No dia 17 de Março de 2016, no MU.SA-Museu das Artes de Sintra, teve lugar um encontro com o escritor João de Melo, apresentado por Miguel Real e promovido pela Alagamares.
João de Melo, vencedor do prémio Vergílio Ferreira 2016, nasceu na ilha de São Miguel (Açores).Depois de participar na guerra colonial em Angola entre 1971 e 1974 (tema de duas das suas obras mais significativas, a antologia “Os Anos da Guerra” e o romance “Autópsia de Um Mar de Ruínas”), trabalhou na vida sindical, foi editor de autores portugueses e crítico literário. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pela qual veio a licenciar-se em 1981 com o curso de Filologia Românica. Professor dos ensinos secundário e superior durante vários anos, foi convidado pelo governo português para o cargo de conselheiro cultural junto da embaixada de Portugal em Espanha (que desempenhou durante 9 anos, entre 2001 e 2010). Em 2003, em Madrid, criou a “Mostra Portuguesa” (de que realizou 7 edições), sendo o maior evento cultural português fora de fronteiras.
Foram-lhe atribuídos os seguintes prémios literários: Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores, Prémio Eça de Queiroz/Cidade de Lisboa, Prémio Cristóvão Colombo (Capitais Íbero-americanas), Prémio Fernando Namora/Casino do Estoril, Prémio Antena 1, Prémio «A Balada» e Prémio Dinis da Luz.
Obras mais conhecidas: Histórias da Resistência (1975)O Meu Mundo Não é Deste Reino(1983) Gente Feliz com Lágrimas (1988) O Homem Suspenso (1997) ou o mais recente Os Navios da Noite (2016).
Durante a sessão, temas como a guerra colonial, a existência de uma literatura açoreana- que o autor refutou, não se revendo num conceito regionalista da literatura- e sobretudo os dezoito contos que constituem “Os Navios da Noite” foram referidos, num quadro em que a noite pode esconder os muitos medos que povoam a natureza humana- medo do outro, medo do desconhecido, medo de falar- mas, tal como ao longe a luz feérica dum navio iluminado pode trazer a esperança e devolver a redenção que apague a amargura e a angústia.
Como habitualmente, Miguel Real fez a análise e a incursão pela obra e estilo literário do autor, que se recusa a ser classificado, num tempo em que as classificações se tornaram obsoletas e produto de academismos redutores.
Foi uma sessão serena, feliz e sem lágrimas.