Decorreu sessão dedicada a Mário Dionísio

A Casa da Achada – Centro Mário Dionísio, parceira da Alagamares, publicou recentemente  o volume V do diário de Mário Dionísio, Passageiro Clandestino. Incidindo sobre a década de 80 do século passado, as páginas do diário são um documento incontornável para o conhecimento de um olhar alternativo e crítico sobre um momento histórico que determinou o futuro da sociedade portuguesa.

O volume V do diário «Passageiro clandestino» de Mário Dionísio incide sobre a década de 80 do século XX, quando Portugal e o mundo viviam uma assinalável transformação preparando a globalização cujos efeitos se fizeram sentir profundamente a partir deste milénio. Tratando-se de um registo pessoal de vivências do quotidiano ligadas ao que acontecia e Mário Dionísio destacava, este volume agora editado introduz o leitor numa reflexão sobre temas que juntam e cruzam o público e o privado, a análise crítica e o aprofundamento existencial de inquietações e perplexidades perante o eu e o mundo.

Dos quatro volumes anteriores, regressam os temas das casas, da amizade, do envelhecimento e da doença, mas aparecem novos amigos e conhecidos e novidades no campo editorial e literário. Numa fase da sua vida em que o ensino e as escritas literárias e ensaísticas são substituídos pelo ato apaixonado de pintar e de mostrar esse outro modo de viver o seu tempo, este volume, que termina em 1989, vivendo Mário Dionísio ainda quatro anos e meio, surpreenderá os que conhecem o escritor e o seu trajeto cívico e revelará aos mais jovens um pensamento lúcido sobre uma década tantas vezes descrita como um tempo de oportunidades.

A edição contém doze notas iniciais ainda escritas por Eduarda Dionísio, sendo as restantes de Diana Dionísio e membros da Cada da Achada-Centro Mário Dionísio. Para além da dimensão que acrescentam (a da vida dela e da sua visão das coisas), permitem uma compreensão mais funda (e mais larga) do texto original de Mário Dionísio, para quem não tem todas as referências de um diário que percorre épocas diferentes e por onde passam muitas pessoas.

Em colaboração com a Sociedade Filarmónica Os Aliados, igualmente parceira da Alagamares, apresentou a dita obra nas instalações dessa Sociedade, em S. Pedro de Sintra no dia 8 de novembro de 2025, com intervenções literárias e momento musical.

Mário Dionísio de Assis Monteiro nasceu em 16 de julho de 1916, em Lisboa.[3][4][5]

Era filho de Eurico Rogero Monteiro, comerciante, oficial miliciano da Administração Militar, natural de Elvas (freguesia de Alcáçova), e Maria Julieta Goulart Parreira Monteiro, doméstica com o curso superior de Piano, natural de Lisboa (freguesia de Santa Catarina).[6][5]

Mário Dionísio , O Músico, 1948, tinta de esmalte s/ tela, 130 cm x 97 cm

Licenciou-se em Filologia Românica, em 1940, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A 22 de junho de 1940, casou civilmente em Lisboa com Maria Letícia Reis Clemente da Silva (Santa Maria da FeiraBeja, c. 1916), sua colega na Faculdade de Letras, filha do advogado António Clemente da Silva, natural da freguesia e concelho de Silves, e de Adelaide Franqueira Reis Clemente da Silva, doméstica, natural de Silves (freguesia de São Bartolomeu de Messines). Deste casamento nasceu a futura escritora Eduarda Dionísio.[6]

Foi professor do ensino liceal e secundário e docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,[5] depois da Revolução do 25 de Abril.

Mário Dionísio foi opositor do Estado Novo, tendo estado ligado ao Partido Comunista Português, do qual se afastou na década de 1950.[5]

A obra literária

Foi autor de uma obra literária autónoma (poesia, conto, romance); fez crítica literária e de artes plásticas; realizou conferências, interveio em debates; colaborou em diversas publicações periódicas, entre as quais Seara NovaVérticeDiário de LisboaMundo Literário,[7] Ge de todas as Artes e na revista Arte Opinião[8] (1978-1982). Prefaciou obras de autores como Manuel da FonsecaCarlos de OliveiraJosé Cardoso Pires e Alves Redol.

As artes plásticas: pintor e crítico

Teve uma forte ligação às artes plásticas. Além da actividade como pintor (desde 1941), foi um dos principais impulsionadores das Exposições Gerais de Artes Plásticas; integrou o júri da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian; foi autor de inúmeros textos, de diversa ordem, das simples críticas até à publicação de referência que é A Paleta e o Mundo; etc.[9]

Enquanto artista plástico usou os pseudónimos de Leandro Gil e José Alfredo Chaves. Participou em diversas exposições colectivas, nomeadamente nas Exposições Gerais de Artes Plásticas de 1947, 48, 49, 50, 51 e 53. Realizou a sua primeira exposição individual de pintura em 1989.[9]

O neorrealismo

Mário Dionísio desempenhou um papel de relevo na teorização do neo-realismo português, “movimento literário que, nos anos de 1940 e 1950, à luz do materialismo histórico, valorizou a dimensão ideológica e social do texto literário, enquanto instrumento de intervenção e de consciencialização“. No contexto das tentativas de reforma cultural encetada pelos intelectuais dessa corrente, através de palestras e outras ações culturais, “participou num esforço conjunto de aproximar a arte e o público, de que resultou, por exemplo, a obra A Paleta e o Mundo, constituída por uma série de lições sobre a arte moderna. Poeta e ficcionista empenhado, fiel ao «novo humanismo», atento à verdade do indivíduo, às suas dolorosas contradições, acolheu, na sua obra, o espírito de modernidade e as revoluções linguísticas e narrativas da arte contemporânea“.[10]

Mário Dionísio morreu em 17 de novembro de 1993, em Lisboa, vítima de ataque cardíaco.[3][4]

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