Pedro, fale-nos um pouco do seu percurso
Natural de Sintra (1960), guitarrista autodidata desde os 9 anos, mais tarde estudei Canto e teoria musical no Instituto Gregoriano de Lisboa e violoncelo no Conservatório Nacional de Lisboa. Trabalhei com vários grupos e cantores em inúmeros espetáculos em Portugal e no estrangeiro, programas de TV e Rádio. Sou também professor, dedicando-me sobretudo à Educação Musical no nível pré-primário. Passei a dedicar-me mais à música coral há cerca de 20 anos, dirigindo o ARdeCORO (Sintra) e o Coral Bugio (Oeiras). Frequentei vários cursos de aperfeiçoamento coral em Portugal e Itália e, com a Soprano e Professora Ghislaine Morgan (Londres), organizei, durante 10 anos, o SISCCC – Sintra International Singing and Choral Conducting Course, na Quinta da Regaleira. Atualmente dirijo o ARdeCORO e o Projecto com Voz (Lisboa). Sou também tradutor/intérprete profissional (tradução simultânea).
Com que tipo de espetáculos ou intervenção artística mais se identifica? Deve a expressão artística ser contemplativa ou interventiva?
Penso que a expressão artística deverá ser aquilo que cada artista quiser – no caso da música, comporta necessariamente uma dimensão interventiva.

Qual o estado da arte da música coral em Portugal?
Embora não esteja muito por dentro da situação da música coral em Portugal, nomeadamente dos coros amadores, penso que é uma atividade cultural com bons horizontes de crescimento – há cada vez mais pessoas interessadas em cantar e toda uma nova geração de músicos e maestros com grande formação.
Se fosse convidado para dirigir um espetáculo original para jovens, em Sintra, que tipo de preocupações teria em primeiro lugar
A faixa etária. Considerando um grupo de adolescentes ou jovens adultos, procuraria um repertório apelativo e musicalmente ‘interessante’, sem comprometer a qualidade.
Qual a sua opinião sobre os espetáculos em plataformas digitais e em streaming?
Talvez por uma questão geracional, não estou muito por dentro, mas não tenho nada contra… Penso, no entanto, que nada substitui a verdade e a vivência orgânica de uma atuação ao vivo.
Como vê a situação cultural num mundo pós Covid?
Não sou de futurologias, mas espero que a sede de espetáculos ao vivo se traduza por mais e variadas iniciativas de qualidade.
Fale-nos da sua ligação familiar e artística a Sintra. Quer realçar algum evento marcante e cujo exemplo seria de aproveitar?
Como natural de Sintra e tendo aqui vivido quase toda a minha vida, Sintra é naturalmente uma influência determinante, por si só. Como sobrinho do Maestro Francisco d’Orey (foito abaixo, falecido neste ano de 2020 e que foi também o fundador do ARdeCORO) tive o privilégio de aprender e colaborar com ele, participando como músico e cantor nalguns espetáculos por si dirigidos e como professor de educação musical no coro dos ‘Pequenos Cantores do Estoril’, nos anos 90.

O que falta ao movimento cultural para ter mais peso e visibilidade enquanto ator social?
Penso que o essencial será uma maior educação cultural, artística e humanística da juventude e da sociedade em geral.
Qual a sua agenda próxima, em termos de espetáculos e iniciativas?
Neste tempo pandémico a agenda encontra-se em aberto… No entanto, com os coros que dirijo, continuámos a atividade através de ensaios ‘Zoom’ que adaptámos de modo a trabalhar repertório.
Um sonho profissional que gostava de realizar
Com o ARdeCORO, temos ‘em suspenso’ a realização de uma jornada de homenagem ao Maestro Francisco d’Orey, que consistirá numa conferência com músicos e musicólogos que com ele trabalharam, a que se seguirá um concerto final que, esperamos, juntará alguns maestros, cantores e coros.