É assunto recorrente nos últimos anos o abate continuado de árvores que é feito na malha urbana da Vila de Sintra (entenda-se o conjunto dos bairros de São Pedro, Estefânea e Vila Velha). Ano após ano são eliminados espécimes, às dezenas de cada virada, sem que qualquer justificação oficial seja emitida ou motivo aparente, aquele que possa decorrer de qualquer senso comum, seja observado. O tema não é consensual: de um lado um conjunto de população para a qual o arvoredo é promotor de lixo, “alergias”[1] e incómodo à circulação pedonal; de outro, defensores do património de forma integrada e do espírito dos lugares, para os quais o arvoredo deve merecer cuidada gestão como se de qualquer bem se tratasse. Acima dos dois sobrevive com certeza o estatuto de paisagem cultural da Humanidade que Sintra ostenta e o qual foi atribuído por deter essas mesmas características: singulares aspectos paisagísticos, do qual o arbóreo faz parte.
Ora, nas últimas semanas fomos confrontados com mais episódios da saga arboricida na paisagem urbana em Sintra:
Rua Dom João de Castro, Sintra:
De que tipo de maleita sofreriam estas árvores? Que perigo público estariam a causar?
Largo da Igreja, São Pedro de Sintra:
São 5 de um conjunto de 27, os espécimes abatidos. De referir que no polémico projecto camarário de requalificação do bairro de São Pedro, não estava previsto de todo, qualquer abate de árvores nos largos da Igreja e da Feira. Sobre este último, e no âmbito da ainda mais polémica vontade de intervenção no Largo da Feira por parte da Câmara Municipal de Sintra, foi garantido pessoalmente pelo senhor Presidente, em Agosto último, que não vai haver qualquer abate naquele espaço. Sobrevirá a promessa aos instintos liquidadores? Atente-se ainda ao resultado final das já famosas e bizarras podas.
De facto, uma explicação oficial é exigida. Não será necessário com certeza ser avultado perito para concluir que, a este ritmo, de duas ou três dezenas de desaparecimentos por ano, dentro de uma década poucas árvores restarão na paisagem habitada sintrense. Estará então o estatuto de Património Mundial de Sintra posto em causa como também estará uma certa qualidade de vida. Tem a obrigação, qualquer Câmara Municipal, de gerir todo o tipo de património à sua guarda e tanto mais aquele que atribui aos seus lugares reconhecida importância para toda a Humanidade.
Por último, um exemplo do que acontece noutro local, com património e estatuto de Lugar congéneres aos de Sintra.
Gien, França, nas margens do rio Loire:
[1] Que na generalidade mais não são do que mitos urbanos. Veja-se os depoimentos de especialista interveniente no colóquio organizado pela Alagamares em 2012 “Defender as árvores de Sintra”: https://www.alagamares.com/defender-as-arvores-de-sintra/