Por ocasião do centenário da Sociedade Filarmónica Os Aliados e na sequência da parceria celebrada com a Alagamares, entrevistámos Filipa Couto, presidente da Direção daquela coletividade.
Como e quando surgiu a Sociedade Filarmónica Os Aliados, e quem foram os seus dinamizadores? Falem-nos um pouco do vosso percurso.
Segundo registos existentes foram os homens do bairro de S. Pedro que no dia 12 de junho de 1922 fundaram a Sociedade Filarmónica “Os Aliados” e a sua banda. A Sociedade nasce de uma cisão entre os filarmónicos da Sociedade 1º Dezembro, da qual surgem dois grupos. Um dos grupos constituiu uma nova banda, determinados e embora sem sede, ensaiavam onde podiam, e nestas andanças, com a casa às costas, passou a ser conhecida por “banda dos caracóis”. Apesar das muitas adversidades, com enorme garra e muito sacrifício, organizaram vários festejos populares e concertos, para angariação de fundos para a construção da sua sede e manutenção da banda de música. Finalmente no dia 25 de dezembro de 1925, abre as portas aos seus associados e a toda a população, que se mantem até aos dias de hoje, com a mesma vontade de continuar. Tendo como foco principal a sua banda filarmónica e a escola de música, têm sido desde sempre desenvolvidas diversas atividades e eventos culturais que permitem manter vivas as tradições desta sociedade histórica, da qual se destaca o mediático Carnaval “caracolino”, realizado ininterruptamente desde 1926 e tradicionalmente conhecido por “Baile da Rainha”.
Um dos pontos referenciais da SF Os Aliados é, como referido, o Carnaval Caracolino. Falem-nos um pouco dessa tradição, como surgiu, momentos mais marcantes e perspetivas futuras.
O tradicional Carnaval Caracolino, também conhecido por “Baile da Rainha”, é conforme já referimos, um dos pontos de referência da Sociedade Filarmónica Os Aliados, uma vez que ocorre ininterruptamente desde 1926 e tem sido marcado pela presença de diversas individualidades de São Pedro de Sintra e não só, que ao longo dos anos, vestidos a rigor, e com trajes da época da corte real, aos pares concorreram para a eleição de reis e rainhas do ano. Para além do baile em que culmina a noite, contam as memórias mais antigas, que também se realizaram cortejos de Carnaval pelas ruas de Sintra, sendo um fim de semana completo de carnaval e folia, cumprindo-se assim a tradição Caracolina. Ao longo dos anos, apenas o tradicional baile foi ficando como acontecimento central, e infelizmente, devido à pandemia dos últimos dois anos, esteve suspenso pela primeira vez em 100 anos. E em representação deste feito, e no âmbito do centenário, estamos a organizar um cortejo histórico pelas ruas de São Pedro, que pretende recriar um pouco de todas estas tradições. Estamos neste momento a preparar o grande regresso para o próximo ano. Pretendemos manter viva esta tradição!
Em vossa opinião, quais são as principais virtudes e carências do trabalho da atual Direção?
A atual direção é uma direção jovem e dinâmica. Destaca-se pela junção de pessoas de diferentes áreas, e de diferentes contextos, com mais ou menos ligações à sociedade, mas todos e cada um com as suas especificidades e dedicação, procura desenvolver um trabalho, que em equipa, tem como foco a valorização e crescimento da sociedade, por forma a manter vivas as tradições desta que é uma sociedade histórica. Podemos por isso considerar que o trabalho em equipa, e divisão de tarefas valorizando o papel de cada um, é uma das principais virtudes desta direção, bem como a comunicação, que se pretende que seja transparente tanto para dentro como para fora da sociedade, utilizando todos os meios disponíveis hoje em dia, como é o caso das redes sociais. Enquanto carências do trabalho da atual direção, podemos identificar aquilo que claramente é um desafio para a maioria destas sociedades, e transversal a todas as direções, que são os fracos recursos financeiros. Os fracos recursos financeiros trazem diversos desafios à direção, no que toca à gestão e equilíbrio dos interesses e necessidades da escola de música, banda filarmónica, preservação do património material e do edifício sede, o que nos coloca perante a necessidade de nos reinventarmos e sermos originais no desenvolvimento de atividades e ações que nos ajudem a não dependermos exclusivamente dos apoios financeiros, e que muito agradecemos, das entidades parceiras como é o caso da Câmara Municipal e da Junta de freguesia, mas sem nunca colocarmos em risco a história e tradições. Existe ainda o desafio da escola de música e da banda, uma vez que a falta de alunos na escola de música, e a falta de músicos considerados residentes na banda, são problemas interligados. No fundo, trata-se de uma espiral, uma vez que os fracos recursos financeiros não nos permitem investir devidamente nas verdadeiras necessidades da banda, como é o caso da renovação do seu material, fardamento, etc., e de instrumentos para a escola de música.
Qual a ligação dum público contemporâneo com uma instituição quase centenária como a vossa? Há adesão de novos entusiastas e da população local em geral?
Existe nesta questão um desafio muito grande na sociedade atual. As pessoas não se reúnem como antigamente para fazer parte destes locais e sociedades. As tradições estão mais desvalorizadas. É necessário pensar e ser original na criação de eventos, e na forma de comunicar, para que se chegue a todo o público. Localmente a população encontra-se mais dispersa, poucos são os que residem e frequentam atividades na comunidade. Não existe o sentido de pertença. E a quantidade de opções são tantas, que as pessoas não necessitam de um espaço cultural para se “entreter”. Tentamos por isso estar de portas abertas para acolher nas nossas instalações diferentes tipos de formas culturais. A exemplo disso, temos uma banda “de garagem” de heavy metal, que ensaia de forma permanente na cave da sociedade. Temos também às quartas-feiras aulas de biodanza promovidas por um grupo de biodanza de Sintra. Alugamos ainda a sala para diversos eventos particulares. De alguma forma pretendendo sempre valorizar o espaço, e torná-lo visível para o exterior.
Que políticas públicas podiam e deviam ser seguidas para dinamizar o associativismo cultural?
Considerando que estamos a falar da dinamização, e já foi referido noutros pontos o apoio que Câmara Municipal e Junta dão à Associação, os poderes públicos devem funcionar como facilitadores por um lado, incentivando e fomentando a partilha de espaços e, por outro lado, promoverem as atividades que se forem realizando, usando os seus meios de comunicação, mais abrangentes que os das associações.
Qual a ênfase da vossa atividade atual?
A nossa atividade atual está focada nos festejos do centenário, e no retomar de todas as atividades que estiveram durante 2 anos suspensas devido à COVID-19. Sendo este o ano em que fazemos 100 anos, pretendemos que todas as atividades que realizamos sejam consideradas nesse âmbito, seja nas atuações da banda filarmónica, seja no desenvolvimento da escola de música, que é um dos principais destaques da sociedade, por ser um serviço oferecido à comunidade. Dinamizar e continuar a dignificar a sociedade em prol dos seus 100 anos é por isso a ênfase de toda a nossa atividade atual!
Que melhoramentos acham que poderiam ser feitos para otimizar o espaço da associação e torná-lo numa centralidade ao nível da freguesia?
Após a realização das obras de conservação do edifício e renovação da rede elétrica, poderá ser realizada uma intervenção ao nível dos camarins existentes por baixo do palco, por forma a criar as condições para a utilização do palco para eventos de teatro ou outros, que possam chamar mais pessoas à Sociedade.
Quais são os vossos projetos para o futuro?
Temos tentado priorizar aquilo que são os projetos a implementar na sociedade em função do que podemos realizar no curto, médio e longo prazo. Existem sempre muitas ideias, e vontade, mas nem sempre é possível realizar todas com a rapidez desejada, seja por necessitarem de algum investimento financeiro, seja por necessitarem de recursos humanos disponíveis ao mesmo nível. Em primeiro lugar e a curto prazo, a atual direção está preocupada em “reorganizar” e suprir necessidades básicas existentes, para que seja possível motivar para o desenvolvimento de outros projetos que implicam uma preparação maior, e o desenvolvimento de pequenas atividades que permitam criar condições para a realização de projetos maiores. Um desses projetos são as obras de melhoramento e preservação do edifício sede, uma vez que o mesmo se encontra com bastantes problemas estruturais devido a humidade e isolamento, o que implica que seja feito um investimento demasiado grande de recursos financeiros que a sociedade não dispõe, sendo desta forma necessário realizar atividades e eventos que possam contribuir para se conseguir angariar algum dinheiro para o efeito, sem nunca nos esquecermos de todas as restantes necessidades existentes para a existência da sociedade. Outro projeto prende-se com o desenvolvimento da escola de música, sendo este um serviço para a comunidade, é importante que possa cumprir o seu papel, e formar músicos que um dia possam vir a integrar a banda. Por fim, existem outros projetos em cima da mesa, estando a sociedade de portas abertas para acolher quem de diversas formas queira partilhar e contribuir para a diversidade cultural numa sociedade centenária!