Concerto 31 de Dezembro-Entrevista com Eduardo Sérgio

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Nas vésperas do concerto do Rubbato Mobile Ensemble no Penedo, sábado, 31 de Dezembro, pelas 16h, nas Flores do Cabo, Pé da Serra, Almoçageme, falámos com Eduardo Sérgio, o seu mentor e artista multifacetado.

O que é o Rubbatto Mobile Ensemble? Onde e quando surgiu?

O RUBBATTO*mobile*ENSEMBLE nasceu no início de 1997 em Ponta Delgada. Foi constituído para ir competir no 3eme Tournoi de Improvisation Musical de Poitiers: Alessandra Giura Longo, flautas; Eduardo Sérgio, clarinetes e percussão; João Luis Macedo, guitarra; Ana Paula Andrade, piano.

Desde o seu início, o RmE foi detectado como vocacionado para a interpretação de produto músico-teatral. Vem sendo constituído, caso a caso, por performers das áreas da música, teatro e dança que concretizam projectos de minha autoria ou aos quais dou colaboração.

Que tipo de abordagem faz da música contemporânea, e quais são  as suas influências?

Dado que a direcção é minha, a estética que orienta o RmE é naturalmente da minha responsabilidade.

Citar influências é um pouco complicado — porém, as estéticas das vanguardas dos anos 60/70, e suas constantes renovações, dão muito claro sedimento aos nossos trabalhos.

O Eduardo Sérgio desempenha um papel central nesse trabalho. Quer falar-nos um pouco da sua obra?

Falar da minha obra… primeiro há que separar o ES professor universitário, do ES escultor, do ES fotógrafo de audioVisual, do ES que escreve ironia Filosófica sob o heterónimo Marquês de Rubbatto.

No sector da performance musico-teatral o panorama estende-se por espectáculos CUBOversUSFERA, 1976, e Amag´Arte, 1986, na Gulbenkian; conferências-performance no Canadá, na Gulbenkian, na FacLetras-UL, na FacBelasArtes-UL, tertúlias-performance em Praga, Messina, Matera, Mittersill, PontaDelgada, Montemor-o-Novo, Aveiro, Almada, Lisboa, Sintra até Colares e Almoçageme de hoje.

Vexations é o nome do espectáculo/sessão com que assinalam no Penedo, Colares, o final de 2016. Que apresentação vai ser esta, e que ambienta esperam suscitar?

VEXATIONS é o nome duma discutida obra do compositor francês Erik Satie (1866-1925) cujas celebrações dos 150 anos do seu nascimento tiveram lugar, neste ano de 2016, pelo mundo todo.

Foi escolhido o dia 31 de Dezembro por ser o último do ano das homenagens a Satie. Foi escolhida a obra VEXATIONS por ela propor um tema de 13tempos com a “bizarria” dele ser repetido 840vezes (!).

No estudo de que sou autor, apresento a descodificação do número 840; este significa uma cruz — cruz que se apresenta como uma mandala quadrada definidora de um percurso simbólico.

Segundo o estudado, VEXATIONS afigura-se, ainda ser um mantra, uma oração, uma meditação com a duração de perto de um quarto de hora que irá constituir a Parte II do programa.

Na Parte III será a reflexão sobre o mantra, onde estará envolvido o RUBBATTO*mobile*ENSEMBLE na sua totalidade — Maria João Serrão: voz / Sunil Pariyar: flauta Bansuri / Marc Planells: sitar / João Madeira: contrabaixo / Theodora T.: taças tibetanas, gongo Feng / Francisco Cabral: gongo Paist, percussão / Filipe Martins: percussão / Eduardo Sérgio: clarinete baixo, vibrafone, direcção.

Será isso que será explicado e ouvido no evento anunciado para o próximo dia 31, pelas 16horas, nas Flores do Cabo, Pé da Serra, Colares.

Qual a actualidade de Eric Satie nos dias de hoje?

A actualidade de Erik Satie é… para quem se delicia e fascina com as Gnossiennes, as Gymnopedies, as Pièces Froides… é um Ser duma actualidade-SOBRE-pertinente…

Para os estudiosos, musicólogos ou esoteristas, Erik Satie representa um compositor que, com&como Debussy, deixam uma marca indelével na História da Música e nos modosOutros de compor música.

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Como vê a música contemporânea, portuguesa e global, e a sua divulgação?

A chamada Música Contemporânea Erudita anda, sempre andou, de boa saúde. A que se fez/faz em Portugal, também.

Dentro de 111 dias completarei 80anos de idade. A minha visão sobre o assunto, de tão recuada e reciclada, é sobremaneira entusiasta e optimista.

Há espaço para todas as músicas que se queiram fazer e fazem.

Há espaço para os públicos mais diversos — todos acorrem, felizes, a consumir do que gostam. Os das grandes massas anunciadas pelos mais caros meios de comunicação, aos mais discretos tipo O´Culto da Ajuda ou o espaço ZéDosBois, ambos em Lisboa. Tudo propostas válidas para destinatários distintos.

Entretanto, a improvisação musical, isto é, composição musical em tempo real de execução, continua a ser olhada como bicho raro ou suspeito. Não sabe o vulgo que, em música, a improvisação sempre se executou — seja na música popular de todo o mundo, seja na música erudita já anterior a Johann Sebastian Bach, seja na já referida Música Contemporânea, no Jazz e no nãoJazz.

Mas não há nada a lamentar — tudo remete para os graus de cultura e para os mecanismos de satisfação de cada um.

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Sintra: coisas boas e coisas más?

As coisas boas desta nossa Sintra estão, creio que todas, muito bem inventariadas nas publicações que, sobre diversas facetas da cultura, se tem publicado desde tempos recuados.

As coisas más de Sintra, não estou ainda apto a referi-las, vivo por estas bandas apenas há ano e meio. Sintra, porém, alberga uma loja Rosacruz e tenho já uma experiência negativa com o manifesto desinteresse dela pelo trabalho que desenvolvi com VEXATIONS, a enigmática obra do rosacruciano Erik Satie. Este pertenceu ao movimento Rosa+Cruz e aquela sua obra foi construído sob os “claros-princípios” do hermetismo e esoterismo Rosacruz que caracterizaram aquele compositor na Paris da década de 1890.

Faz bastante mais de um ano que mandei cópia do meu ensaio para oa.atriumrc.sintra@amorc.org.pt e gc.rcportugal@amorc.org.pt. E ainda fui por duas ou três vezes até à Casa do Fauno onde me encontrei com vacuidades e uma espécie de vestígios de folclore…ou, então, em Sintra, nunca encontrei a pessoa certa no local certo.

O resultado foi um pragmático silêncio. Dizem os entendidos que a Rosa do símbolo Rosa+Cruz é constituída por 7 pétalas em 7 camadas e que simboliza o segredo. Talvez a AMORC tivesse querido manter segredo… ou sisudez. Não sei.

Também silêncio na Regaleira. Mandei também o meu estudo para geral@cultursintra.pt e outros contactos de lá que, entretanto, fui obtendo. Como o resultado é também o silêncio, inquiro-me sobre o  perfil de quem se encontrará por detrás dos endereços de e-mail dessas tão venerandas instituições…

A música é harmonia, construção, caos ou redenção? Se tivesse que escolher uma banda sonora para o mundo actual, qual escolheria?

A música, toda a música, é o que nós quisermos que ela seja.

Segundo Friedrich Nietzsche a vida sem música seria um erro.

Essa pergunta da banda sonora para o mundo actual… leva-me a inquirir-me se, fora das filosofias, haverá mundo que não seja o actual? Pois, para este mundo-actual, é a música que cada um sentirá que precisa para seu alimento. As propostas comerciais são, como bem sabido, mais do que muitíssimas, bem incluídas as de alienação.

As de meditação e serenamente são um pouco menos… mas também úteis a outros níveis.

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