Entrevista com Paulo Jorge Brito e Abreu

Paulo Jorge Brito e Abreu nasceu em Lisboa, a 27 de Maio de 1960. Ex-aluno do Colégio Militar, tem vários livros publicados. Escreveu em 1980, o «Cântico Jovem Para a Tua Rebelião» e em 2007, o «Cavaleiro do Templo». Acima de tudo, Psicodramista, é Poeta, Cantor, Pensador e Artista plástico,  Tarólogo, Numerólogo e  Logoterapeuta.
Fernando Morais Gomes: O Paulo Jorge Brito e Abreu diz que o Poeta é um incendiário. Inflama ou é inflamado?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: O Fogo, dessarte, é muito avita teofania. O «Agni», que é o Fogo, quer o «Agnus», que é o anho. Aduz e declara Cristo Jesus, no Evangelho, liberal, segundo São Lucas: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» E por isso, ponderemos: quando Deus apareceu, a Moisés, no Monte Sinai, foi através da sarça ardente, e no primeiro Pentecostes da história da Igreja, se manifesta, aos Apóstolos, o Espírito Paracleto, sob a forma, ou figura, das línguas de Fogo. Mas indo, recto e correcto, ao âmago, ao imo, da sua pergunta: em matéria de Luz, só pode dar quem já recebeu. Pois movido, e comovido por a paixão, o Poeta não se pertence, o Poeta é instrumento nas mãos de poderes, ou de potências, muito maiores. Se o menestrel, nos séculos de antanho, era médium, Vaticano, entre os deuses e os homens, o Vate faz a Guerra Santa, o Poeta é soldado no Exército do Verbo. Mas pra cumprir, em mister, o seu ministério, não há-de, o Iniciado, roubar o sopro e a vida ao seu semelhante; pois seguindo e segundo o Autor dos «Provérbios», avorrece, o Senhor, as «mãos que derramam sangue inocente»: e quem matar, por isso, à espada, à espada morrerá. Guerra Santa, em vez disso, quer dizer: é que o Reino dos Céus se toma de assalto; havendo em vista derribar o Maligno, «a coroa da vitória», para Santo Agostinho, «não se promete senão aos lutadores». Pois se a seara está preste, os operários são poucos: é preciso anunciar, ao mundo inteiro, a pureza da Poesia. E relevar, e revelar a Boa Nova a todo o ser senciente. Pois se o pensar é pôr o penso, e se a língua nos liga, minha Poesia é vocacional, ela é uma «ek-stática» insistência na Verdade do Ser. Categórico, aqui, categórico é o Hegel: nada de grande neste mundo se faz sem a paixão. A Ideia se serve, das humanas paixões, para cumprir os seus desígnios; o indivíduo, ou Actor, é pois abandonado, sacrificado por o Verbo, mas de que serve, aqui, a perna partida dum operário, face à flama e ao fulgor do Mosteiro da Batalha??? Se o Poeta recebe, deveras, é pois pra doar, com liberalidade, o mistério da Poesia: o dom é oblativo e por isso donativo. Colaborando, com Deus Pai, no projecto Criacionista, cada Poeta é convocado para criar, o seu mundo, à sua imagem, semelhança e maturação – e o Verbo do inconsciente é oração, e unção, do sobrenatural. Queremos dizer: em sua forma mais alta, que é o Génio, Poesia é carme e a catarse, é liturgia sacra, e eis a escala e a escada, eis a escola, e o escopo, da lucubração.
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 Convento de Cristo, Tomar
Fernando Morais Gomes: A Poesia tem algo de profético?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: O «Profeta», para os Gregos, é o «porta-voz de um deus». Ele é, para os Hebraicos, o «Vidente», a «Sentinela», «aquele que interpreta os oráculos divinos». Em mistagogia, ou Minerva: Profetas eram Poetas das antigas civilizações – e Poetas são os médiuns, muitas vezes inconscientes, do Verbo divino. O termo erudito para Poesia, que é o «carme», significa, para os Romanos, «palavras mágicas, canto, esconjuro, encantamento». Quero eu dizer: Poesia, para mim, ela reata relações com o pensamento mágico; ela é, de alguma forma, o comento e o pensamento mágico-simbólico. E ponderemos, preclaro: Literatura, em sua forma mais alta, é sempre a expressão do preternatural, e eis em signa o ensinamento do Álvaro Ribeiro. Ou melhor: em minha juventa, e sem eu ter lido o Pierre Janet, tive acesso, supra-real, à escrita automática, que no gaulês se nominava «O Automatismo Psicológico». E bastas foram as vezes em que isso aconteceu: sob o estado, automático, duma auto-hipnose, o que eu escrevia, no «rêve éveillé», se efectivava, adrede, se tornava facto e feito no mundo real: e não remembras, ó legente, o psicodrama, a psicografia em Fernando Pessoa???
Ora o hipnotismo, desde Charcot, ele permite o estudo dos estados histéricos – e na centúria de novecentos, a Psicanálise é deveras o sonho do século; e citamos, na estese, os «Estudos Sobre a Histeria», e de Freud é, dessarte, «A Interpretação dos Sonhos». Se o inconsciente, para Lacan, está estruturado como uma linguagem, se o inconsciente, pra nós outros, é, de feito, o discurso do Outro, a mesma linguagem são os Mitos, as metáforas, e também as metonímias. E se abarcamos, abraçamos, o Inconsciente Colectivo, o «transfert» é terapia, o Tarot é Teoria da Sincronicidade, e por isso acatamos, e por isso anelamos, em Metanóia, a Psicologia Analítica, de Carl Gustav Jung. E é fértil, aqui, a fontana. E, se a precognição, no faz-de-conta, é feraz e é fatal, isso é o que acontece com meu «Cântico Imortal».
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 Almada Negreiros
Fernando Morais Gomes: O que quer dizer quando escreve «Quando um Poeta dorme, ou quando um Poeta sonha, os Anjos sobem e descem pela escada de Jacob»?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: Para responder, cabalmente, à sua pergunta, eu hei-de citar a Bíblia Sagrada. Assim reza, portanto, o Livro do Génesis: «Jacob saiu de Bercheba e tomou o caminho de Haran. Chegou a determinado sítio e resolveu ali passar a noite, porque o Sol já se tinha posto. Serviu-se de uma das pedras do lugar como travesseiro e deitou-se. Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o Céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus. Por cima dela estava o Senhor, que lhe disse: «Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu Pai, e o Deus de Isaac. Esta terra, na qual te deitaste, dar-ta-ei, assim como à tua posteridade. A tua posteridade será tão numerosa como o pó da terra; estender-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul, e todas as famílias da Terra serão abençoadas em ti e na tua descendência. Estou contigo e proteger-te-ei para onde quer que vás e reconduzir-te-ei a esta terra, pois não te abandonarei antes de fazer o que te prometi.» Despertando do sono, Jacob exclamou: «O Senhor está realmente neste lugar e eu não o sabia!» Atemorizado, acrescentou: «Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do Céu». No dia seguinte de manhã, Jacob agarrou na pedra que lhe servira de travesseiro e, depois de a erguer como um monumento, derramou óleo sobre ela. Chamou a este sítio Betel, quando, originariamente, a cidade se chamava Luz.»
E à guisa de escólio, asseverava, e averbava, o Blaise Pascal: «Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob e não dos filósofos e dos sábios.» Pois já Abraão, que era Avô de Jacob, ele tinha construído, em Betel, um altar a Adonai. Quer dizer, o Betel, a «casa de Deus», e bétilo é a ara, e bétilo é a pedra a Deus consagrada. Sejamos pequeninos, então, pra entrarmos, previdentes, no Reino dos Céus. E eis o que age, e eis o que asserta uma hagiografia: se o orgulho e a soberba dão origem, como vemos, à torre de Babel, na cidade com Deus as pessoas entendem-se, apesar de falarem as línguas diversas: e eis, em Jacob, os mensageiros, ou Anjos, intermediários entre Deus e os homens – e eis as línguas de fogo do primevo Pentecostes.  Para os povos avitos, o sonho é isso mesmo: é qual meio de comunicação entre a terra e o Céu: e não remembras, ó ledor, na Grécia Antiga, o Santuário de Asclépio, o templo de Epidauro??? Se Asclépio, medicatriz, era o deus da Medicina, as pessoas dolentes, ou doentes, eram postas a dormir em busca da «Salus»; na manhã seguinte o Sacerdote, interpretando os seus sonhos, ele indicava o remédio para a cura, e a ventura, do valetudinário. E sempre e ainda no Livro do Génesis, o patriarca José foi elevado, ou levado, ao cargo, sideral, de Vice-Rei do Egipto: ele interpretava, escorreita e rectamente, os sonhos do Faraó. Por aqui, dessarte, se lobriga: não foi Freud o primeiro, em continente europeu, a analisar os sonhos dos seus pacientes – e citamos, à guisa de apostilha, o nome e o Nume de Artemidoro de Daldis: no século II d. C., a sua «Onirocrítica» é o livro mais antigo de hermenêutica dos sonhos – e Morfeu, por isso, informa Orfeu, e sonhar, por isso, é ser Iniciado.
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 Universidade Pontifícia de Salamanca
Fernando Morais Gomes: A Poesia é terapêutica, louca, visionária ou lucidamente disruptiva?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: Biblicamente falando, em Cristologia, «nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.» E continua, noutro passo, o Apóstolo das Gentes: «A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem, mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus.» E ainda, na epístola, a prima, aos Coríntios fiéis: «Pois, já que o mundo, por meio da sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da pregação.». Quer dizer o São Paulo: a sabedoria deste mundo é estulta e ela é bruta face à lauta Teosofia. Ao que nós aditamos: progride, a humanidade, graças aos Génios, aos Santos e aos Heróis; se um Viriato, um Camões e um S. Francisco são, para a nossa lógica, clinicamente loucos, tudo o mais, segundo o Pessoa, é palha podre e água chilra, é «cadáver adiado que procria». E na cita havemos dito. E aqui eu refuso, eu repilo e eu rejeito o Dr. Binet-Sanglé: médico, Psicólogo e professor, nome famigerado da «intelligentsia» francesa, ele publicitou, no início, feral, do século transacto, «La Folie de Jesus»: são quatro grandes cartapácios, que pretendem, malévolos, provar, a esquizofrenia, a alucinação, do que é, pra nós, o Verbo encarnado. O Verbo, afinal, assassinado. Com tal insolência, catilinária ou insciência, não nos espanta nem aturde o facto de Mário Saraiva ter escrito, pra conspurcar, dessarte, o carme e a Poesia, «O Caso Clínico de Fernando Pessoa». Mas regressando, e revertendo, no lance: se o Poeta é um médium do Verbo divinal, muita Luz, muito lume ou luminar, pode ofuscar, entontecer, e dessarte encandear: e eis os casos, e as causas, de Florbela Espanca, de Antero de Quental, e de Mário de Sá-Carneiro. E quanto, agora, ao grego miráculo??? Divinamente louca segundo o Platão, a Poesia é terapêutica segundo o Estagirita. Um reparo, porém: para o Magíster académico, a poética loucura é inspirada pelos deuses, é «hieromania» seguindo e segundo o Clemente de Alexandria. E acertemos, por isso, asseverando e assertando: Freud criou a Psicanálise retomando o caminho da Poética antiga: de tal modo que, ao receber, em Viena, o dramaturgo Lenormand, Segismundo, ao mostrar-lhe a Biblioteca, lhe confessou que a sua Psicanálise tinha por fundo, e fundamento, a Obra dos Poetas: e se o complexo de Édipo advém, dessarte, da leitura de Sófocles, a Catarse deve o nome ao fundador do Liceu. E para o Pai da Psicanálise, a personagem do Édipo tem o seu correspondente no Hamlet e «persona» shakespeariana. Pois seguindo e segundo a Psiquiatria dinâmica, o exprimir é espremer, o pensar é pôr o penso, o Teatro permite ao homem liberar-se das suas paixões, vendo-as, no palco, re-apresentadas – e eis, dessarte, em Saudade, a saturnal, o Carnaval, do inconsciente. Nesta linha de pensamento, e unindo Freud ao Estagirita, foi Jacob Levy Moreno o criador do Psicodrama – e eis aqui a «conterculture», eis aqui «encounter-culture», e é aqui que lucila o dia dos loucos. Divisa, portanto, e avisa o Moreno: tu cria o teu papel, acredita a «persona», manifesta e manobra a «megalomania existencial»: e em sonho tudo é legal, em Poesia tudo é lícito, em cima do palco nada é impossível. E se se fala, em Psicanálise, de uma cauta Catarse, se fala, em Pierre Janet, da dissociação, da hipnose, da moral desinfecção. E ao dispor do Psiquiatra é como ao dispor do Crítico literário: eles têm, selectos, o sonâmbulo dos sonhos – e palavras, palavras, tão-somente as palavras.
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 Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa
Fernando Morais Gomes: Quem é Paulo Jorge Brito e Abreu?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: Acima de tudo, sou Poeta e Filósofo, sou um ser religioso. Que eu sou, na colecta, o Cantor e Artista plástico. Saúdo as Maias e os Magos. Saúdo a Roma e a harmonia, procuro amar a Deus com todo o entendimento. Que eu aprendi, com o tempo, a apreciar e a prezar a impressa Palavra. E a ter cuidado, outrossim, com as mensagens e palavras por mim proferidas. Ou em lhaneza de chão plano: dia em que eu não escreva, pra mim, não é dia, eu faço da escritura uma oração quotidiana. E como eu não tenho prole, colecciono, com fervor, os alfarrábios, missais e livros antigos – e em livre, e a lavra, eu amo, na colecta, os volumes arcaicos. E a música, o Museu, e as palavras orfaicas. E na Kabbalah, cabal, e na Fonte Cabalina, me dedico ao «Liber Mundi», ao Tarot, ao nome e ao Nume da Numerologia. E tudo é pouco, e tudo é pouco, para aquilo que eu anelo: o transmitir, o transcender e o transformar o mundo.
 
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Pinharanda Gomes
Fernando Morais Gomes: Que coisas boas e novas acha que a sua Poesia transmite?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: Sem vaidade, nem jactância, tem conceição, tem Maria Estela Guedes a recta razão: eu sou um caso de heteronímia pós-pessoana. Quero averbar, e asseverar: nos quase oito lustros da minha Poesia, eu percorri a variedade, a multiplicidade de movimentos e escolas – e fui Selene, e fui solene, simbolista, decadentista, Surrealista, fui futurista, paulista, e romântico e Beatnik. «Verbi gratia», na Graça: quem lê o «Cântico Imortal», o «Restaurante Sul-América» ou o «Cântico Jovem Para a Tua Rebelião», não reconhece, em mim, a pessoa que escreveu «Duma Oração Portuguesa», e os sonetos sonantes dumas «Loas à Lua». E posso declarar, publicamente, que sou discípulo, e discente, dos maiores sonetistas da Língua Portuguesa: o Camões, o Bocage, o Antero de Quental. Me seduz, desde a juventa, o orfeico camoniano e a Lira de Elmano, e pendo-aprendo, desde jovem, com o Génio que era um Santo. De tal modo que assertamos: em Gaia Ciência, entoa, o trovador, a palavra certa para a nota correcta – e se a Língua é o que liga, a minha Linguagem é, deveras, a Linguagem dos Pássaros. Não reconheço, na métrica e na rima, a polícia, o verdugo, a camisa-de-forças; são dilectos e as sílabas que sonham cantando. E outro timbre, dessarte, que aluz e seduz em minha escritura: o seu carácter místico, mistagogo, esotérico mesmo. O liar, a liança e ligação com a Ordem da Milícia dos Cavaleiros do Templo – e nisto sigo eu os meus ancestrais. Actualmente, a minha prosa, e prosa filosófica, teodiceica, e teológica até, ela aprova, e ela aplaude, uma Ontologia dos valores poéticos – e se alia, ou consorcia, com o grémio, o grupo, da Filosofia Portuguesa. Existindo, por isso, e sempre e sempre insistindo. E vetando, e dirimindo, o que é fácil e fútil.  
 
Fernando Morais Gomes: Vivemos sob o signo da Luz? O seu mundo é luminoso ou é feito de trevas iluminadas? E Sintra? É terra de Luz ou terra de trevas?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: É premente, em Portugal, uma axiologia veraz, ou teoria dos valores. Que infelizmente, um pouco por todo o mundo, os quesitos propalados, ou propagados, pelos meios de comunicação social, eles resumem-se, deveras, a dois: o sexo venerado e o dinheiro idolatrado. «Quando se trata de dinheiro», diria Voltaire, «todos professam a mesma religião». Mas se antes de procurarmos as riquezas devemos nós buscar o Reino de Deus, ele há até Igrejas que dizem que por dinheiro nós seremos perdoados dos nossos pecados. Mas os «Actos dos Apóstolos» são peremptórios: se as finanças e os fundos são todo-poderosos, o Espírito Santo não se compra com dinheiro. Mas vendo a pobreza, o Cristo ultrajado, e vendo, outrossim, a falta do Pão, diz rectamente o adágio: o dinheiro é como o estrume, ele só é útil, dessarte, se for disseminado. De tal modo que eu disserto: uma dilucidação, recta e escorreita, da figura do Messias, acabaria, cabalmente, com a existência das seitas. Quanto a mim, eu tenho provas, probantes e professas, da existência de Deus, e digo, com Schopenhauer: quanto mais desenvolvidas forem as ciências físico-químicas, mais se torna premente o Anjo, a Ontologia, a necessidade metafísica. Que eu não preciso, mesmo nada, das charlatonas e videntes, eu a elas prefiro a carne do porco e a charcutaria.
Mas avancemos, ovante, e vamos avante: se «ao princípio era o Verbo», não há nada que faça o paregórico, ou paliativo, que não faça, por seu turno, a sápida, a escorreita, e a recta oração. Pois seguindo e segundo o Émile Coué, eu recito, de manhã, e eu repito, à noitinha: «Todos os dias, e cada vez mais, eu estou, no pundonor, cada vez melhor». Quanto a Sintra, como Nova iniciática, só pode ser, nitente, uma terra de Luz: se Palácio é o paço, se é paládio, no pólo, e a Palas Atena, se visitem, «verbi gratia», além da Quinta da Regaleira, o Palácio Nacional da Pena, o Palácio Nacional de Sintra, o Palácio de Seteais, o Palácio de Monserrate, e, outrossim, Companheiro de Emaús, o Palácio Real da santa Queluz. Pois dizem estudiosos: a História se faz de duas maneiras: ou estudando os documentos, ou esquadrinhando os monumentos. Dos monumentos, fiz a lista, e quanto aos documentos: o espírito sintrense é seminário, selecto, do serafim, sereno, e da Septuaginta, é ele o alfobre, e alfarrábio, do afloramento e, a flux, da Hermética Irmandade dos Amigos da Luz.
 
Fernando Morais Gomes: Há Deus ou deuses? É o homem o centro das coisas ou um títere manobrado pelo destino?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: Qual rapsodo, ou repórter, a Filosofia Portuguesa de Leonardo Coimbra nos dá, religiosa, a resposta: «O homem não é uma inutilidade num mundo feito, mas o obreiro dum mundo a fazer». Ou segundo Jacob Levy Moreno: «actor de Deus no palco do Universo». Quero eu dizer: Deus pôs-nos, francamente, neste mundo, mas as palavras e os papéis são da nossa Autoria; cabe ao homem concluir a Criação, que Deus somente iniciara. Ou segundo o Autor de «O Mundo Como Vontade e Representação»: «O destino baralha as cartas, mas somos nós que as jogamos.» Com o tempo eu pendi, aprendi, e compreendi: a semeadura é livre, e a colheita, obrigatória, só colheremos aquilo que semearmos, e quem ventos semeia, colhe tempestades. Nós somos medidos, pelo nosso Karma, com a mesma medida com que os outros medimos – e estas palavras são familiares para os ledores, e legentes, da Bíblia Sagrada. O homem que labora com o Logos, e a língua, ele deve entender: a semente é qual Palavra para o evangélico S. Lucas, ou melhor: se a linguagem, aqui, é a Casa do Ser, palavras de Amor, elas geram harmonia, palavras virulentas, elas geram violência. Explícito e lícito é o Autor, e promotor, do Deuteronómio: «Nem só de pão vive o homem; de tudo o que sai da boca do Senhor é que o homem viverá.»
Para os jovens que me lêem eu lavro o seguinte: Eucaristia é qual fracção, Nova Aliança, e a partilha do Pão. Que se habitue a juventa a celebrar a Verdade. Que me perdoe, o ledor, uma autocitação: «Palavra é como o Pão e a Palavra é como leite, é pois alento, acalento, e alimento no deleite.» Habituemo-nos, portanto, a doar o conduto, e, com a oblata de vida, uma parte, e partícula, da nossa pessoa: para o evangélico Autor dos «Actos dos Apóstolos», «A felicidade está mais em dar do que em receber». Por isso aremos, e professemos. E nós oremos, Irmãos.
 
Fernando Morais Gomes: O que ainda não fez que não quisesse deixar de fazer?
 
Paulo Jorge Brito e Abreu: Gostaria de ser experto, e ser perito, em Ioga, Astrologia e no lauto Latim. E de acurar, e depurar, os meus conhecimentos da Ciência Kabbalah. Quisera ser um poliglota, e falar, pelo menos, sete línguas estrangeiras. Quando estiver, a seara, pronta para a colheita, gostaria de ser Teólogo – e doutorar-me, deveras, em Filosofia. Gostaria de formar, em Firmamento, o Centro de Estudos Luso-Brasileiros – e também, em lis e lais, o Centro de Estudos Orientais. De unir a Ciência das Letras à Ciência dos Números – e esta, outrossim, à Ciência dos Sons. E apoiado em Mestres como Gauguin, Van Gogh e Salvador Dali, gostaria de participar, entusiasta, em exposições de Artes Plásticas, e cultivar, celebrante, a ciência do Belo. De vedar o meu atro, e cantar no Teatro. De ser experto e ser o truque, de gravar, primoroso, um «Audio-Book». E incluindo os alfarrábios dos séculos XX e XVII, e XVIII e XIX, de reunir pelo menos, em minha estaleca, 11. 000 livros na minha Biblioteca. Gostaria de ser Teólogo, e, nos jardins, de comprar, brevemente, uma casa em Mem Martins…
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