Gonçalo Salvaterra, o mundo numa paleta de cores escuras

Gonçalo Salvaterra (1992) é licenciado e mestre em antropologia pelo ISCSP – Universidade de Lisboa e atualmente frequenta o doutoramento Antropologia: Políticas e Imagens da Cultura e Museologia no ISCTE – IUL e FCSH-NOVA. É Investigador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA). Tem em curso um projeto de investigação doutoral com o título “Natureza, cultura e património: Uma etnografia da conservação no Parque Nacional do Boé” financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Paralelamente, é pintor, tendo já participado em algumas exposições. Amigo e colaborador da Alagamares, esta entrevista é ilustrada com obras por si pintadas, e que igualmente refletem a sua visão do mundo.

Enquanto antropólogo, como caraterizarias o território que hoje constitui o concelho de Sintra?

Considero Sintra como um mega concelho, profundamente heterogéneo na sua composição social e paisagística. É um concelho muito interessante para se pensar alguns dos grandes assuntos da sociedade. Pois é um concelho onde manifestamente podemos observar uma grande franja da classe trabalhadora que circunda Lisboa, mas também a grande burguesia, esta, claro, miramo-la a partir dos portões das suas quintas. É também um concelho que esteticamente parece estar dividido em três: a Sintra romântica – ligada a uma aristocracia e burguesia -, a Sintra saloia – ligada historicamente a pequenos proprietários campesinos que forneciam o importante abastecimento da metrópole -, e a Sintra suburbana, esta última a mais recente. Estas três divisões estão depois subdividas, e em alguns casos, misturadas. É um concelho com uma diversidade cultural muito bela, podemos apanhar um comboio e ouvir português com sotaque angolano, santomense, brasileiro ou sotaques eslávicos. Podemos também ouvir línguas étnicas, como fula ou mandinga da África ocidental, os crioulos de Cabo Verde ou Guiné-Bissau, enfim eu podia continuar. Cada uma destas pessoas confere uma parte da sua identidade ao concelho que – pasme-se para alguns – também é delas em pleno direito. Se soubermos onde procurar, podemos sempre encontrar os aspetos particulares destas culturas ao virar da esquina. Claro que este é um lado romântico, depois há um lado negativo, o lado marcado por discriminação racial, muitos portugueses negros e ciganos, ou migrantes residentes em Portugal são vítimas de racismo ou xenofobia no quotidiano. Infelizmente, já presenciei situações destas mais do que os dedos que tenho na mão. Enfim, talvez me tenha dispersado um pouco, mas fica aqui um apanhado geral.

“Ser saloio é de certa forma volátil e tem uma componente material e imaginária.”

O que resta hoje da Sintra rural e dos saloios que demonstre autenticidade e perenidade? E no que refere às ditas zonas suburbanas, hoje eufemisticamente chamadas de metropolitanas?

Como havia dito, parece-me que Sintra pode ser dividida em três categorias, a Sintra saloia, romântica e suburbana. A Sintra saloia foi durante muito tempo, talvez até ao 25 de Abril, uma construção do imaginário alfacinha. Sintra era uma das áreas que compunha a região saloia, e cujos habitantes, pequenos proprietários agrícolas, se deslocavam à capital para vender, e como tal, abastecer a cidade dos seus produtos. Os saloios eram muitas das vezes descritos como um grupo étnico pelos letrados alfacinhas que sobre eles escreviam. Há várias descrições conhecidas, mas era habitual serem descritos como descendentes dos mouros que habitaram a região, espertos no negócio, feios, robustos, e de pele morena. Pudera, trabalho árduo ao sol, não deixa a pele pálida com certeza. Uma coisa é certa, podemos tirar ilações do que acabei de dizer. Notemos, os saloios eram caricaturados e posteriormente estereotipados. Por quem? Neste caso por letrados citadinos, alienados do processo produtivo dos alimentos que à mesa ceavam. Esses homens e mulheres tal como eram descritos, talvez não existissem da maneira como eram descritos, certamente que hoje não existem, mas a descrição do outro estava presente. Obviamente, não quero comparar a racialização de homens e mulheres negras com a caricatura dos saloios, mas a verdade é que hoje em Sintra, por este ser um concelho com uma grande representação de portugueses negros e imigrantes negros, podemos ver ao virar da esquina a continuação de descrições caricatas.

Isto para dizer que fico muito contente que as caricaturas sobre os saloios tenham desaparecido das bocas das gentes. Embora tenha em mim a ideia de que desapareceram, porque os trabalhadores rurais quase que desapareceram por completo. Não obstante, existem pessoas que continuam a auto designar-se de saloios, cujos rendimentos provêm de gado, agricultura, e outros, que, trabalhando na “cidade” reclamam a identidade saloia como sua, devido aos seus antepassados. Portanto, diria que ser saloio é de certa forma volátil e tem uma componente material e imaginária.

Ora, nas zonas suburbanas, as caricaturas raciais e xenófobas estão vivas, e com as redes sociais, temos percebido que estão mesmo muito vivas. São os bairros de ciganos com BMW’s e Subsídio de Reinserção Social, é a máfia ucraniana e romena, as oferecidas brasileiras destruidoras incansáveis de lares, e, claro, os gangues de pretos. Vejo comentários desse tipo a toda a hora nas redes sociais, é triste. Não importa que beneficiários de RSI ciganos sejam apenas 3%, não importa que o RSI em média por agregado familiar seja 263 €, nem que o Estado afunde milhares de milhões de euros na Banca Privada, o que importa é que hipoteticamente existe uma família de ciganos com um BMW. Enfim, as notícias falsas têm hoje um peso muito grande, mas devemos perguntar-nos por que razão as notícias racistas e xenófobas são tão apelativas e autênticas bombas incendiárias nas redes sociais.  A resposta é chata para muitos, mas é simples: Portugal é um país racista. O que não quer dizer que os portugueses sejam racistas. Quer dizer que o Estado português não se descolonizou no pós 25 de Abril. Temos uma Constituição muito progressista, anticolonial e anti-imperialista, mas depois, na prática, o país continuou por um lado a celebrar a história das expansões marítimas e colonização sem uma perspetiva critica, mantendo o mito do bom colonizador, que aliás, foi o mito adotado pelo Estado Novo quando se sentiu apertado pelas lutas anticoloniais que começaram a eclodir no pós segunda guerra mundial. Penso que isso tem influência profunda na forma como recusamos permanentemente admitir o racismo que continua a existir. Já para não falar de Portugal em termos de política internacional, que, independentemente do governo, se alia ao imperialismo, a começar pelo simples facto de ser um dos membros fundadores da OTAN.

Portanto, as zonas suburbanas são espaços onde as realidades dos sujeitos racializados e explorados pode ser vista facilmente. Os comboios cheios de mulheres e homens, brancos e negros às 7 horas da manhã durante o Estado de Emergência evidencia o meu argumento.

Como vês a relação das pessoas com o Património? Estamos no caminho certo, no que respeita à interiorização da sua defesa? O que se deve fazer, em tua opinião?

A relação das pessoas com o Património é antiga. Mas talvez seja importante percebermos que por Património devemos entender um conjunto de objetos, praticas, conhecimentos e ambientes, que talvez o termo na Língua Inglesa seja mais indicado (environments). O património tem tanta presença na nossa sociedade que estabelece ligações entre formas de governação globais, nacionais, e locais, e é também um aparelho político e filosófico de importância considerável. A Alagamares, por exemplo, é uma associação que opera – não só, mas também – em questões patrimoniais ao nível local, num ambiente (environment) classificado pela UNESCO lidando com esta tríade frequentemente. O restauro do Chalet da Condessa d’Edla por exemplo, teve influência direta da Alagamares, empenho da autarquia e do Estado, e financiamento estrangeiro. Inclusivamente, a União Europeia anualmente despende milhões e milhões de euros em preservação, restauro ou salvaguarda de património material e natural. Isso leva-nos à seguinte questão: qual a razão que leva Instituições e Estados a despender de tanto dinheiro para a preservação de património?

Retrato de Jorge Telles de Menezes

“Há uma sensação de ameaça de desaparecimento, e isso impele as pessoas e as instituições a querer preservar”

Que patrimónios estão hoje mais em risco de desaparecimento ou desfiguração?

Não tenho uma resposta concreta a essa pergunta. Mas, no seguimento da resposta anterior, existe de facto um fenómeno na nossa sociedade a que alguns cientistas sociais chamaram de endangerment sensibility, sensação de ameaça de desaparecimento, e isso impele as pessoas e as instituições a querer preservar, salvaguardar, ou proteger, determinados elementos culturais (materiais e imateriais) do passado ou elementos naturais do presente. Agora, é importante perceber uma coisa, existem várias conceções de património no mundo, existe, porém, uma hegemónica, que é aquela que é emanada a partir do Norte global.

Preservar para as gerações futuras, uma linguagem muito usada pela UNESCO, é também partilhada por outros povos, todavia, a aplicação prática desta conceção é muito distinta entre, por exemplo, povos indígenas e… digamos, na Europa. Óbvio que dentro das indígenas há muitas formas distintas de lidar com o património. Existem de facto muitos patrimónios em risco de desaparecer. Abstratamente, podemos dizer que o património natural está em risco de desaparecer. As alterações climáticas provocadas pelo modo de produção capitalista, ameaçam quase todos os ecossistemas da terra. É frequente vermos debates e colóquios sobre património onde existem comunicações sobre o Antropoceno e as suas consequências para o património. Não sei se estamos no Antropoceno, diria mais que estamos no Capitaloceno, uma era histórica marcada por uma acumulação de capital sem fim, ainda assim, Antropoceno, ou Capitaloceno, é verdade indiscutível para a ciência, de que as alterações climáticas existem, e estas alterações estão a ser responsáveis por disrupções em alguns casos verdadeiramente dramáticas. Os incêndios na Amazónia brasileira são um exemplo disso. Foram provocados por latifundiários, incentivados por um presidente sem preocupações ambientais nem sociais. A Amazónia era desmatada todos os anos, e o mesmo aconteceu durante governos do Partido Trabalhista, mas com a eleição do Bolso, ganhou nova expressão e força. A destruição da Amazónia é um problema que é sentido globalmente, pois é considerada património natural da humanidade e um símbolo da luta contra as alterações climáticas. A esquerda brasileira usa, e a meu ver bem, o património natural da floresta amazónica e o património cultural dos indígenas que nela habitam como bandeira de luta contra a ofensiva de direita no Brasil, e do imperialismo estrangeiro, mostrando claramente um uso político do património por uma via progressista.

Que medidas e políticas públicas de defesa do Património deverão ser prosseguidas ou abandonadas?

Posso apenas dizer que deve haver uma descolonização do modo como entendemos o património ligado às expansões marítimas. Estátuas como a do Padre António Vieira, com aquela composição específica, em que os Índios são sujeitos passivos, personificados por crianças, e o Padre, o bom evangelizador, provêm de um contexto ideológico muito específico, o luso-tropicalismo, do qual falei antes, e que comporta o mito do bom-colonizador e apaga a história de luta e resistência indígena contra a colonização. Estátuas dentro desse enquadramento ideológico, não devem ser erguidas em pleno século XXI, onde a discussão e questionamento do passado colonial dos antigos impérios se tem feito. Portanto, práticas que exaltem um património colonial, devem ser abandonadas. Do outro lado da moeda vi com muito agrado que o Kola San Jon passasse a fazer parte do Inventário do Património Cultural e Imaterial de Portugal. É um reconhecimento de que a cultura Cabo Verdiana impressa em imigrantes e portugueses descendentes de cabo-verdianos faz também parte do património de Portugal. É um pequeno passo em direção ao questionamento de um Portugal branco e europeu.

“A cultura está em todo o lado”

A realidade das zonas urbanas periféricas tem promovido comportamentos identitários que se possam considerar como expressão cultural?

Como expressão cultural, sempre. Eu penso que o Kola San Jon é um bom exemplo disso. É celebrado na Cova da Moura desde pelo menos a década de 90, e hoje, como disse, é reconhecido pela direção geral do património, e está no inventário. Mas também há outras linguagens culturais, como o rap, e que podem e devem ser consideradas como património. O rap pode ser disruptivo, transgressivo ou até mesmo revolucionário. Aqui no concelho de Sintra temos bons rappers, inclusivamente a Alagamares incluiu alguns nas suas iniciativas. GROGnation, por exemplo, atuou na Ofensiva Amada, no Olga Cadaval, quando ainda não eram muito famosos. Hoje cada jovem que gosta de rap conhece. O Papillon, um dos rappers dos GROGnation, a propósito do bárbaro assassinato de Bruno Candé, disse “se o velho matasse o cão…Portugal teria mais empatia.” Notemos que na altura que Bruno Candé foi assassinado, havia uma onda de indignação sobre a crueldade vivida pelos cães do canil de Santo Tirso, e a indignação de Santo Tirso foi muito mais notória que a do assassinato de Candé. A verdade crua de Papillon consciencializa e é uma característica que muito aprecio no rap. O graffiti e a arte urbana são também um exemplo de uma expressão cultural e que têm maior presença nas zonas urbanas. Aliás, hoje a arte urbana espalhou-se para o interior do concelho de Sintra, mas é visível que nas encomendas públicas como nas freguesias da Terrugem e Rio de Mouro, a arte urbana é mais representativa do passado saloio ou evocativo do património histórico, do que politicamente interventiva. Normalmente, vemos preocupações políticas espelhadas no graffiti não patrocinado por autarquias, ou em bairros sociais alvo de festivais de Arte Urbana, nesse sentido os artistas estão a expressar a realidade urbana periférica dos moradores, ou deles próprios, como por exemplo da Quinta do Mocho, em Loures. Existem mais exemplos, garantidamente, mas é impossível conhecer todos, e aqui mencionei os que mais se relacionam comigo. No entanto, volto a frisar que a cultura está em todo o lado, e quem a detém, fala dela e escreve sobre ela, felizmente, já não são apenas os eruditos.

Desenho no trabalho de terreno

E no que respeita aos grupos étnicos que em dados bairros são maioritários? Qual o caldo de cultura que daí resulta? É o mesmo inclusivo ou disruptivo? E isso tem virtudes ou é problemático?

Eu espero que seja disruptivo, e não inclusivo. Temos de aprender a olhar para manifestações culturais absolutamente distintas das nossas, e que questionem a forma de pensar e estar no mundo dominante. Se houver um grande esforço para que estas sejam inclusivas, então acho que perde o seu potencial transformador. No entanto, acho que as classes trabalhadoras que, importa não esquecer, são a maioria, devem ser inclusivas perante estas manifestações. Todavia acho que a classe dominante não quer que os trabalhadores percebam que têm mais coisas em comum do que aquelas que nos separam.

Que trabalhos e iniciativas válidas têm sido produzidos no sentido de afirmar a defesa dos patrimónios, materiais e imateriais?

É impossível dar conta de tudo o que se passa e eu não sei um quarto, mas posso dar nota de algumas. Começo pela Alagamares. A Alagamares tem uma história de luta pela preservação e salvaguarda do património cultural e natural em Sintra. Como por exemplo, o protesto por vias formais em relação ao caso do Hotel Central, que a menos de 50 metros de um edifício classificado estava a ser descaracterizado com toldos de esplanadas, aparafusados em azulejos centenários, creio da fábrica Viúva Lamego, ou ações mais ligadas ao património natural, como o ativismo contra o abate de árvores em diversos locais da serra de Sintra. Depois, há um outro aspeto que se liga com um trabalho de dinamização junto das pessoas, com palestras constantes sobre os mais variados temas de Sintra. Também no Cacém se fazem coisas interessantes, como o trabalho da RJ Anima. O exemplo do Kola San Jon, que dei anteriormente, também se encaixa aqui. Enfim, penso que se a iniciativa de patrimonializar ou salvaguardar algo vier do seu grupo de praticantes, não há mal nenhum, claro que depois será discutido politicamente na esfera pública se for algo polémico.  

“Tendo a pintar o lado mais negro da sociedade, sempre com paletas escuras”

Além de antropólogo és também pintor e artista plástico. Que trabalho tens produzido nesse campo, e que planos tens para divulgar mais o teu trabalho?

Sim, eu sempre gostei de desenhar, e desde 2017 tenho estabelecido uma prática mais ou menos contínua – apenas interrompida quando estou na Guiné-Bissau – de pintura e outras experiências visuais em atelier. Em 2016 tinha regressado do meu primeiro trabalho de terreno na Guiné-Bissau, na altura para o mestrado. Essa experiência influenciou a minha pintura, e de certa maneira, ainda influencia. Eu pintei durante muito tempo situações que lá experienciei. Vivi mais coisas positivas do que negativas, mas de certa forma olhando em retrospetiva, pintei mais coisas negativas. A minha pintura transita entre o figurativo e o abstrato. Esteticamente o abstracionismo apela-me muito, mas eu gosto sempre de uma representação figurativa que transmita uma posição do artista no mundo. Eu não vivo numa bolha, como tal sou permeável às coisas boas e más do mundo, as vicissitudes da vida. Mas novamente, tendo a pintar o lado mais negro da sociedade, sempre com paletas escuras. Não sou muito otimista quanto ao rumo que estamos a levar, e quando digo estamos, refiro-me ao capitalismo. O capitalismo é um sistema que não serve a humanidade. Não nego os desenvolvimentos técnicos e científicos que trouxe, mas temos de ver o outro lado. Estamos demasiado obstruídos pela visão do mundo dos tempos da guerra fria, isto é, uma história de liberalismo e capitalismo pacífica e uma história de socialismo violenta. Ora esta história não podia estar mais errada. Historicamente o liberalismo foi muito mais violento que o socialismo, por exemplo, a expansão para o oeste selvagem do que vieram a ser os Estados Unidos da América matou, segundo algumas estimativas, 10 milhões de indígenas. Podíamos também falar de Inglaterra, que no século XVI começou um processo de privatização das terras comunais que durou até ao séc. XVIII, os chamados enclosure acts, ou leis de cercamento. Os enclosure acts privaram os camponeses de obterem produtos lenhosos, caça, e outras matérias primas da natureza, pois tudo o que nelas constavam passara a ser propriedade do lorde, que anteriormente era apenas o seu detentor. Este processo foi violento, e culminou no êxodo dos camponeses para as cidades, munindo-as da força de trabalho necessária à revolução industrial. Mas o que ouvimos, sempre que alguém questiona o capitalismo, são vozes sobre a Coreia do Norte, os gulagues ou a coletivização forçada. Enfim, isto para dizer que gosto de olhar para a minha pintura como um retrato sombrio do que é viver no capitalismo. Não sei se as pessoas vêm isso na minha pintura, mas certamente é isso que eu vejo nela. Claro, podiam-me perguntar porque não opto por um estilo ligeiramente mais objetivo, ou até ir aos neorrealistas portugueses. A resposta, é, talvez porque gosto muito do gesto na pintura e não consigo usar o gesto numa pintura desse estilo.

Não obstante, tenho combinado o desenho e a pesquisa etnográfica. Algo que me tem dado grande prazer. A este propósito, fiz uma exposição o ano passado, no ISCTE, acompanhando os desenhos, maioritariamente feitos durante o trabalho de terreno, com textos intersubjetivos sobre a minha experiência, bem como a dos meus interlocutores com os desenhos. Tem sido muito útil como ferramenta de trabalho para abordar temas cujas representações não podem ser obtidas por fotografia ou filme.

Quanto aos planos para o futuro, neste campo ainda não sei bem. Criei agora uma página de Instagram (https://www.instagram.com/goncalo_salvaterra/?hl=pt ) para divulgar e tentar vender alguns trabalhos, para investir novamente em tintas, pincéis, papel, etc. Estou também a planear uma exposição, mas ainda não tenho detalhes. Quando os tiver, certamente pedirei à Alagamares para colocar na sua agenda.

Entrevista de Fernando Morais Gomes

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