade que acredito, piamente, que o património pode e deve ser – mais que protegido – promovido sem o peso do cifrão, não menos acredito que os dinheiros, que são depositados para fins como este que aconteceu em 2019, deveriam ter um destino bem mais prestável para o planeta e, consequentemente, para nós humanos.

Durante os últimos tempos, tenho visto, em Portugal, um discurso profetizado por várias pessoas ligadas às artes, como uma espécie de aviso aos governantes do país. “Salvem a cultura” ou “Não deixar morrer a cultura”, como se a dita cuja pudesse desaparecer assim do nada. Há que haver investimentos, claro. E a vários níveis. Mas, pelo que sei, mesmo durante os anos de ditadura, onde a liberdade de expressão não era um tema livre, a cultura não deixou de respirar. E de que forma, ela transpirou…

O que quero dizer com tudo isto é o seguinte: A cultura não morre. Como tudo, ela transforma-se e nós nos transformamos com ela.

Falando na juventude, ela tem, obviamente, um papel decisivo em tudo isto. Pessoalmente, não vejo a juventude de uma pessoa pela sua data de nascimento, mas sim pela energia que ela me transmite. Fora esse pormenor, a feliz fração de jovens que se interessa e dedica-se a fazer o que mais gosta, tem a minha mais profunda admiração. São gente inspiradora para mim, onde eu me incluo na “família”.

Acho que a juventude é recetiva a todo o tipo manifestações culturais… Desde que a façam acreditar, genuinamente, no propósito dessas manifestações.

 Fala-nos um pouco dos teus projetos mais próximos.

Faz este mês de maio, 2 anos que comecei a trabalhar para um projeto, cujo o objetivo primário é a promoção do património de Queluz.

Este ano o objetivo é realizar a EXPO QUELUZ 2022, que dará seguimento a exposição realizada no ano passado: EXPO QUELUZ 2021 – O Recomeço.

Costumo dizer que prefiro fazer a falar, e por isso vou poupar as palavras na resposta a esta pergunta.

Mas como tinha prometido na resposta anterior, quero deixar publicamente o meu agradecimento à Associação Alagamares pela oportunidade que me deu para partilhar a minha visão sobre temáticas que são comuns a todos nós e de alguma forma nos tocam, acredito eu.

As minhas desculpas, também, as deixo. Para quem nunca dominou minimamente a língua portuguesa, escrever respostas com 50 linhas só demonstra a minha total inexperiência em entrevistas deste género e que o meu QI pode entrar em competição direta com o desenho animado Homer Simpson. Espero não ter ofendido alguém, incluindo agora o Sr. Simpson.

Hoje em dia já é difícil ser-se agradável e mesmo assim não ser criticado. Mas caso as minhas palavras tenham causado alguma discordância ou incomodo, espero que sirva de motivação para que seja feito algo que traga benefício comum. Gosto de refletir, ter noção de perspetivas que desconheço e dialogar com outras pessoas. Isso traz um autoconhecimento que não pode ser comprado.

Está tudo interligado e ainda bem que é assim… Desde que haja sempre respeito e bom senso.

Obrigado e Carpe Diem

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