Pela janela do quarto
entra o sol
o dia inteiro.
Cá por mim, nunca me farto,
pois se o gato fica mole
neste dia soalheiro,
mais sossego há neste quarto,
mais descanso e menos som.
E passa-se o dia num fole
ao ruído de um rom-rom…
(Olha que bom!)
Pela janela da sala
desce a lua
de mansinho.
Até já o cão se cala
quando passa pela rua
a cadela do vizinho.
Que sossego, que descanso,
quando fica o bicho manso.
Já só fala a catatua
que a minha voz imita…
(Olha que bom, que catita!)
Pela janela do sótão
vem o barulho
da chuva.
O gato roeu-me a luva
e o malandro do cão
roubou ossos do entulho
com a mania de ir ao lixo.
Olhem-me o raio do bicho!
Foi-se a paz e a solidão,
ri-se o gato e ri-se o cão
arreganhando o focinho,
ri-se o tolo do vizinho
e a cadela na rua,
ri-se o sol e ri-se a lua
ri-se a noite e ri-se o dia
num só coro de alegria,
e até a catatua
ri-se ao sol e ri-se à lua.
Mesmo eu -que coisa louca-
sinto um tremorzinho na boca
solto um riso verdadeiro
e rio-me o dia inteiro.
(Que bom, que catita, que alegria
rirmo-nos de noite e de dia)