Passam em 2022 duzentos anos da independência do Brasil, ocasião para nos debruçarmos um pouco sobre as relações culturais entre as duas nações, e sobretudo para fazer uma visita às tendências e nomes da literatura atual em ambos os países.
Para tanto, realizou a Alagamares no dia 9 de abril, na Biblioteca Municipal de Sintra (Casa Mantero), um encontro de escritores portugueses e brasileiros, que não só falaram de si como da maneira como vêm as tendências literárias cá e do outro lado do Atlântico.
Do lado português, contámos com a presença do escritores Luís Filipe Sarmento, D.H. Machado e Renato Epifânio. Do lado brasileiro, estiveram os escritores atualmente residentes em Portugal Ronaldo Cagiano, Flávia Rocha e Marcos Pamplona.
Cada um fez a apresentação da sua obra e da motivação para escrever, tendo todos no final tido a oportunidade de ler trechos de obras suas.
Escreveu Ferreira Gullar que “a arte existe porque a vida não basta”, o que levou muitos dos intervenientes a questionar: se não for pela poesia como crer na eternidade?
Flávia Rocha referiu-se ao ato de escrever como um livre processo de renovação e busca de novas significações para a linguagem, para além duma busca filosófica pessoal. Já D. H. Machado salientou a importância de escrever como forma de trabalhar a palavra. Luís Filipe Sarmento foi mais categórico: “Escrevo porque não sei fazer mais nada!”, relatando o seu percurso desde os 14 anos no saudoso jornal República.
Aspetos salientados pela maioria dos oradores foram a perceção de que hoje muitas vezes vale mais o contexto do que o texto, que o mainstream dos dois lados do Atlântico privilegia as grandes editoras e alguns poucos nomes, pouco se sabendo das novas tendências cá e lá para lá dos muros da Academia, não obstante as centenas de teses e trabalhos académicos que anualmente se publicam sobre a matéria, como realçou o presidente do MIL, Renato Epifânio, tendo ele próprio concluído recentemente uma obra sobre Clarice Lispector, escritora brasileira por sinal de origem ucraniana, por ocasião do centenário do seu nascimento.
Há contudo a consciência que se a geografia separa, a demografia mais cedo ou mais tarde dará o relevo necessário a um universo de 500 milhões de falantes, e que se o inglês é a língua dos negócios e o francês a da diplomacia, o português, nas suas vertentes mais açucaradas ou salgadas é definitivamente uma língua de emoções.
Para um posterior acompanhamento das tendências dos dois lados do Atlântico, recomendamos que acompanhem no You Tube o podcast Literatura e Política que Marcos Pamplona e Luís Filipe Sarmento regularmente apresentam, com escritores da Lusofonia e temas literários.
https://www.youtube.com/results?search_query=lusofonia+e+politica
Agradecemos à Câmara Municipal de Sintra as facilidades concedidas.
OS CONVIDADOS
RONALDO CAGIANO
Ronaldo Cagiano Barbosa (Cataguases, 15 de abril de 1961) é um advogado, escritor, ensaísta e crítico brasileiro.
Viveu em Brasília de 1979 até 2007, e em São Paulo de 2007 a 2017; mora atualmente em Lisboa. Trabalhou na Caixa Económica Federal de 1982 a 2016. Publicou em diversos jornais e revistas, entre os quais Jornal do Brasil, Hoje em Dia, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, Estado de Minas, O Estado de São Paulo, Guia de Livros da Folha, Jornal Opção (Goiânia), Correio das Artes (João Pessoa), revista Cult, Jornal de Letras, de Lisboa, entre outros. Obteve o 1° lugar no concurso de contos Ignácio de Loyola Brandão, de Araraquara (SP), em 1996; 1° lugar no concurso Bolsa Brasília de Produção Literária 2001, com o livro de contos Dezembro indigesto. Organizou as coletâneas Antologia do conto brasiliense (Projecto Editorial, Brasília, 2001), Poetas Mineiros em Brasília (Varanda Edições, Brasília, 2001) e Todas as Gerações – O Conto Brasiliense Contemporâneo (LGE Editora, Brasília, 2006).
Ganhou o terceiro lugar na 58ª edição do Prêmio Jabuti de literatura com o livro de contos “Eles não moram mais aqui” (Editora Patuá 2015).
Livros publicados: Palavra Engajada (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1989) Colheita Amarga & Outras Angústias (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1990) Exílio (poesia, Ed. Scortecci, SP, 1990) Palavracesa (poesia, Ed. Cataguases, Brasília, 1994) O Prazer da Leitura, em parceria com Jacinto Guerra (coletânea de contos e crônicas, Ed. Thesausus, Brasília1997) Prismas – Literatura e Outros Temas (crítica literária, Ed. Thesaurus, Brasília, 1997) Canção dentro da noite (poesia, Ed. Thesaurus, Brasília, 1999) Espelho, espelho meu (infanto-juvenil, em parceria com Joilson Portocalvo, Ed. Thesaurus, Brasília, 2000). Dezembro indigesto (contos, Brasília, 2001) Concerto para arranha-céus (contos, LGE, Brasília, 2004) Dicionário de pequenas solidões (contos, Língua Geral, Rio, 2006) O sol nas feridas (poesia, Dobra Ideias, SP, 2011) – Finalista do Prêmio Portugal Telecom 2012 Moenda de silêncios (novela em parceria com Whisner Fraga, Dobra Ideias, SP, 2012) Eles não moram mais aqui (contos, Editora Patuá 2015) Observatório do caos (poesia, Editora Patuá, SP, 2016) Diolindas, em parceria com Eltânia André (novela, Ed. Penalux, SP, 2017) Eles não moram mais aqui (contos, Editora Gato Bravo, Lisboa, Portugal, 2018) Os rios de mim (poesia, Editora Urutau, Pontevedra, Espanha, 2018) O mundo sem explicação (poesia, Editora Coisas de Ler, Lisboa, Portugal, 2019) Cartografia do abismo (poesia, Editora Laranja Original, São Paulo, 2020)
FLÁVIA ROCHA
Flávia Rocha é autora dos livros de poemas Exosfera (Editora Nós, 2021), Um País (Confraria do Vento, 2015), Quartos Habitáveis (Confraria do Vento, 2011) e A Casa Azul ao Meio-Dia (Travessa dos Editores, 2005).
É formada em Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, com mestrado em Writing pela Columbia University. Durante 13 anos foi editora da revista literária americana Rattapallax. Os seus poemas, traduções e ensaios foram publicados em diversas revistas no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países. Como jornalista, teve passagens pelas redações das revistas Bravo!, República, Carta Capital e Casa Vogue, além de colaborar com diversas outras publicações.
Na área de cinema, é fundadora e diretora de comunicação da Academia Internacional de Cinema, escola com unidades no Rio de Janeiro e em São Paulo, e corroteirista da longa-metragem Birds of Neptune, de Steven Richter, e de outros projetos em fase de desenvolvimento.
MARCOS PAMPLONA
Marcos Pamplona nasceu em Curitiba, em 1964. É editor da Kotter Editorial e poeta. Escreveu, com Alice Ruiz, o roteiro do longa-metragem Alice e Paulo, sobre a vida de Alice e Paulo Leminski nos anos 1970 e 1980. Teve poemas publicados nas coletâneas do Prêmio Off Flip de Literatura (2006, 2008 e 2010), na revista Jandique, no jornal RelevO e no blog Mallarmargens. Os poemas publicados pelo Cândido fazem parte do livro Transverso, que marca a estreia de Pamplona na poesia.
Atualmente vive em Lisboa, onde atua como editor da Kotter Portugal e entrevistador do programa Lusofonia e Política, da Kotter TV.
RENATO EPIFÂNIO
Renato Epifânio é Professor Universitário; Membro do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, da Direção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, da Sociedade da Língua Portuguesa e da Associação Agostinho da Silva; investigador na área da “Filosofia em Portugal”, com dezenas de estudos publicados, desenvolveu um projeto de pós-doutoramento sobre o pensamento de Agostinho da Silva, com o apoio da FCT: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, para além de ser responsável pelo Repertório da Bibliografia Filosófica Portuguesa: www.bibliografiafilosofica.webnode.com; Licenciatura e Mestrado em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; doutorou-se, na mesma Faculdade, no dia 14 de Dezembro de 2004, com a dissertação Fundamentos e Firmamentos do pensamento português contemporâneo: uma perspetiva a partir da visão de José Marinho; autor das obras Visões de Agostinho da Silva (2006), Repertório da Bibliografia Filosófica Portuguesa (2007), Perspectivas sobre Agostinho da Silva (2008), Via aberta: de Marinho a Pessoa, da Finisterra ao Oriente (2009), A Via Lusófona: um novo horizonte para Portugal (2010), Convergência Lusófona (2012/ 2014/ 2016), A Via Lusófona II (2015), A Via Lusófona III (2017) e A Via Lusófona IV (2019). Dirige a Nova Águia: Revista de Cultura para o Século XXI e a Coleção de livros com o mesmo nome (Zéfiro). Preside ao MIL: Movimento Internacional Lusófono desde a sua formalização jurídica (2010). É, desde 2021, Membro do Conselho Supremo da SHIP: Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
LUÍS FILIPE SARMENTO
Luís Filipe Sarmento nasceu, em Lisboa, a 12 de Outubro de 1956.
Estudou Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Jornalista, Escritor, Tradutor e Realizador de Televisão.
Alguns dos seus livros e textos encontram-se traduzidos em inglês, espanhol, francês, italiano, grego, árabe, mandarim, japonês, romeno, macedónio, croata, turco e russo.
Produziu e realizou a primeira experiência de Videolivro feita em Portugal no programa Acontece para a RTP (Radiotelevisão Portuguesa).
Coordenador Internacional da Organization Mondial de Poétes (1994-1995)
Membro do International Comite of World Congress of Poets
Presidente da Associação Ibero-Americana de Escritores (1999-2000)
Coordenador para Portugal da World Poetry Movement.
Participou em mais de 100 festivais, congressos e feiras internacionais.
Do Autor: A Idade do Fogo, 1975; Trilogia da Noite, 1978; Nuvens, 1979; Orquestras & Coreografias, 1987; Galeria de um Sonho Intranquilo, 1988; Fim de Paisagem, 1988; Fragmentos de Uma Conversa de Quarto, 1989; Ex posições, 1989; Boca barroca, 1990; Matinas Laudas Vésperas Completas, 1994; Tinturas Alquímicas, 1995; A Ocultação de Fernando Pessoa, a Desocultação de Pepe Dámaso, ensaio, versão portuguesa e castelhana, Las Palmas, 1997; A Intimidade do Sono, 1998; Crónica da Vida Social dos Ocultistas, narrativa, 2000, 2007, 2015; Gramática das Constelações, 2012; Ser tudo de todas as Maneiras, ensaio e antologia da obra de Fernando Pessoa no Livro/Cd «Mensageiros», Lisboa, 2012; Como Um Mau Filme Americano, narrativa, 2013; 40 Poemas 40 Pinturas (c/Luís Vieira Baptista), 2015; Efeitos de Captura, 2015; Repetição da Diferença seguidode Casa dos Mundos Irrepetíveis, 2016; Gabinete de Curiosidades, 2017, 2018; KNK, 2019; Operação Ulisses, 2019, narrativa; Ao Rubro (reúne toda a sua obra poética de 1975 a 2020), 2020.
D.H.MACHADO
D. H. Machado nasceu em Lisboa no ano de 1974. Começou a escrever poesia aos 12 anos e fê-lo ao longo de toda a sua adolescência. Após os 20 anos dedicou-se à vida académica e profissional e “O Aprendiz” marca o seu regresso à escrita. Em 2003, foi-lhe atribuído o Prémio Revelação Cesário Verde pela obra “Dionísias: As celebrações”, escrita quando tinha apenas 19 anos