Conhecido dos meios teatrais sintrenses e nacionais, Sérgio Moura Afonso falou connosco sobre teatro e o seu trabalho. No cinema, participou nas películas “Por ti, assim!, Curta- Metragem realizada por Armanda Claro.“48 film project festival” e em PUFT!, Curta- Metragem realizada por Íris Reis, vencedor do Prémio Público na Mostra de Curtas do Montijo; na televisão em A Única Mulher, TVI, Anjo Meu, TVI, Laços de Sangue, SIC, Lua Vermelha, SIC, Mar de Paixão, TVI, Conta-me como foi, RTP1, Liberdade 21, RTP, Morangos com Açúcar V, TVI, Floribela, SIC, Ninguém como Tu, TVI, Inspector Max, TVI, Bons Vizinhos, TVI e Ganância, SIC, entre outros.
Da sua experiência em teatro, destaque para Dom Giovanni, de Paulo Sousa Costa, Teatro Thalia – 2015; Os Maias, de Eça de Queirós.Pela Éter, com encenação de Filomena Oliveira.Centro Cultural Olga do Cadaval, Sintra; O Inspector Geral, de Nikolai Gogol.A Barraca, com encenação de Maria do Céu Guerra; A Bicicleta de Faulkner de Heather McDonald.A Barraca, com encenação de Rita Lello; Felizmente há Luar, de Luís de Sttau Monteiro. A Barraca, com encenação de Hélder Costa; Obviamente Demito-o!, de Hélder Costa.A Barraca com encenação de Hélder Costa.10ª Mostra SESC de Cultura- Brasil; Darwin e o canto dos canários cegos, de Murilo Dias César.A Barraca, com encenação de Hélder Costa; Conto de Natal, adaptação do conto de Charles Dickens.Companhia Da Esquina, com encenação de Jorge Gomes Ribeiro.Auditório Eunice Muñoz, Oeiras; As Aventuras de Celestino Ventura no Século da Lua, teatro musical de escrita colectiva. Com encenação de Cláudio Hochman, direcção musical de Daniel Schvetz e direcção vocal de Isabel Campelo. Teatro da Trindade; Acorda-me, de Luis Costa Pires.Companhia Da Esquina, com encenação de Claudio Hochman.Teatro S. Francisco; Rosmaninho e Alecrim, um musical infantil pela Companhia Da Esquina, com encenação de Guilherme Filipe, direcção musical de Francisco Cardoso e direcção de movimento de Bruno Cochat.Teatro S. Francisco.
Como começou a carreira e o gosto pela representação no Sérgio Moura Afonso?
O Teatro surgiu por um grande acaso em 1995. A minha vontade era seguir Jornalismo e foi precisamente o professor dessa área que me sugeriu ao Grupo de Teatro Os Jotas, da Escola Secundária Ferreira Dias no Cacém. A verdade é que nunca mais parei e a ideia de trabalhar num jornal foi posta de lado.
Prefere a TV ou o teatro? Porquê?
Prefiro de uma forma muito natural o Teatro. Acho que hoje posso resumir a diferença na adrenalina que sinto no palco e pouca em TV. São estilos de representação diferentes e desafiantes mas o palco e tudo o que representa tem mais efeito em mim. A possibilidade de expressão e pesquisa que se tem oportunidade de realizar no Teatro não é em nada igualável à televisão.
Qual o papel do teatro nos dias que correm?
Na minha opinião tem o mesmo papel que sempre teve. O que tem de diferente é o eco que reproduz na sociedade. A falta de público é alarmante mas as pessoas que continuamente assistem a espectáculos teatrais fazem-no pela necessidade de se confrontarem com elas mesmas. Sejam espectáculos de cariz comercial ou de autor, o público não só procura o entretenimento como a satisfação intelectual.
Como vê a cena teatral em Portugal, e em Sintra, em particular, atenta a sua experiência e observação?
De uma forma geral a cena teatral em Portugal passa desde há alguns anos por uma crise de identidade. A falta de apoio e credibilidade cresce e em oposição a oferta diminui. O futuro parece-me bastante incerto na medida em que as Companhias históricas tenderão a desaparecer dando lugar a grupos e colectivos que com maior esforço tentam sobreviver, lutando contra a falta de apoio estatal. Conduzir a carreira de um grupo somente pela bilheteira é traçar um destino negro. Há muito que se discute sobre a lei do Mecenato por exemplo, mas na verdade nenhuma medida é verdadeiramente tomada. O estado excluí-se das responsabilidades e conduz ao encerramento de casas e grupos de teatro.
Em Sintra vivemos ainda num marasmo cultural. Sempre existiram grupos que de uma forma local trabalhavam para uma cultura de público que tem vindo a desaparecer. Nos anos 90 houve um trabalho intenso de formação de novos públicos. Esse trabalho não teve frutos porque não se deu continuidade. A edilidade política sintrense tem também a responsabilidade de cativar o público. Devia ter todo o interesse em ser também um destino cultural para além do Castelo e Palácios. Na propaganda e divulgação, na organização de eventos e no convite à criação aos artistas sintrenses.
“Memorial do Convento”
Que anda a fazer agora?
Estive até há pouco tempo a trabalhar como actor para a Byfurcação Teatro na Quinta da Regaleira, com a peça Otelo. De momento estou a encenar o espectáculo Pinóquio para a Companhia da Esquina, no Teatro da Luz, em Lisboa. E mantenho naturalmente o exercício da profissão de professor de Interpretação no IDS- Escola Profissional em Lisboa.
Qual o papel ou trabalho que gostaria de realizar neste âmbito?
Sempre tive a ambição de fazer o papel de Iago na peça Otelo, de William Shakespeare. Tive por uma grande felicidade a oportunidade de o fazer neste último espectáculo. Há no entanto ainda muito para fazer no teatro, como actor e encenador. Outra grande ambição é conseguir experimentar mais no cinema. As poucas experiências que tive aguçaram o apetite.
Quer falar um pouco da sua passagem por diversos grupos de Sintra, e o que cada um deles trouxe ou trás de estimulante e diferente no panorama local ou nacional?
Vivi e cresci artisticamente em Sintra. Depois de ter iniciado no grupo escolar Os Jotas do Cacém, passei pela Utopia Teatro, Teatro Tapafuros, teatromosca, Os Valdevinos e a Byfurcação Teatro. Aprendi muito e sobretudo tive a sorte de partilhar histórias com todos os intervenientes destas companhias.
O início no Teatro Amador deu-me as bases para entender toda a instituição teatral. A partilha constante, o respeito mutuo pelo trabalho e o prazer de fazer sem regras são os maiores valores que retirem desses anos que guardo com saudade. Todos estes grupos tiveram um papel importante na formação de muitos actores e criadores. Penso que já se viveram momentos mais estimulantes no panorama local. Existia mais interesse e partilha entre grupos que hoje. Penso que o público não se apercebe das mudanças que têm existido nos últimos anos, tanto o desaparecimento de grupos como a expansão muito louvável de outros. No panorama nacional e até internacional os grupos sintrenses têm feito um trabalho muito importante na divulgação não só dos seus trabalhos mas sobretudo da língua portuguesa e do trabalho teatral português.
O Sérgio é professor de teatro. Como vê a apetência dos jovens pelas artes performativas, e que diferenças nota em relação às últimas duas décadas?
O Teatro e a representação continuam a despertar muitos jovens que se sentem curiosos pela arte. Todos os anos no IDS- Escola Profissional recebemos perto de 80 inscrições para selecção, donde temos que escolher 26 alunos.
Felizmente hoje em dia os jovens têm ao seu dispor uma maior oferta formativa. A proliferação de cursos profissionais e escolas oferecem maiores possibilidades de carreira. A principal diferença está aí.
Existe também a ilusão de muitos jovens que procuram estes cursos na tentativa de criar uma porta de entrada no mundo do audiovisual. Uma porta que muitos creem ser fácil e facilitadora. Grande erro e engano. Quando assim é uma parte deles acaba por desistir.
Quem foram os artistas ou criativos com quem mais gostou de trabalhar?
Foram vários, felizmente. Alguns já falecidos como o António Rama ou o João Miguel Rodrigues. Outros ainda vivos como o Cláudio Hochman, Mário Trigo, Guilherme Filipe e Maria do Céu Guerra. Guardo naturalmente com muito carinho e amizade todos os sintrenses com quem tive a honra e o prazer de trabalhar, como o Rui Mário, Nuno Vicente, Paulo Campos dos Reis, Pedro Alves, Filomena Oliveira e Paulo Cintrão.
Que tipo de público vai hoje ao teatro? Há mudanças positivas ou negativas?
Todo o género de público, dependendo do próprio grupo alvo a que se destinam os espectáculos. As pessoas continuam a fazer de uma ida ao Teatro algo de sagrado quando devia ser uma coisa natural como ir ao cinema ou até um museu. Esta é a mudança que nunca chegou a sê-lo negativa. A falta de cultura de público é desastrosa para a sociedade na forma política e de cidadania. Existem felizmente mudanças positivas marcadas nos últimos 10 anos. Veja-se o caso do Teatro Nacional que parecia estar condenado ao abandono e pelas mãos especialmente do João Mota voltou a levar público às suas salas.
Entrevista de Fernando Morais Gomes