Rosa Borges Jacinto: “O Fado requer uma aprendizagem constante”

Rosa Borges Jacinto é sintrense, e é também uma jovem fadista, que também nos deu o seu testemunho sobre o “estado da arte” em geral.

A Rosa dedica-se a uma arte tipicamente portuguesa, o fado. Como chegou até lá?

O Fado esteve sempre presente na minha vida. Com familiares ligados à Música (executantes de instrumentos), foi pela mão do meu Pai que cheguei ao Fado, gostava de cantar e deu-me a conhecer alguns locais onde o Fado acontecia. A raiz estava lá…e foi assim que tudo começou.

Como classificaria o Fado enquanto Arte?

Uma das mais importantes formas de Arte. Património Imaterial da Humanidade. Para mim uma referência identitária de valor inquestionável.

Representa Portugal!

Acha que o Fado está em risco de se perder ou adulterar enquanto forma musical autêntica?

Julgo que o Fado não se perderá. Existem muitos jovens fadistas que certamente lhe darão continuidade. Adulterar-se acho possível.

Existem já alguns fadistas a trazerem inovações a nível de instrumentos, como por exemplo, bateria. Pessoalmente percebo, mas não me atrai de todo. O Fado é acompanhado tradicionalmente pela guitarra Portuguesa, viola de fado, viola baixo.

Tal como o uso do Xaile pela Fadista tem vindo a perder-se. Gosto de tradições e sobretudo de as manter.

Quem são os seus artistas e fados de referência?

A minha maior referência feminina é Amália Rodrigues, que tive o imenso privilégio de conhecer e ser recebida na sua casa. Conceição Ribeiro e Maria da Nazaré, também fazem parte das minhas referências. Fadistas masculinos: Fernando Maurício e Vítor Miranda. Quanto aos fados, os tradicionais são os que mais me fascinam.

Assinala-se este ano o centenário de Amália Rodrigues. Que inspiração levou ela a muitos dos fadistas da nova vaga?

Como em todas as Artes, há ícones que são incontornáveis e desde sempre, Amália Rodrigues, não só pela arte musical, mas também poética (muitos dos fados que cantou são letras de sua autoria) é uma referência obrigatória da Cultura e da nossa História. É a maior referência para a maioria dos fadistas.

Como vê a situação da música em Portugal? Como será a situação dos artistas num mundo pós pandemia?

A situação é preocupante. Muito preocupante. O “Arco-íris dos artistas “apresenta cores negras. A frase que ficou célebre “Vamos ficar todos bem”, não me parece real, pelo menos num futuro próximo. A realidade é grave e complicada. Há artistas que neste momento têm uma só preocupação: Sobreviver.

Quais as suas ligações a Sintra? Há fadistas de referência em Sintra?

Sou Sintrense com muito orgulho. Nasci no velhinho e já extinto Hospital de Sintra. Pela mão do Dr. Silva Carvalho, e das suas assistentes. Enfermeiras: Leontina, Antónia e Maria José. Sempre vivi no concelho, na localidade de Magoito, de onde é oriunda toda a minha família paterna.

A minha referência Fadista com ligações a Sintra é Maria Teresa de Noronha. Conheci-a na sua casa de São Pedro de Penaferrim, onde faleceu em julho de 1993.

Qual a sua agenda para os tempos mais próximos? E projetos para o futuro?

Neste momento de pandemia, felizmente a minha agenda tem alguma atividade. Não tão forte como anteriormente. Trabalho sobretudo com hotéis, em eventos privados. Os projetos profissionais estão em constante movimento. Tentar fazer mais, aprender mais principalmente com os mais velhos. O Fado requer muito trabalho, e uma aprendizagem constante.

Um desejo pessoal ainda por cumprir

O desejo pessoal, ainda por cumprir, passa também por ser profissional. É a concretização do projeto-CD em fase de preparação. O  primeiro da minha carreira.

Entrevista de Fernando Morais Gomes

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