Um beijo,
Com caracóis de cor escura e rosada face
Era assim a rapariguinha,
Blusa branca, saia plissada,
Sapatos saltitantes na poeira do caminho;
A roçar a puberdade, anseios e pergaminho
No que era a vida um frenesim,
Aprendeu o amor com um beijo
De receios se encheu o coração,
No lavar daquela recordação
Imagem miraculosa do beijo
Como um chapéu de sol rodopiante,
Um desmaio sem jeito,
Tenção matizada d´amor
Ao que de si, bela é a cor,
Era assim a rapariguinha.
Cartas desbotadas
Cartas desbotadas, quase desfeitas
Como aguarela em tons desvanecidos
Fragmentos dum doloroso mistério
Escritas num tempo em que não se lia,
Sobre as folhas mortas da tília,
Jazem em culto, num resquício de vida
Como beijos inda ardentes, sufocados
Por dor e agonia do que não foi tingido de cores,
Que o vento desfez perfidamente…
A jovem no declinar das tardes,
Na contemplação do Existir,
Pressentia o deixado perverso,
Ante uma perfeita Natureza,
No sentido poético do verso…
Ouvia uma voz cansada e rouca,
Que chamava…, onde estaria o sentimento?
E a boca?
Descansa em paz, mãe,
Sê uma das aves que deambulam nos céus,
Que a todas eu amo…
Na primavera renascerão as folhas na tília
E no inverno voltarão a morrer…
As tardes bucólicas serão o meu verbo
Os campos florescerão até que volte o outono
Com a beleza das suas cores.
Ofélia Cabaço
Junho 2020