Quem é o Vasco Costa? Fale-nos um pouco do seu percurso
Tenho 31 anos, sou designer e ilustrador. Tirei a minha licenciatura em Design Gráfico no IADE e em 2008 fui para Barcelona frequentar o Mestrado em Design, Estratégias de Comunicação e Publicidade na Elisava. O meu interesse pela ilustração e pintura mural vem desde os tempos da adolescência, mas foi Barcelona que me fez despertar a vontade de desenvolver projectos nesta área por ser uma cidade culturalmente muito rica, principalmente no que diz respeito à arte e ao design. A oferta é enorme e inspirou-me a voltar para Portugal e desenvolver novas propostas
Como definiria a sua arte?
Não me considero um Street Artist, o meu trabalho insere-se mais no campo da ilustração e o que proponho com o meu trabalho é a transposição da ilustração para a escala urbana, adaptando o projecto do papel para a parede. Considero o meu estilo limpo, cor plana e linhas simples, num traço quase “infantil” ou “naif”. Gosto de interpretar principalmente objectos através de cores fortes e apelativas.
Tem uma preocupação estética particular, ou a sua arte é disruptiva?
Tenho uma preocupação estética e tento sempre manter a minha linha gráfica ao longo dos projectos. É uma forma de me destacar dos restantes artistas e de me dar a conhecer através do meu estilo. No fundo estou a criar uma marca.
Mas muitas vezes trabalho em parceria com outros artistas, e isso é um grande desafio porque temos de adaptar a nossa linguagem de modo a que o projecto funcione como um todo. O mais importante é a coerência no resultado final.
Há um fim de crítica social, associado à suburbanidade, bem como algum código de conduta nesse tipo de expressão artística?
Como na maioria das artes, no graffiti também há uma crítica social subjacente e alguns princípios que devem ser respeitados entre writters. O meu trabalho está mais ligado a fins sociais. Intervenho em zonas degradadas com o intuito de reabilita-las para que as pessoas voltem a utilizar o espaço urbano. Por este motivo, opto por transmitir mensagens positivas e recorrer a paletes cromáticas em tons pastel que são por si mais alegres.
Quais foram os trabalhos que até agora mais gostou de realizar?
Trabalho muitas vezes com escolas o que me permite acompanhar o processo criativo das crianças desde a folha branca até transformar o desenho num projecto real na parede. É um trabalho conjunto e surgem propostas realmente surpreendentes.
Em relação a murais posso destacar o projecto que fiz para o Parque Infantil de Rio-de-Mouro e a recuperação de uma passagem pedonal nas Mercês. São projectos sociais e que me dão um prazer enorme porque estou a trabalhar e a receber directamente o feedback das pessoas que ali vivem e frequentam os espaços. Eles querem fazer parte do projecto, participar e ajudar. Não há nada mais recompensador.
Quais são os artistas que mais admira?
Gosto particularmente do trabalho desenvolvido pelo Sainer e Mattias Adolfsson. Porém com a facilidade de acesso a informação através das redes sociais, todos os dias sou surpreendido por novos artistas com trabalhos incríveis.
Que obra ou obras gostaria de concretizar. Tem algum projecto relevante que possa ser identificado como a sua imagem de marca?
Gostava de dia pintar a fachada de um prédio, que é um desafio técnico enorme pela escala.
Como imagem de marca destaco o projecto que desenvolvi no Parque Infantil de Rio-de-Mouro e o trabalho em pequena escala que faço no projecto “Galinheiro”. Este projecto tem como objectivo a interpretação de figuras e elementos típicos portugueses no Galo de Barcelos, através da ilustração
A arte urbana é uma causa, uma arte, um grito de rebeldes sem causa ou uma nova abordagem do espaço público?
Na minha opinião a arte urbana está mais ligada ao conceito de arte mas há uma relação inequívoca com o espaço publico e a forma como o vivemos. As ruas das cidades são agora galerias de arte a que todas as pessoas podem ter acesso. Hoje em dia a arte urbana é cada vez mais abrangente e aquilo a que há uns anos era considerado apenas para o graffiti, agora já se estende à pintura mural desenvolvida essencialmente por designers e ilustradores e até mesmo com novas propostas técnicas como é o caso do Vhils. Acho que há espaço para tudo e para todos e isso é o mais interessante desta nova perspectiva da arte urbana, a diversidade.
O espaço urbano deve ser intrusivo ou deixado a consensos decididos em conselhos especializados?
O espaço urbano deve ser decidido por especialistas, essa é a sua função. Melhor ainda se chamarem a conselho artistas urbanos. Em conjunto fazemos todos um trabalho melhor e respondemos às expectativas da população.