Um trabalho de Fernando Morais Gomes
Muitos foram os estrangeiros que escolheram Sintra para residência, ou para visitas prolongadas. Se no século XIX temos o exemplo de Beckford, Byron ou Francis Cook, no século XX muitos foram os atraídos pela serra lunar. Alguns exemplos:
KAISER GUILHERME II DA ALEMANHA
Em 28 de Abril de 1905 visitou Sintra o kaiser da Alemanha, Guilherme II. Tendo apanhado o comboio em Belém, juntou-se-lhe a Família Real- D. Carlos e D. Amélia na estação de Alcântara. Em Sintra foram recebidos pelo presidente da Câmara, a Real Filarmónica e meninas com flores, tendo o cortejo de 11 carruagens seguido para a Vila, encabeçado pelo automóvel do infante D. Afonso, o Arreda. Depois do almoço, na Sala das Pegas, onde a Guarda Municipal interpretou obras de Wagner, o cortejo visitou a Pena, onde foram apreciadas camélias, tendo ao fim do dia voltado a Lisboa, muito aplaudidos pela população.
RUBÉN DÁRIO
Rubén Darío (1867-1916), foi o pseudónimo literário de Félix Rubén García Sarmiento, nasceu em Metapa, hoje Ciudad Darío, Matagalpa, na Nicarágua, a 18 de Janeiro de 1867 tendo falecido a 6 de fevereiro de 1916 em Léon. Iniciador e máximo representante do Modernismo literário em língua espanhola, foi possivelmente o poeta com maior e mais duradoura influência na poesia do século XX no mundo hispânico. Para a formação poética de Rubén Darío foi determinante a influência da poesia francesa. Em primeiro lugar, os românticos, e muito especialmente Víctor Hugo. Mais tarde, e de forma decisiva, chega a influência dos parnasianos Théophile Gautier, Catulle Mendès e José María de Heredia. Por último, o que termina por definir a estética dariana é sua admiração pelos simbolistas, e entre eles, acima de qualquer outro, Paul Verlaine.
Azul, de 1888, considerado o livro inaugural do Modernismo hispano-americano, recolhe tanto relatos em prosa como poemas, cuja variedade métrica chamou a atenção da crítica. A etapa da plenitude do Modernismo e da obra poética dariana é o livro Prosas profanas y otros poemas, colecção de poemas em que a presença do erótico se torna mais importante e em que não está ausente a preocupação por temas esotéricos. Neste livro já está toda a imaginação exótica própria da poética dariana: a França do século XVIII, a Itália e a Espanha medievais, a mitologia grega, etc.
Pois Rubén Darío foi um dos poetas que também veio conhecer Sintra. Em Abril de 1912, viajando com o escritor argentino Alfredo Guido, Darío esteve em Lisboa, daqui enviando crónicas para o jornal de Buenos Aires La Nacíon, e nesse jornal sai a 21 de Junho de 1912 a sua crónica sobre Sintra, que embora em castelhano, aqui se transcreve, registando as impressões de mais um ilustre viajante, menos de dois anos após a proclamação da República Portuguesa:
“O carro sai de Lisboa a uma velocidade vertiginosa, com a minha admoestação ao chauffeur. O meu companheiro Alfredo Guido, que é automobilista, afirma-me que tudo vai perfeitamente. Assim, a passo diabólico, logo deixamos atrás a “coisa boa”, povoados e aldeias, pela estrada que conduz a Sintra, lugar de veraneio dos reis e das famílias aristocráticas do hoje “escangalhado” Reino. A estrada é ondulada, e vamos subindo. Logo se divisam fantásticas construções, no alto da serra, sobre amontoados de pedras, que poderiam ser da pedreira de mitológicos gigantes. Uma é um castelo em ruínas, cinzento, fantástico, o outro é o castelo da Pena, mansão de conto azul, de conto de “mil e uma noites”, com a sua torre esbelta e ligeira, suas cúpulas douradas, seu aspecto ilusório. Lá haveremos de chegar. Entretanto, vemos dum lado do caminho, entre a verdura fresca de uma vegetação profunda, villas, chalets, casas pitorescas. Um palácio surge, gracioso, aéreo, todo branco da espessura das árvores, dizem-me que pertence ao sr. Silveira, chamado pelas suas vistosas rendas “Silveira dos Milhões”. Passamos pelo pequeno povoado de Sintra e subimos por fim à moradia que foi real. Se o aspecto exterior é admirável e temeroso, quando se vê como construíram tal edifício à beira de enormes precipícios num país onde não foram raras as ocorrências sísmicas, o interior é desolador. Há o que se poderia chamar os despojos duma régia escassez. Alguns velhos móveis, precárias porcelanas, tristes antiguidades sem grandeza. E se vê como deve ter passado tristes e aborrecidas horas o jovem monarca nos últimos verões, antes que soprasse a revolução e seus ventos fortes.
O castelo parece algo vazio e abandonado, junto à entrada conventual circula um ou outro guarda da República, e sai-se dali como de um lugar de desolação”
TENNESSEE CLAFLIN
Tennessee Celeste Claflin, Lady Cook, segunda esposa de Francis Cook e Viscondessa de Monserrate, nascida em 1843, foi uma sufragista americana e uma das primeiras mulheres a abrir uma firma de correctores em Wall Street. Empenhada no movimento sufragista, foi igualmente um dos rostos pela legalização da prostituição nos Estados Unidos.
O casamento com Francis Cook foi infeliz, embora nas deslocações a Portugal predominasse do casal uma visão aristocrática e filantrópica por parte dos locais. Cook morreu em 1901 e Tennie a 18 de Janeiro de 1923, com 77 anos, em casa da neta, Lady Utica Celeste Beecham, em Inglaterra, sem testamento.
CHRISTOPHER ISHERWOOD
No Natal de 1935 Christopher Isherwood e Stephen Spender, escritores da chamada Geração Auden, que incluiu W. H. Auden, Louis MacNeice, Cecil Day-Lewis e Stephen Spender viveram por algum tempo em Sintra, daí resultando um livro publicado apenas em 2012, em italiano. Isherwood, nascido em Inglaterra, foi o autor do famoso Adeus a Berlim, que serviu de base ao filme Cabaret, de Bob Fosse, bem como de Um Homem Singular e Encontro à Beira Rio. Em Sintra viveu na Vila Alecrim do Norte, em S. Pedro.
ADRIAN CONAN DOYLE
Também a família de Sir Arthur Conan Doyle, o “pai” de Sherlock Holmes, viveu em Sintra, nomeadamente a irmã, Annette, em Portugal desde 1890, onde foi governanta, e o filho mais novo, Adrian (na foto com o pai) que por cá esteve na década de 50. Playboy e caçador reputado, continuou alguns livros de Sherlock Holmes depois da morte do pai, passando algumas temporadas na Quinta da Bela Vista
ALEISTER CROWLEY
Em Setembro de 1930, Aleister Crowley, conhecido satanista inglês, vem a Portugal conhecer Fernando Pessoa, que lhe fizera uma carta astrológica, e aí terá ficado instalado no Casal de Santa Margarida, propriedade do representante da Shell em Portugal. Alegadamente terá vindo jogar xadrez.
Escreve Crowley no seu diário em 25 de setembro de 1930: Sat[urday] 20. She left by Lloyd Bremen And I get on with the Job. To Cintra Hotel Europe by 1.48.“Armstrong” Amer[ican] Consul: she said the most wooden headed idiot, even for a consul (USA) she had ever known. I agree, and add “the kind of bastard that cheats at cards even when he has a winning hand, and no stake in the game”. Cintra perfectly gorgeous. Long starlight walk.Two games with Pellen. Lost first through trying to win a drawn position.
MADELEINE CARROLL
A actriz inglesa Madeleine Carroll passou férias no Hotel Central, em Sintra, no Verão de 1940. Estreou no cinema, com o filme The Guns of Loos, em 1928, para a Stoll-Filme, e foi emprestada para a Fox em 1934, para fazer The World Moves On (“A Marcha dos Séculos”), de John Ford, recebendo para isso um dos maiores salários já pagos em Hollywood. Voltando a Londres, atuou em The Loves of a Dictator (“O Ditador”), de Victor Saville. Foi dirigida por alguns dos mais famosos directores do mundo como John Ford, Otto Preminger, Cecil B. de Mille, ou Hitchcock, com quem fez “Os 39 Degraus”. Em 1941 gravou “A Night in Lisbon” de E. Griffith
STEFAN ZWEIG
De visita a Portugal em Fevereiro de 1938, Zweig, que depois se suicidou no Brasil, esteve com Ferreira de Castro em Sintra. A sua vinda terá estado relacionada com recolha de dados para o seu livro sobre Fernão de Magalhães.
CONDES DE PARIS
A Quinta do Anjinho, na Abrunheira, foi descoberta pelo embaixador de Espanha em Lisboa, Nicolau Franco. Tinha-a, aliás, proposto ao conde de Barcelona, pai do actual rei de Espanha, que rejeitou a ideia por ser muito grande e, sobretudo, estar longe do seu querido golf do Estoril.
Os Condes de Paris instalam-se definitivamente na Quinta do Anjinho, em Março de 1947, e é a partir desta data que a história da Quinta se mistura com a história da família, príncipes, reis sem coroa e membros das grandes monarquias europeias que encontram em Portugal um refúgio real. Em 20 de Janeiro de 1948 nasceu Thibault, o mais novo dos príncipes de França. Pouco depois recebem a visita do Rei Leopoldo da Bélgica. No baptismo, foi seu padrinho o rei Humberto de Itália e madrinha a rainha D. Amélia, então exilada em França. Convidados foram todos os príncipes que viviam em Portugal.
Nas festas que os Condes de Paris davam em casa, o fado tinha quase sempre lugar cativo: Amália Rodrigues era presença regular tal como a condessa de Sabrosa, D. Maria Teresa de Noronha. Sobre o tempo que aqui viveu, num eixo que ligava Sintra Lisboa, Cascais e Estoril, a Condessa de Paris deixou nas suas memórias sobre a vida em Portugal: «entre todas as famílias reais, o exílio teceu laços fortíssimos e quando nos encontrarmos, agora que nos dispersámos todos, não conseguimos nunca deixar de evocar esta época da nossa vida com saudade».
ROY CAMPBELL
O poeta sul africano Roy Campbell viveu em Galamares em 1952 e no Linhó em 1956 e deixar-nos ia um relato confessadamente pessoal e afectivo, intitulado simplesmente
“Portugal”, do seu envolvimento com o nosso país, as suas gentes, paisagens, actividades, costumes e tradições. Como escreve na Introdução, I have not tried to write a travel book, or a guide book, or a text book about Portugal. This is a personal book, about a country which I love and admire and about a people among whom I can number countless friends in all walks of life. […]
Terá morado na Quinta dos Bochechos, manifestamente próximo da Ribeira das Maçãs, ([…]. On my Quinta dos Bochechos, near Sintra, where we had an inexhaustible water supply and could irrigate the whole farm in fifteen minutes, my wife and I had the delight of growing our own bread on ten acres of virgin soil which we cleared of scrub, so that the finest corn in the whole district, according to the Government threshers at Varzea [sic], was grown by us.” (Campbell, 1956), e em Galamares, numa casa cor de rosa, segundo Joaquim Paço d’Arcos (perto do actual picadeiro)
Escreveu ele “It is one of the few faults of […] the Portuguese, that they drink more per head than any other people in the world, including Scots, Irish or American, but they’ve got it growing on their doorstep, and they can stand up to it better than most of us can. But on Sundays you can see some of them shepherding invisible sheep along the main roads, from side to side: so, on Sundays, you motorists should drive carefully in Portugal.”
Por infeliz coincidência, Campbell seria precisamente vítima de um acidente rodoviário mortal, no domingo de Páscoa de 1957,perto de Setúbal, sendo o carro conduzido pela esposa.
Em Portugal escreveu uma nova versão da sua autobiografia Light on a Dark Horse e ainda Lorca (1952) , traduziu o Primo Basílio para inglês, e escreveu ainda The Mamba’s Precipice (1953) Nativity (1954) e Portugal (1957)
GLORIA SWANSON
Esta actriz americana chegou a ter casa no Rodízio, e frequentava a Praia das Maçãs com frequência. Estreou como figurante, no filme The Song of Soul, em 1914 e actuou em diversas comédias de Mack Sennette. Em 1922 entrou no filme mudo Beyond the Rocks com Rodolfo Valentino.
Em 1950, actuou em Crepúsculo dos Deuses dirigida por Billy Wilder onde interpretou “Norma Desmond”, uma actriz do cinema mudo incapaz de aceitar o esquecimento. Gloria Swanson interpretou-se a si mesma no seu último filme Aeroporto 75, de 1975. Segundo a revista de sábado do DN de 16 de Julho de 2011, “Diz-se que a primeira vinda a Portugal se deveu ao desgosto de ter perdido o Óscar para Judy Holliday. Gloria não perdoou a Hollywood a ingratidão, e desde então as suas aparições rarearam limitando-se a alguns peplum italianos e espectáculos na Broadway. (…)Hoje, ninguém sabe que a Praia das Maçãs era frequentada por uma das derradeiras divas. Gloria caminhava discreta pelas arribas para cá e para lá, ladeada pelo sobrinho, oculta por lenços violeta e óculos negros de grandes aros. Dispensava o social e as abordagens de algum fã mais atento. Não dispensava o blush. À tarde, preferia os toldos e as esplanadas às festas dos nobres da vila. Gostava de amêijoas e de tremoços. Apreciava a humidade e a bruma, o eléctrico, os pescadores empoleirados nas rochas e os berros das gaivotas. Lia Eça, Byron e Rimbaud. Escrevia poemas a lápis de cor que rasgava logo a seguir ou pegava-lhes fogo.Consta que terá passado uma noite inteira de insónia na varanda a contemplar o oceano e a beber moscatel. Gloria chegou a Nova Iorque doente e as praias de Sintra foram as suas últimas férias.(…)”
JACQUELINE DUPRÉ E DANIEL BARENBOIM
A violoncelista Jacqueline Dupré e o maestro Daniel Barenboim casaram em 15 de junho de 1967, e as semanas subsequentes ao casamento foram passadas em Sintra, na Quinta da Piedade, da sua amiga, a Marquesa de Cadaval.
PIERRE SCHLUMBERGER
Pierre Schlumberger foi presidente da Well Surveying Corporation, com actividade em Houston e sede em Curaçao, desde 1956. Seu pai, Marcel e seu tio Conrad haviam iniciado os proveitosos negócios da Schlumberger em 1927.Petróleo, equipamentos eléctricos, mais de 343 milhões de dollares em vendas só em 1966, era apenas parte do império construído em quarenta anos.
Magnata francês do petróleo e herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo, conheceu a mulher, a portuguesa São num jantar nos Estados Unidos, em 1961. Foi amor à primeira vista, e ambos casaram em Houston. A cerimónia foi simples e discreta, ao estilo dos Schlumberger – uma família protestante que cultivava a frugalidade apesar se ser das mais ricas de França -, nada condizente com as estridentes e propaladas festas que São haveria de dar mais tarde ao longo da sua vida. Como o grande baile “La Dolce Vita”, em 1968, que São organizou na Quinta do Vinagre, em Colares, a casa onde passavam férias de verão, na mesma semana em que os Patiño deram a sua grande festa. Segundo se conta, São não queria ficar atrás da sua rival Beatriz Patiño, que desdenhava dela. Por isso organizou uma festa na ambição de ser tão grande e imponente como a dos Patiño, onde estiveram presentes 1200 pessoas num desfile de luxo, celebridades e fama. Viviam entre Houston, no Texas, onde era a sede da petrolífera Schlumberger, Paris e Colares.
Pierre tinha uma vasta coleção de obras numa colecção que incluía muitos Picasso, Braque, Monet, Degas, Bonnard ,Rothko, Rauschenberg e Lichtenstein, e acabou por se tornar grande amiga de Andy Warhol. A senhora Schlumberger foi a única portuguesa com um retrato seu pintado por Warhol e por Salvador Dali, outro artista que ficou seu amigo. Em 1969, apenas um ano depois do grande baile em Portugal, Pierre teve um AVC durante umas férias em Portugal. Em 1984 Pierre teve novo AVC, para falecer 14 meses depois.
PAUL MORAND
Paul Morand (Paris, 13 de março de 1888 – Paris, 24 de julho de 1976) foi um diplomata, novelista, dramaturgo e poeta francês, considerado um modernista. Foi membro da Academia Francesa. Apaixonado por Sintra. Visitante de Sintra, escreveu em 1959 O Prisioneiro de Sintra, cinco contos em torno de uma família aristocrática residente em Sintra. Escreveu igualmente “Lorenzaccio”, onde o personagem,Tarquínio Gonçalves, o proscrito de «Lorenzaccio», teria sido visto em Portugal como um ofensivo retrato de Oliveira Salazar. Em 1956, numa entrevista a Stéphane Sarkany, Paul Morand fez esta revelação surpreendente: Construí a personagem de «Lorenzaccio» inspirando-me num amigo meu, um jovem português que era o chefe dos pederastas de Lisboa. Divertiu-me transformá-lo num ditador, isto dois anos antes de Salazar ter aparecido e quando Portugal estava muito longe da ditadura! Mas os Portugueses julgaram que eu tinha feito um retrato de Salazar, e andámos de candeias às avessas durante vinte anos.
Este escritor, este diplomata de carreira, esteve quinze anos sem voltar a Portugal; teve vistos de entrada negados pela polícia política portuguesa e o seu amigo José dos Santos, director da Casa de Portugal em Paris, fez-lhe saber que era persona non grata no nosso país. Mas tão forte azedume de fronteiras teria sido alimentado por uma associação directa entre a personagem Tarquínio Gonçalves e Salazar.
Escritor, diplomata e académico (no fim da vida), Paul Morand (1888-1976) é uma figura desagradável da literatura francesa. Não tanto pela sua colaboração com o regime de Vichy (a que aderiu voluntariamente, abandonando as funções diplomáticas em Londres em 1940 e aderindo ao governo de Pétain, que o nomearia ministro plenipotenciário em Bucareste) mas pela sua personalidade intriguista e mesquinha. Tendo convivido de perto com a maior parte dos escritores (e não-escritores) homossexuais franceses, como Proust, Gide, Cocteau, aproveitou todas as ocasiões para os criticar e para exaltar a sua pretensa virilidade e a sua paixão pelas mulheres, o que, dada a insistência com que o faz, não deixa de levantar suspeitas sobre o carácter das relações que manteve com muitas das personalidades citadas nas suas memórias, o Journal Inutile. Como escritor, foi brilhante mas superficial, e não tendo conseguido fazer-se eleger para a Academia Francesa antes da Ocupação alemã, só viria a sentar-se entre os “imortais” em 1968, já que De Gaulle (por óbvias razões), como patrono da Academia, sempre se opusera a essa eleição, que só se concretizaria no período final do mandato presidencial do general.
JACQUES CHARDONNE
De ascendência norte-americana pelo lado materno, Jacques Chardonne, pseudónimo do escritor Jacques Boutelleau formado a partir do nome de uma aldeia suíça (Chardonne-sur-Vevey), iniciou a sua atividade literária com Catherine, um primeiro romance escrito em 1904 mas que o autor só daria à estampa sessenta anos mais tarde, em 1964. Outras obras se seguiram com particular destaque para L’Épithalame (1921), romance com o qual o escritor quase obteve o prémio Goncourt, Claire (1931), uma obra com grande tiragem aquando da sua publicação, a trilogia Les Destinées Sentimentales, publicada entre 1934 e 1936, Romanesques (1937), Chimériques (1948) e Vivre à Madère (1953).
Os primeiros contactos diretos com Portugal tiveram lugar no início de Março de 1951, período em que Jacques Chardonne chegou a Lisboa por comboio. A sua estadia não se circunscreveu apenas à capital portuguesa já que a prosseguiu em Sintra e na Madeira, ilha à qual se dirigiu por hidroavião, vindo a instalar-se no hotel Savoy no Funchal.Uma segunda visita a Portugal teve lugar entre 15 de Abril e 15 de Maio de 1955. Privilegiando a localidade de Óbidos, escolhida por José dos Santos, então diretor da Casa de Portugal em Paris, esta segunda estadia incluiu ainda uma incursão ao Norte do País e ao Algarve. Reflexos dela podem ser encontrados na obra Matinales, publicada em 1956, que se constitui como um conjunto heterogéneo de reflexões e impressões escritas na sua maioria ao longo de 1955 e sem relação entre si. Particularmente na secção IV, o escritor aborda diversas localidades e regiões portuguesas como Óbidos, Sintra, Lisboa, Nazaré, o Algarve e ainda a Madeira.
Em 1959, Jacques Chardonne efetua uma terceira e última deslocação a Portugal, a convite do então ministério da Informação e do Turismo. Anunciada a sua chegada para o dia 15 de Março a Sintra, em carta de 4 de Fevereiro de 1959 ao escritor Michel Déon o escritor visita e revisita localidades com Queluz, a Ericeira, Cascais, Sintra e, a seu pedido expresso, Óbidos. Várias destas visitas foram aliás feitas na companhia de Michel Déon e do editor Jean-Paul Caracalla, e respetivas esposas.
De resto, os contactos com Portugal à distância não deixaram de ser significativos. Recebido por José dos Santos e pela esposa Suzanne Chantal na Casa de Portugal em Paris, foi nessa instituição que Jacques Chardonne comemorou o seu septuagésimo quinto aniversário, em Janeiro de 1959, tendo sido nessa mesma ocasião que conheceu pessoalmente Amália Rodrigues. Uma celebração semelhante e no mesmo local ocorreu ainda em 1964, aquando do octogésimo aniversário do escritor.
Finalmente, em 1963, Michel Déon publicou Le Portugal que j’aime…, obra acompanhada de numerosas ilustrações, legendadas por Paul Morand, na qual aquele autor aborda diversos aspetos relativos à História, monumentos, costumes do povo português. A apresentação do livro ficou a cargo de Jacques Chardonne sob a forma de um curto texto introdutório ao longo do qual se encontram diversos excertos, com alterações, extraídos dos textos relativos a localidades portuguesas contidos na obra Matinales.
THOMAS BERNHARD
No final de Maio de 1976, o escritor austríaco Thomas Bernhard foi convidado pelo Instituto Goethe para leituras em Lisboa e Coimbra. O dia após a leitura foi a Sintra, onde almoçou no Palácio de Seteais, como é relatado por Gerda Maleta no seu livro de memórias “Dias com Thomas Bernhard”. Em 1976, o hotel estava ocupado quase inteiramente com refugiados de Angola. Entre Janeiro e Março de 1987, Bernhard voltou a parar em Sintra, tendo visitado Monserrate e o cabo da Roca, onde os penhascos íngremes da costa atlântica lhe lembraram as falésias calcárias de Caspar David Friedrich.
GRAHAM GREENE
A 19 de Julho de 1977 o escritor Graham Greene e o seu amigo Padre Durán estiveram na Quinta da Piedade, em Sintra, e hospedaram-se num anexo, onde vivia Maria Newall, amiga dos tempos do Quénia. Limitada uma cadeira de rodas, esta recebeu-os efusivamente, no anexo que marquesa de Cadaval lhe proporcionava.Entre os planos do escritor, estava a ideia de entrevistar Otelo Saraiva de Carvalho. No ano seguinte voltou de novo a Sintra, e de 1977 e até morrer, em 1991 praticamente todos os anos, Graham Greene passava uma semana na Quinta da Piedade
WIM WENDERS
Sintra e o seu litoral também no cinema marcaram a sua presença. Em 1982 aqui esteve Wim Wenders para a realização, em grande parte na Praia Grande, do filme que lhe rendeu o Leão de Ouro em Veneza, quase todo rodado em Portugal, e onde num ambiente intimista vários personagens, a preto e branco, dissertam sobre a sua existência, aqui e ali se reconhecendo paisagens a todos familiares, de Almoçageme à Praia Grande.
Rodado em Portugal há mais de 30 anos, «O Estado das Coisas», de Wim Wenders, decorre durante as filmagens,( na Praia Grande), de uma fita de ficção científica de série B intitulada «Os Sobreviventes», a qual é o remake de um velho título de Roger Corman, «The Day the World Ended». (Corman aparece brevemente no final, em Los Angeles, numa das muitas piscadelas de olho cinematográficas que Wenders faz ao longo da história).
Sendo um filme que glosa um tema caro a Wenders, a passagem do tempo sobre pessoas errantes ou, no caso, inactivas (o dinheiro e a película acabam e a equipa de «Os Sobreviventes» fica sem fazer nada num hotel à beira-mar), e que confronta, nas pessoas de um realizador europeu (Patrick Bauchau) e do seu produtor americano (Allen Goorwitz), duas formas opostas de fazer cinema, «O Estado das Coisas» transformou-se sem querer, e pela acção inexorável do tempo num filme de fantasmas. Lá estão, já desaparecidos Henri Alekan, Samuel Fuller e o seu charuto, Robert Kramer silencioso, Artur Semedo e a sua luva preta.
Em redor deles, surge um Portugal tristonho e apático, ainda com vestígios do PREC visíveis nos muros e paredes, sem telemóveis nem computadores, e com preços arqueológicos (bife grelhado, 125 escudos, lê-se num menu do hotel da praia).
GLAUBER ROCHA
O consagrado realizador brasileiro Glauber Rocha, um dos percursores do Cinema Novo e premiado director de Deus e o Diabo Na Terra do Sol (1963) e Terra em Transe (1967) viveu na casa abaixo, na Vila Velha.25 anos depois da sua morte, a sua companheira, Paula Gaitan voltou a Portugal e filmou Diário de Sintra, um filme sobre a sua vida e legado.
PRÍNCIPES DE GALES, CARLOS E DIANA
Numa iniciativa da British Historical Society of Portugal, os Príncipes de Gales, Carlos e Diana, estiveram em Portugal em Fevereiro de 1987 para homenagear a Rainha Dona Filipa de Lencastre, mulher de Dom João I. A colocação numa das paredes do Palácio Real de Sintra de uma lápide e de um alto-relevo com o busto da rainha, representou o ponto mais significante do vasto programa de comemorações do 600º aniversário do casamento Real, que celebrou também a mais antiga aliança internacional celebrada por Portugal.
AYRTON SENNA
Sempre que Arton Senna vinha a Lisboa, ficava na Quinta que Braguinha, dono do Bradesto, comprara em Sintra. Foi ali que uma vez foi conduzido pelo taxista João Justino a quem deu uma gorjeta fenomenal.
Braguinha dava instruções aos empregados e cozinheira para alimentarem bem Ayrton. Bife com Batatas fritas, passou a ser o prato favorito. Com o tempo, aquela passou a ser a casa de Senna. Nos números 22 e 24 da Calçada da Penalva, em São Pedro de Sintra. Um refúgio com 30 assoalhadas, entre quartos, salas, copas, cozinhas, adega, jardins, piscinas. Protegido pelas colinas de Sintra.
Aquele lugar transformou-se no refúgio, na conchinha de Senna na Europa. A sua Angra dos Reis europeia. Por Sintra vivia. O Autódromo do Estoril ali ao pé, a praia do Guincho, para correr e treinar. Ali amou e foi amado.
PAUL AUSTER
Paul Auster , o escritor norte-americano autor de vários best-sellers como Timbuktu O Livro das Ilusões A Noite do Oráculo e A Música do Acaso, é também realizador de cinema, e o seu segundo filme A Vida Interior de Martin Frost (o último que realizou até hoje, depois de Lulu on the Bridge e da co-realização de Smoke e Blue in the Face, com Wayne Wang), foi filmado nas Azenhas do Mar, numa casa térrea com um jardim imenso a dar para o Atlântico, tendo vivido por cá durante as filmagens.
ROMAN POLANSKI E JOHNNY DEPP
A Nona Porta, uma adaptação de Roman Polanski em 1999 da obra literária O Clube Dumas, do espanhol Arturo Pérez-Reverte, com Johnny Depp como actor principal, foi em parte filmada em Sintra, no Hotel Central e no Chalet Biester.
RAUL RUIZ
Raul Ruiz, cineasta chileno radicado em França, país no qual se exilou aquando a ocorrência do golpe de Estado no Chile em 11 de Setembro de 1973, que depôs Salvador Allende.
Fez parte de uma geração de cineastas chilenos politicamente comprometidos, como Miguel Littín e Helvio Soto. Mas aos poucos foi sendo considerado um autor distinto, que criava filmes cada vez mais criativos, surrealistas, irónicos e experimentais. É, por muitos, considerado o cineasta chileno mais importante da história. Em Sintra gravou em 1981 “O Território” e já perto da morte, em 2011, “Mistérios de Lisboa”, com exteriores na Quinta da Ribafria.
VISITANTES FAMOSOS
Rei Eduardo VII de Inglaterra, 1903
A visita de Eduardo VII a Portugal foi a primeira deslocação que o monarca realizou ao estrangeiro após a sua coroação. A visita a Sintra decorreu no dia 3 de Abril de 1903, tendo os reis D. Carlos e Eduardo VII saído da estação do Rossio às 11h17 e chegado a Sintra 20 minutos depois. Aí, visitaram a Pena, onde lhes foi servido um almoço, percorrendo depois o parque. Eram cinco horas quando o comboio real chegou à estação do Rossio, levando de volta os monarcas e a comitiva. Eduardo VII, Rei da Grã-Bretanha e da Irlanda, tinha embarcado com destino a Portugal no dia 31 de Março de 1903, em Portsmouth, a bordo do iate Victoria and Albert. O iate cruzou a barra do Tejo às 14h30 de 2 de Abril, acompanhado dos couraçados ingleses Minerva e Vénus.
Na sua recepção reuniram-se entre Algés e Belém os cruzadores D. Carlos, D. Amélia e Adamastor e um conjunto de vapores. Cerca das 16 horas, altura em que o iate ancorou, o rei D. Carlos dirigiu-se-lhe no bergantim real, encaminhando-se depois para o Cais das Colunas. Após a recepção oficial, organizou-se um cortejo de seis coches, cada qual ladeado por criados da casa real e um vasto conjunto de forças militares.
O programa de viagem do sucessor da rainha Vitória contou com uma visita a Sintra e Cascais, noite de fogo de artifício e iluminações no rio, inauguração do clube inglês nas Janelas Verdes, sessão na Sociedade de Geografia, tourada no Campo Pequeno e ainda uma récita de gala no Teatro São Carlos, com a ópera O Barbeiro de Sevilha.
A visita a Portugal, que teve como objectivo estreitar os laços entre as duas nações, terminou a 7 de Abril, quando “às vergas dos navios subiram os marinheiros a soltar os vivas da ordenança”.
Émile Loubet, Presidente da França, Outubro de 1905
Depois de uma recepção “festiva e imponente” na Estação do Rossio, onde Loubet chegou de comboio e onde foi recebido pelo rei D. Carlos, o presidente francês seguiu para o Paço de Belém, onde o esperava “Sua Majestade a Rainha” D. Amélia. O almoço que se seguiu começou com “oeufs à la Sévigné”, prosseguiu com “paupiette de veau aux petits pois” e terminou com “glace”, uma ementa transcrita assim mesmo, em francês, no DN.
Além da capital portuguesa, Loubet visitou a vila de Sintra, para onde viajou de comboio e sempre acompanhado pelos reis D. Carlos e D. Amélia, cuja diferença de estatura para o presidente francês é bem visível nas ilustrações publicadas na época. “A vila apresentava desde a manhã aspecto festivo”, escrevia o DN num artigo que fazia referência à passagem de Loubet e da mulher por Cascais.
O presidente francês despediu-se de Portugal a 29 de Outubro, com um “banquete [no Tejo] a bordo do couraçado Leon Gambetta”. Mais tarde, acompanhado pelos monarcas portugueses, embarcaria no Cais das Colunas a caminho de França, levando “o souvenir de Portugal gravado no seu coração” e o desejo de transmitir aos cidadãos franceses “o grandioso afeto com que foi recebido em Portugal.”
Marconi, 1920
Inventor do primeiro sistema prático de telegrafia sem fios, em 1896, Marconi fez a sua primeira transmissão pelo Canal da Mancha. A teoria de que as ondas electromagnéticas poderiam propagar-se no espaço, comprovada pelas experiências de Heinrich Hertz, em 1888, foi utilizada por Marconi entre 1894 e 1895. Tinha apenas vinte anos, em 1894, quando transformou o celeiro da casa onde morava num laboratório e estudou os princípios elementares de uma transmissão radiotelegráfica, uma bateria para fornecer electricidade, uma bobina de indução para aumentar a força, uma faísca eléctrica emitida entre duas bolas de metal gerando uma oscilação semelhante às estudadas por Heinrich Hertz, um coesor, como o inventado por Branly, situado a alguns metros de distância, ao ser atingido pelas ondas, accionava uma bateria e fazia uma campainha tocar.
Marconi esteve em Portugal duas vezes, em 1912, quando fez uma palestra na Sociedade de Geografia, e em 1920, altura em que visitou Sintra, como se pode ver na foto abaixo, nas escadarias do Paço.
Lloyd George, antigo primeiro ministro britânico, 1934
T.S.Elliott, escritor, 1938 (segundo da esquerda para a direita)
Josephine Baker, cantora americana, 1941
Em Março deste ano a cantora Josephine Baker estreou-se em Portugal, com uma série de concertos no Teatro da Trindade, em Lisboa. Em 1941, em plena II Guerra Mundial, a artista concebeu os espectáculos também como fachada para a sua actividade de espia ao serviço da França Livre, a organização de resistência chefiada pelo general De Gaulle: nas pautas confiadas ao maestro Almeida Cruz havia, escritas a tinta invisível, importantes mensagens para entregar aos Aliados sobre as posições do exército nazi na sua pátria adoptiva, a França, e também ela visitou Sintra.
Café Filho, Presidente do Brasil, Abril de 1955
Princesa Margarida de Inglaterra, 1959
Richard Nixon, 19 de Junho de 1963
Rainier e Grace do Mónaco, 1964
A 12 de abril de 1964, visitavam Portugal os príncipes do Mónaco, Rainier e Grace, e nesse dia, um domingo, faziam uma visita a Sintra. A chegada faz-se por S.Pedro em direcção ao Palácio da Vila, tendo depois sido servido um almoço na Quinta da Ribafria, precedido de missa celebrada pelo reitor do Seminário Salesiano de Manique.
Após o almoço, campinos do Ribatejo dançaram algumas danças tradicionais enquanto estudantes de Coimbra, de capa e batina, davam vivas aos príncipes. A princesa Grace, actriz norte-americana que atingiu o estrelato em Hollywood, mostrou interesse nas filigranas portuguesas, enquanto Jorge de Melo, proprietário da Quinta, acompanhado dos seus 8 filhos, acompanhou o príncipe Rainier numa visita pela quinta, observando os cavalos e poldros nas cavalariças.
Dia 16, o casal monegasco voltou a Sintra, mas aí para uma recepção oficial, oferecida pelo presidente Américo Tomás no Palácio de Queluz.
Peter Gabriel, 1975
Mikhail Gorbachev, 1995
Benazir Bhutto, 12 de Abril de 1999
Benazir Butho, primeira ministra do Paquistão, veio a Sintra a um colóquio sobre poder no feminino.
U2, gravação da capa do LP na discoteca Concha, Praia das Maçãs, 2004
A capa do álbum ‘How To Dismantle An Atomic Bomb’ do U2 traz uma fotografia do grupo sentado na varanda do Bar “Concha Bar”, que faz parte do complexo das piscinas da praia das Maçãs em Colares, Sintra, Lisboa.
A Praia Grande, perto de Sintra, e a zona da Expo foram locais visitados em 2004 pela comitiva de cerca de vinte pessoas que incluiu Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen, e dois seguranças. O restaurante Bica do Sapato e a discoteca Lux foram também locais por onde a comitiva passou.
A escolha de Lisboa foi uma opção do holandês Anton Corbijn.
As fotos tiradas em Sintra e Barreiro foram utilizadas no calendário de 2005 da banda. Um vídeo de ‘Vertigo’ com remix de Jacknife Lee, foi editado utilizando imagens da banda registadas em Lisboa.
PRÍNCIPE CARLOS E CAMILA PARKER-BOWLES
A 29 de Março de 2011, o príncipe Carlos e Camila Parker-Bowles visitaram o Parque de Monserrate e plantaram rosas com os seus nomes