Celebramos mais um aniversário da Alagamares, o 11º, desta feita, num momento em que novos projectos e a mesma dinâmica nos animam para o trabalho de discutir e divulgar Cultura, e com isso fazer Cidade e almejar o Futuro.
Reafirmamo-nos independentes mas não neutros e sem submissão a lógicas paroquiais e de capela, longe do negativismo atávico que por vezes preside às organizações no nosso meio, mas afastados também do mero protesto na rede social, à distância dum like, dum smile ou duma volátil tomada de posição, do estar não estando, e criticar não inscrevendo.
Vivemos dias perigosos. Perigosos pela desvalorização da massa crítica e do papel dos agentes de mudança em prol das redes sociais massificantes e do pensamento único amorfo e parametrizado. Daí os redobrados esforços por novos e estimulantes projectos que estamos a conceber e que breve verão a luz do dia.
Em 2015 celebrámos 20 anos de Património Mundial, e se muito foi feito nestes anos, continua de pé a resolução dos problemas da mobilidade e estacionamento, a política de preços para as visitas, e a definição sobre o modelo de turismo pretendido, na atávica pulsão entre o excursionismo de massas e um turismo selectivo e restritivo. A Alagamares não pretende calar-se nesse particular, ciente de que a situação está longe de ser satisfatória, e se é certo que não há soluções milagrosas, certo é também que algo mais tem de ser feito, sob pena da cacofonia estival de carros em segunda fila, horas de espera para chegar ao Centro Histórico ou entrar nos monunentos classificados. Há que fazer escolhas, e apostar em novos nichos que não os meramente sazonais, como os do turismo criativo, de congressos e ambiental. Há que classificar o arvoredo e os conjuntos arbóreos relevantes, pressionar para recuperar as Escadinhas do Hospital, a Gandarinha, a Quinta da Ribafria e seus interiores, a Quinta Ribeiro de Carvalho, no Cacém, a Quinta do Relógio e muito outro património, público e privado que de atenção tem sido privado ante o desinteresse público.
Continuaremos a divulgar novos e consagrados valores da música, e da literatura, das artes e da ciência, e como novidade nesse panorama, passaremos a ter a possibilidade de conjugar esforços mensalmente num evento multidisciplinar que vai ter lugar no Centro Cultural Olga Cadaval, a Ofensiva Amada, com primeira edição a 21 de Abril, evento com o qual procuraremos dar nota duma Sintra viva, moderna, cosmopolita e desconhecida, e por onde, sempre sujeito a um tema comum, passarão músicos, escritores, artistas e pessoas com coisas para dizer e partilhar. Também este ano levaremos a efeito o V Encontro de História de Sintra, em Outubro, no mês em que passam 200 anos do nascimento de D. Fernando, o rei de Sintra e arquitecto desta paisagem em que verde e azul se juntaram numa sinfonia de pedra e clorofila, assinalaremos os 500 anos do foral de Colares, e os quadricentenários de Shakespeare e Cervantes, entre outros eventos ainda em preparação.
2016 aí está, desafiador e renovado, e a Alagamares também, não só pela renovação de parte dos seus órgãos sociais, que promoveu já em Janeiro, como pela permanente inquietação que a falta de acomodamento a estados comatosos suscita. Estaremos na rua ou nas tertúlias, no espaço virtual e na multimédia, chamando à participação pluridisciplinar e intergeracional as figuras com iniciativa, ideias e conhecimentos que possam enriquecer e fazer diferente, pela claridade que faz o Dia e não na espuma dos dias.
Recentemente deixou-nos Maria Almira Medina, figura tutelar de sete décadas de vida cultural e cívica, a Menina Girassol da palavra serena e límpida, qual camélia de Sintra, mas igualmente lutadora e assertiva, como perene araucária na paisagem dos Homens. Do Jornal de Sintra ao Baile das Camélias, onde cantou na primeira edição, em 1941, de caricaturista premiada a promotora de causas, fosse pela palavra, pela voz, pelo traço ou pela presença, dela nos ficou a memória de uma rosa aberta, como tão eloquentemente o descreveu no nosso III Encontro de História de Sintra, e o empenho na causa que a todos mobilizou que foi o restauro do chalé da Condessa, com a qual se irmanou. Lembro-a já perto dos noventa a subir de forma firme e guerreira a rampa da Pena para junto a um esventrado Chalé da Condessa perante todos declamar o poema por si escrito para essa ocasião, o qual a todos marcou e ficou como o hino duns utópicos quixotes que por uma vez viram a sua luta chegar a bom porto, e a fénix renascer das cinzas. E Maria Almira lá estava, Passionária da serra ululante bramindo a espada do poema, com que se domaram inimigos e inércias num Parnasso renascido. E já em 2009, foi ela a homenageada numa das nossas oficinas de teatro, onde a sua poesia esvoaçou como trinado de rouxinol envolta num diáfano manto de pureza virginal e profética perdição por entre o mundo dos sentidos.
O caminho faz-se caminhando, e faz-se sobretudo com pessoas, com as suas fraquezas e sonhos, aspirações e conjecturas, e assim é a Alagamares, familiar e de rosto humano, sem academismos mas engajada, feita por pessoas e para as pessoas, pressionando sem ser um grupo de pressão, discutindo sem ser um cenáculo literário, agitando sem ser um grupo excursionista, convivendo sem ser uma colectividade de recreio. E nesses devires todos radicando a sua razão de ser, a de militantes duma nova aurea mediocritas, sem salões nem saraus, com única sede na consciência dos seus amigos e colaboradores e aprender e conhecer como objectivo estatutário de cada um.
A EQUIPA DA ALAGAMARES