Geologia da serra de Sintra, pelo prof. Galopim de Carvalho

Durante o recente V Encontro de História de Sintra, o professor Galopim de Carvalho produziu uma palpitante intervenção onde falou abundantemente da serra de Sintra, e de que publicamos aqui um resumo, por si elaborado.

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GEOLOGIA DA SERRA DE SINTRA, EM MEIA DÚZIA DE PALAVRAS

Sem entrar nos pormenores de uma visão avançada, normal entre geólogos, qualquer pessoa achará interessante conhecer, ainda que em termos muito gerais, a história desta pequena montanha que, anos idos do século XIX e a uns 30 km de Lisboa, oferecia aos ingleses aqui residentes o clima atlântico que os transportava à sua saudosa ilha.

A primeira abordagem ao estudo verdadeiramente científico da Serra de Sintra surgiu em finais do século XIX, da autoria do geólogo suíço Paul Choffat, (foto)imagem7

também ele um residente em Portugal. A partir de então, o relevo, a estrutura, as rochas, minerais e a génese desta pequena montanha, que referiu como maciço, não pararam de ser investigadas pelos mais diversos cientistas nacionais e estrangeiros. Tanta é a variedade de tipos de rochas aqui representadas, que o geólogo e mineralogista francês Alfred Lacroix (1863 1948) apontou-a como uma “joia da petrografia”.

Com cerca de dez quilómetros de comprimento por cerca de quatro de largura e um perfil acidentado, este maciço, que ainda se prolonga mar adentro por mais alguns quilómetros, sobressai da planura envolvente como uma elevação cujo ponto mais alto ultrapassa os quinhentos metros de altitude. Para explicar a formação deste maciço, há décadas referido como subvulcânico, temos de recuar no tempo cerca de noventa e cinco milhões de anos.

Nesse tempo, toda esta região e grande parte do território a Oeste do país, não existia como terra emersa. Tudo aqui era mar. Um mar muito pouco profundo, de águas límpidas e mais quentes do que as actuais. O litoral do continente norte-americano estava ainda bem perto do nosso. O Oceano Atlântico era, por assim dizer, embrionário. Algo que podemos imaginar semelhante ao actual Mar Vermelho, entre a África e a Arábia.

O substrato rochoso deste mar era constituído por uma série de camadas de rochas sedimentares com grande espessura, incluindo calcários, arenitos, argilitos e conglomerados. Nesta série, iniciada há cerca de 150 milhões de anos, no Jurássico superior, os depósitos mais modernos são os calcários acumulados no referido mar no início do Cretácico superior, que rondam os ditos noventa e cinco milhões de anos.

Por baixo desta série de camadas sedimentares estavam, e estão, as rochas antigas com mais de 280 milhões de anos, maioritariamente granitos e xistos do soco rígido, que formam a ossatura de Portugal e de toda a Península Ibérica, e que completam os 35 quilómetros de espessura da crosta terrestre nesta região.

Uns 30 a 35 quilómetros abaixo dos nossos pés, na fronteira entre a crosta e o manto, concentrara-se um importante foco de calor vindo da profundidade, que começou a derreter os referidos granitos e xistos da crosta, transformando-os num magma ascendente, tal como uma bolha de azeite a subir no seio da água, mas a uma velocidade extremamente lenta, imperceptível, que só a imensidão do tempo geológico permite entender. Acontece que havia aqui uma falha geológica, com orientação sensivelmente E-W, atravessando a crosta, criando assim uma zona de fraqueza favorável à subida do referido magma.

Na sequência da ascensão deste magma, as camadas sedimentares suprajacentes foram sendo empoladas e elevadas, formando uma abóbada, no interior da qual o magma foi subindo, arrefecendo e solidificando, o que aconteceu há cerca de 85 milhões de anos. Durante a sua formação e subida, este magma foi engolindo e digerindo parte das rochas com as quais ia ficando em contacto, modificando, aqui e ali, a sua composição. Geraram-se, assim, vários tipos de líquidos magmáticos que originaram outros tantos tipos de rochas, com destaque para o granito, o sienito, o diorito, o gabro, o mafraíto, e algumas brechas ígneas. Isto sem falar de rochas filonianas tais como traquitos, microssienitos, microdioritos, microgranitos e outras.

Como é regra da natureza, em qualquer latitude, sempre que uma porção de terreno se eleva, a erosão começa a desgastá-lo. E foi isso, precisamente, o que aconteceu aqui. A cúpula de camadas sedimentares, na maioria, calcários, trazendo consigo, escondido no seu interior, o miolo magmático, elevou-se bem acima do mar. Muito provavelmente tivemos aqui uma ilha formada por uma montanha. Ao longo dos milhões de anos que se seguiram, a montanha foi sendo desgastada até à dimensão que hoje apresenta, e o seu miolo magmático ficou a descoberto. Quem conhece a Serra, sabe que pisa, sobretudo, granito e, mais para ocidente, na zona da Peninha, sienito. Os calcários e as outras rochas sedimentares da cobertura jurássica e cretácica estão confinadas à periferia.

imagem3Formação da Serra de Sintra

imagem4Pegadas de dinossauro na Praia Grande

imagem5Pegadas de Carenque

imagem6Tipo de dinossauro conforme com as pegadas de Carenque

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